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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

EUA mudam orientações sobre a pílula do dia seguinte a adolescentes

Mudança foi motivada por pesquisas que mostraram que o acesso ao medicamento não aumentava a propensão a fazer sexo sem proteção
 
Quando uma adolescente faz um check-up, o pediatra geralmente pede aos pais que saiam da sala para ele poder conversar em particular com a jovem sobre assuntos delicados. É o momento para perguntar, por exemplo, se ela está usando drogas ou se é sexualmente ativa.
 
Agora, numa iniciativa polêmica, a organização pediátrica mais importante dos Estados Unidos está incentivando os médicos a também conversarem com as adolescentes sobre a pílula do dia seguinte – e prescreverem os contraceptivos de emergência caso elas precisem.
 
Anunciada na semana passada pela Academia Americana de Pediatria, a recomendação é a ação mais recente em um debate controverso sobre o acesso à contracepção de emergência. Desde que o FDA (órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos Estados Unidos) aprovou o levonorgestrel (a pílula do dia seguinte), os que defendem seu uso têm se esforçado para torná-lo mais acessível.
 
Diversas associações médicas, inclusive as que representam ginecologistas e pediatras, apoiam a venda desses contraceptivos sem receita médica, uma vez que, para fazerem efeito, eles precisam ser tomados até cinco dias após o sexo desprotegido. O levonorgestrel começou a ser vendido sem receita médica para mulheres com mais de 18 anos em 2006. Em 2009, após uma disputa judicial, a idade mínima passou a ser 17 anos.
 
A revisão de políticas da academia foi motivada, em parte, por novas pesquisas que demonstraram que as jovens que receberam receitas médicas para o medicamento como precaução estavam mais propensas a usá-lo em tempo hábil após o sexo desprotegido que aquelas que não tinham receita.
 
“Quando uma adolescente chega à clínica, é preciso conversar com ela sobre atividade sexual, mesmo que esse não seja necessariamente o motivo da visita”, diz Cora Breuner, pediatra e membro da comissão de adolescência da organização.
 
“A contracepção de emergência não é suficientemente conhecida e isso inclui mulheres na faixa dos 30 e 40 anos.”
 
Por exemplo, um estudo recente sobre estudantes universitários descobriu que apenas 16% sabiam que os centros médicos da universidade distribuíam contraceptivos de emergência.
 
Na realidade, os adolescentes americanos têm adiado sua vida sexual em comparação com alguns anos atrás. A idade média do início da atividade sexual é 17 anos. Aos 19 anos, aproximadamente 70% dos adolescentes são sexualmente ativos. Mas, embora as taxas de gravidez entre adolescentes tenham diminuído nos últimos 50 anos, o índice de natalidade entre as adolescentes americanas é um dos mais altos do mundo desenvolvido, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
 
Muitas adolescentes usam camisinha para controle de natalidade, que protege contra doenças sexualmente transmissíveis, mas ela pode se romper ou deslizar. A adolescente pode se esquecer de tomar a pílula anticoncepcional vez ou outra e um número significativo de jovens são estupradas.
 
Apenas no mês passado o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas também recomendou a disponibilização de anticoncepcionais sem receita médica. Ele sancionou recentemente o uso de métodos de controle de natalidade reversíveis de longa duração por adolescentes, como dispositivos intrauterinos e implantes. Em alguns estados, é necessária a autorização dos pais para que o médico possa prescrever anticoncepcionais para menores de idade.
 
Os contraceptivos de emergência evitam a fertilização do óvulo por meio do atraso ou da inibição da ovulação e tornando o muco cervical mais espesso, o que impede a passagem dos espermatozoides. Embora alguns críticos tenham sugerido que elas sejam abortivas, essas pílulas e seu modo de ação são, na realidade, diferentes dos de uma pílula abortiva.
 
Curiosamente, porém, nenhum estudo descobriu taxas de gravidez significativamente mais baixas entre as jovens que receberam prescrições médicas para o contraceptivo de emergência como precaução.
 
