Pesquisa, que integra amplo projeto do governo americano, identificou pelo
menos 40 alterações genéticas que podem ser atacadas por medicamentos
NOVA YORK - Um estudo publicado neste domingo, 23, no site da revista
Nature reclassifica o câncer de mama em quatro classes principais.
Dentro da nova classificação, os pesquisadores encontraram mutações genéticas
que podem aproximar o câncer de mama com outros tipos de câncer, como o de
ovário. O achado revela uma nova maneira de ver o câncer, que pode passar a ser
definido não apenas pelo órgão que ele afeta.
Essas descobertas deverão levar a novos tratamentos com drogas já aprovadas
para os casos de câncer em outras partes do corpo, além de novos tratamentos
mais precisos no combate a anomalias genéticas que hoje não têm tratamento.
O estudo é a primeira análise genética ampla do câncer de mama, que mata 35
mil mulheres ao ano nos Estados Unidos e cerca de 12 mil no Brasil. "É a
indicação do caminho para uma cura do câncer no futuro", disse Matthew Ellis, da
Universidade de Washington, um dos envolvidos na pesquisa.
A pesquisa é parte de um amplo projeto federal americano, o Atlas do Genoma
do Câncer, destinado a criar mapas de mudanças genéticas em cânceres comuns. O
levantamento sobre o câncer de mama foi baseado numa análise de tumores em 825
pacientes.
A investigação identificou pelo menos 40 alterações genéticas que podem ser
atacadas por medicamentos. Muitos já foram desenvolvidos para outros tipos de
câncer que têm as mesmas mutações. "Nós agora temos uma boa perspectiva do que
está errado no câncer de mama", disse Joe Gray, especialista em genética na
Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, que não participou do estudo.
A nova classificação divide o câncer de mama nas seguintes classes: HER2
amplificado, Luminal A, Luminal B e basal. Essa divisão foi feita com base em
dados antes não disponíveis, que identificaram novos caminhos de atuação do
tumor, possibilitando aos pesquisadores novos alvos para combater a doença.
A maior surpresa do estudo envolveu um tipo de câncer atualmente conhecido
como triplo negativo, mais frequente em mulheres mais jovens, em negras e em
mulheres com genes cancerígenos BRCA1 e BRCA2. Segundo os pesquisadores, os
distúrbios genéticos tornam esse tipo de câncer mais similar ao do ovário do que
outros cânceres de mama. Suas células também se assemelham às células escamosas
do câncer de pulmão.
O estudo dá uma razão biológica para se tentar os tratamentos de rotina para
câncer de ovário neste tipo de câncer de mama. E uma classe comum de drogas
usadas no câncer de mama, das antraciclinas, podem ser descartadas, já que não
ajudaram muito no câncer ovariano.
Fonte Estadão
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