Banalização do diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é apontada como principal causa
Usada para aumentar a concentração em crianças e jovens diagnosticados com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), a ritalina vem sendo cada vez mais prescrita e seu uso, banalizado. A avaliação é do pediatra Dr. Saul Cypel, membro do departamento Científico de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que apontou a banalização do diagnóstico do TDAH como a causa principal.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 4% dos adultos e de 5% a 8 % de crianças e adolescentes de todo o mundo sofrem de TDAH. Os números, no entanto, são questionados pelo especialista:
— Os critérios para os diagnósticos se baseiam em um questionário recomendado pela Associação Americana de Psiquiatria cujas questões nem sempre têm a ver com dificuldade de atenção.
Conhecida como a “droga da obediência”, a ritalina é um metilfenidato que aumenta a concentração do neurotransmissor dopamina no cérebro e isso interfere no mecanismo de atenção do indivíduo. Muitos profissionais que prescrevem o remédio entendem que crianças com esse tipo de comportamento carregam um defeito genético que faz com que as concentrações de dopamina estejam mais baixas. Atualmente, o Brasil é o segundo maior consumidor da droga, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Para Cypel, no entanto, a “falta de atenção” dessas crianças é tão questionável quanto a prescrição do medicamento:
— Essas crianças têm dificuldade e atenção baixa para situações que envolvem algum tipo de complexidade ou nas quais tenham de mostrar mais autonomia. Mas em outras situações, como quando estão no Messenger e diversas janelas abertas no computador, isso não acontece. Isso faz questionarmos os níveis de dopamina baixos, já que essa criança deveria ter pouca concentração para tudo. Só ter atenção para o que lhe dá prazer é um pouco paradoxal.
Segundo ele, muitas crianças que apresentam esse tipo de comportamento não o fazem por uma alteração no desenvolvimento ou por problemas genéticos, mas sim por problemas em lidar com regras, limites e, principalmente, frustrações. "Seus pais não promoveram esse tipo de aprendizado. São crianças que acham que podem tudo na hora em que querem”, observou ao ressaltar a que essas crianças crescem com grande inteligência, mas estrutura emocional imatura.
Como possuem um efeito semelhante ao das anfetaminas, a ritalina é um estimulante que causa sensação de bem-estar e tranquilidade, mas pode também levar à diminuição do apetite, além de insônia e problemas de crescimento nas crianças, de acordo com o especialista. A bula do medicamento alerta ainda para a dependência física ou psíquica, além de nervosismo, dor de cabeça, palpitações, boca seca e alterações cutâneas.
Vendida no mercado negro sem receita, o medicamento que ajuda a espantar o sono é usado ainda por jovens que precisam virar a noite estudando ou mesmo em baladas.
— É preciso um esclarecimento à população sobre o que é, assim como qualquer outro remédio que gera esse tipo de reação. Igualmente a outras drogas, como cocaína e ecstasy, a ritalina também influi no funcionamento do sistema nervoso.
Fonte R7
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