Alguns estudos talvez fossem pequenos demais para detectar uma redução estatisticamente significativa, afirma Catherine L. Haggerty, professora adjunta de epidemiologia reprodutiva da Universidade de Pittsburgh e uma das autoras da análise recente da literatura. Um estudo de 2006 descobriu que, mesmo que possuam contraceptivos de emergência à mão, muitas jovens não os utilizam.
 
É possível que a contracepção de emergência também seja menos eficiente do que se pensa, de acordo com uma revisão atualizada de estudos publicada no ano passado. Os pesquisadores geralmente precisam que as participantes do estudo avaliem o risco de gravidez no dia em que fizeram sexo desprotegido, mas muitas não controlam o ciclo menstrual, o que altera os resultados, observou a análise.
 
Os contraceptivos de levonorgestrel são eficientes em ao menos metade das vezes em que são utilizados, de acordo com a análise. Contudo, alguns estudos descobriram que os medicamentos são tão eficazes se tomados de 2 a 4 dias depois do sexo desprotegido quanto se tomados na manhã seguinte.
 
As objeções ao aumento de sua disponibilidade provêm de diversos grupos. Os defensores da educação sexual pró-abstinência afirmam que os médicos devem incentivar os adolescentes a retardar o início da vida sexual.
 
“Por que não elaborar uma lei que incentive os médicos a usar sua influência para orientar os adolescentes a evitar todos os riscos relacionados ao sexo?”, sustenta Valerie Huber, presidente da Associação Nacional de Educação para a Abstinência.
 
John B. Jemmott III, professor da Universidade da Pensilvânia que desenvolveu um programa de educação sexual pró-abstinência, sustenta: “O problema é que essa ação não faz nada em relação às doenças sexualmente transmissíveis e ao HIV”. Se os adolescentes fizerem sexo, “queremos que usem camisinha”.
 
Os pesquisadores descobriram que o fato de possuir uma prescrição médica para o contraceptivo de emergência não faz com que as jovens passem a ter um comportamento sexual mais arriscado. Mas muitos desses estudos não incluem muitas garotas menores de 18 anos.
 
Dois estudos que incluíram garotas mais jovens – um relatório de 2000, que incluiu muitas adolescentes de alto risco de São Francisco, e um estudo de 2005 de mães adolescentes – descobriram que as que receberam prescrições médicas como precaução afirmaram terem sido mais negligentes em relação ao controle de natalidade e mais propensas a terem feito sexo sem proteção.
 
Elizabeth Miller, do Hospital Infantil de Pittsburgh do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, admite que fornece prescrições médicas como precaução regularmente, mas fica atenta às pistas que recebe da paciente, não pressionando-as a aceitá-las. Ela lembra que cuidou recentemente de uma garota de 16 anos, que afirmou que planejava ter relações sexuais após o casamento, mas estava confusa em relação a um começo de desejo sexual.
 
“Tivemos uma conversa maravilhosa sobre o início da libido, a masturbação e o orgasmo, e eu apoiei totalmente seu desejo de esperar para ter intimidade com alguém após o casamento”, lembra Miller.
 
Ao mesmo tempo, ela salienta que a pílula do dia seguinte também pode ser usada quando há falha de outro método ou após um estupro. Para aqueles que se preocupam, acreditando que conversar com jovens sobre sexo e contracepção seja o mesmo que aceitar a atividade sexual, os defensores dessa ação afirmam que pesquisas mostram o oposto.
 
“Informações de qualidade têm um efeito que é, na realidade, protetor”, acredita Sarah Brown, da Campanha Nacional de Prevenção da Gravidez Não Planejada na Adolescência, iniciativa sem fins lucrativos.
 
“Aprendemos com as pesquisas de boa qualidade que conversar sobre esses assuntos ajuda os jovens a se planejar, entender o ocorre e saber o que fazer quando for necessário.”

Fonte iG

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