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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Criação de espaço para consumo de drogas na França causa polêmica

'Sala de shoot' tem como objetivo fazer com que
consumo de drogas seja feito em boas condições
de higiene e sob supervisão
Medida do governo de François Hollande para permitir maior controle sobre condições de uso de entorpecentes divide opiniões
 
A decisão do governo francês de criar um espaço em que viciados possam consumir drogas está provocando grande polêmica no país e enfrenta críticas de autoridades médicas. O primeiro espaço para consumo de drogas, ou "sala de shoot", como é chamada no país, promessa de campanha do presidente François Hollande, será aberto em Paris neste semestre, segundo o governo.
 
Ele será inaugurado nas proximidades da estação de trem Gare du Nord, de onde parte e chega o Eurostar, que liga Paris a Londres, no 10° distrito de Paris. O local acolherá usuários de heroína, crack e cocaína, que trarão suas drogas ao local e poderão utilizá-las sem fornecer sua verdadeira identidade.
 
O objetivo é que as drogas possam ser consumidas em boas condições de higiene e sob a supervisão de funcionários de saúde, evitando novos casos de aids ou de hepatite C e overdoses.
 
Alguns especialistas ressaltam que o fato de existir supervisão médica no momento do consumo da droga pode incitar usuários a utilizar quantidades maiores e aumenta os riscos de overdose.
 
Controvérsia
O socialista Rémi Féraud, prefeito do 10º distrito, foi a única autoridade de bairro na capital a se candidatar para a abertura do local. Viciados em drogas, sobretudo injetáveis, costumam circular nos arredores da Gare du Nord e de outra estação de trem, a Gare de l’Est, nas proximidades.
 
Segundo o prefeito, são "centenas de toxicômanos que vagam pelas ruas" nesses locais. Para Féraud, o sinal verde dado pelo governo para a criação de um local de consumo de drogas "com riscos menores e enquadramento médico é uma excelente notícia".
 
Mas muitos não compartilham do entusiasmo do prefeito. A Academia Nacional de Medicina da França, que tem como função responder a questões do governo na área de saúde pública, divulgou um comunicado reiterando sua oposição à criação de salas de consumo de drogas.
 
Para a Academia de Medicina, a iniciativa pode contribuir para manter o vício do toxicômano em vez de tratar o problema da dependência química. "A França já possui estruturas para viciados facilmente acessíveis e que fornecem tratamentos de substituição à heroína, com a utilização da metadona", afirma a entidade.
 
Essas estruturas já existentes oferecem também acompanhamento psicológico e social para os viciados inscritos. "A medicina deve tratar e não manter as doenças. Os resultados de experiências de consumo livre de drogas em salas desse tipo em outros países não permitem tirar conclusões médicas positivas", afirma o psiquiatra Jean-Pierre Olié e membro da Academia de Medicina da França.
 
Críticas e exemplos internacionais
Segundo ele, experiências desse tipo em países como a Suíça, Holanda, Alemanha ou Canadá, não resultaram no aumento nem na diminuição do número de viciados, e também não levaram a um aumento no número de inscrições em programas de desintoxicação. A Suíça foi pioneira, em meados dos anos 80, na criação de locais de consumo livre de drogas.
 
Olié afirma ainda que a falta de uma análise mais técnica e aprofundada das drogas utilizadas no local não permitirá verificar a natureza dos produtos injetados. Partidos da oposição de direita também criticam a "sala de shoot" em Paris, afirmando que isso "vai encorajar e banalizar o consumo de drogas e garantir assistência ao envenenamento das pessoas".
 
Uma pesquisa do Instituto Ifop revela que a maioria dos franceses é contrária às salas de consumo de drogas. Associações de moradores e de lojistas do 10° distrito de Paris também criticam a abertura da "sala de shoot" no bairro. Eles temem que o local acabe agravando o problema do tráfico e do consumo de drogas que já existe na região.
 
Diante de tantas críticas, a ministra da Saúde, Marisol Touraine, disse que o governo terá "tolerância zero" em relação ao tráfico. "Trata-se de acompanhar os viciados e fazer com que eles encontrem profissionais de saúde e possam sair da dependência", defende a ministra.
 
Fonte iG

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