Ruídos de apito, panela de pressão e insetos, como abelha, gafanhoto e mosquito, estão entre os barulhos descritos por pessoas que sofrem com zumbido no ouvido.
No silêncio, o ruído, originado dentro do corpo e percebido na cabeça ou nos ouvidos, fica ainda mais ‘alto’. “Na realidade, mesmo quando não existe modulação de volume do zumbido, o que muda é a percepção do paciente. Ou seja, quanto mais ele dá atenção ao ruído, principalmente em situações de estresse e ambientes silenciosos, maior é a sua percepção”, explica a otorrinolaringologista Rita de Cássia Cassou Guimarães.
O sintoma é causado por mais de 200 fatores e afeta pelo menos 278 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, cerca de 30 milhões de indivíduos – 17% da população – têm zumbido. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os idosos são os mais afetados pelo problema. “A perda de audição é a principal causa de zumbido. A deficiência auditiva, nos seus mais variados níveis, é provocada especialmente pela exposição a ruídos intensos e pelo envelhecimento. Por isso, é a terceira idade é a fase em que o zumbido mais se manifesta”, destaca.
O ‘tinnitus’, como é chamado em inglês, persiste durante o dia e a noite e afeta de maneiras diferentes a qualidade de vida dos pacientes. Cerca de 15% das pessoas com zumbido sentem algum incômodo por causa do sintoma e 5% têm a sua vida profissional e social comprometida. “Qualquer tipo de zumbido pode ser tratado. O paciente deve procurar um otorrinolaringologista para dar início à investigação que irá determinar as causas do sintoma. Em muitos casos é necessária a intervenção de outros profissionais, o que chamamos de equipe interdisciplinar”, afirma a médica, especialista em otoneurologia.
O tratamento do ruído depende dos fatores que o desencadearam e pode exigir várias etapas e estratégias, já que há a possibilidade de existir mais de uma causa em um mesmo paciente. A otorrinolaringologista ressalta que a terapia sonora baseada no treinamento das vias auditivas para minimizar e até eliminar a percepção do zumbido no cérebro é um dos métodos indicados. “A terapia consiste em orientar o paciente sobre o sintoma, desfazendo qualquer mito sobre o ruído, e promover o enriquecimento sonoro, porém, sem mascarar o ruído”, aponta.
A terapia sonora pode ser realizada de várias formas. As mais comuns são a Terapia de Retreinamento do Zumbido, em inglês Tinnitus Retraining Therapy (TRT), proposta pelo neurocientista polonês Pawel Jastreboff na década de 90, e a Terapia Neuromonics. “A TRT utiliza geradores de som colocados nas duas orelhas que emitem ruído branco, barulho semelhante a um chiado. O som é regulado em um volume mais baixo do que o zumbido e deve permanecer nos ouvidos durante oito horas por dia. O paciente se habitua as reações e a percepção do zumbido após aproximadamente 18 meses de tratamento”, esclarece.
A Terapia Neuromonics é uma forma de estimulação sonora, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que surgiu a partir da TRT e que utiliza um aparelho chamado de Oasis, da Neuromonics. “Ela foi desenvolvida pelo pesquisador Paul Davis, da Universidade Western Australia, na Austrália. A Terapia Neuromonics segue os mesmos princípios da TRT, mas faz a estimulação sonora com música por meio de fones de ouvido. Os estímulos são determinados de acordo com o perfil de audição dos dois ouvidos para que todas as áreas da cóclea sejam estimuladas o tempo todo”, observa.
O paciente recebe um cartão de memória personalizado conforme seu perfil auditivo e é orientado a usar o aparelho de duas a quatro horas por dia. O tratamento dura oito meses e é possível fazer um teste durante 30 dias para analisar as mudanças iniciais que a terapia promoveu no caso indicado. “Os primeiros efeitos da Terapia Neuromonics são melhora do sono, sensação de relaxamento, maior controle sobre o zumbido e redução do desconforto e incômodo do ruído. A terapia ainda reduz a hipersensibilidade auditiva, alteração muito frequente nos pacientes com zumbido”, enfatiza.
Fonte Corposaun
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