“A TI na saúde clínica caminha lentamente uma vez que os sistemas ainda não têm um viés verdadeiramente eletrônico, de forma a permitir uma visão independente e extemporânea no controle da informação médica”
Na verdade, existe um movimento nos países desenvolvidos, principalmente nos europeus, onde o paciente é o centro da atenção, e o médico passa a dividir, com os outros profissionais de saúde, a responsabilidade da atenção e da assistência a sua saúde. Uma visão mais realista e consoante com os sistemas de saúde (http://www.economist.com/node/21556228), principalmente nos países em desenvolvimento, aponta para o problema da demanda por cuidados de saúde ser maior que a oferta de médicos, e para o uso da tecnologia da informação como vetor de reversão da desproporcional razão médico/paciente, que no Brasil é de 18 médicos por 10.000 pacientes. A telemedicina desponta como propulsora dessa transformação por meio de diagnóstico e ensino à distância e cirurgias robóticas.
Esta mudança de paradigma, quando anteriormente, o médico era onipresente, onipotente e onisciente, foi mediada através da influência da TI nos processos de gestão do paciente, seja assistencial ou no uso dos recursos propedêuticos. A TI assumiu um papel fundamental no desenvolvimento de equipamentos médicos e na pesquisa da ciência básica e acadêmica, permitindo uma evolução exponencial da qualidade de atenção ao paciente. No entanto, o avanço da TI na saúde clínica caminha lentamente uma vez que os sistemas de informação médica, muito dependente dos sistemas legados, ainda não assumiram um viés verdadeiramente eletrônico, de forma a permitir uma visão independente e extemporânea no controle da informação médica.
Com o advento da tecnologia da informação na saúde, essa visão, antes estreita, se alargou. O médico visto como um “fornecedor de requisitos” torna importante a sua presença, permitindo uma maior colaboração, através do compartilhamento do conhecimento junto à comunidade.
A TI sempre foi e sempre será uma ferramenta de apoio. Ela permite ao médico melhorar a qualidade da assistência ao paciente, oferecendo acesso rápido a informações importantes para decisão médica. O diagnóstico clínico requer um sofisticado e intrínseco processo de representação do conhecimento adquirido ao longo de um aprendizado constante e contínuo, se retro-alimentando “ad-nauseum”. O médico desenvolve, ao longo de sua carreira, uma série de “processos mentais” (manias, rotinas, etc) baseados no conceito empírico iluminista do “ni toujour, ni jamais”, e buscando “short-cuts” para uma tomada de decisão. Por vezes, ele faz diagnóstico só por um “padrão”(jeitão) do paciente. Como traduzir um processo mental (que, em segundos, só pelo olhar, pode inferir com alguma certeza um diagnóstico) para dentro do formalismo computacional da linguagem binária?
A tradução da representação do conhecimento médico em um formalismo computacional binário é precária e os sistemas “modernos”, centrados no paciente, não refletem adequadamente a presença e a importância do médico, quiçá sua substituição. Numa visão mais realística, por mais avançado que seja o sistema de saúde, este processo seria altamente elitista e com resultados conflitantes, prenhe de “falsos positivos”, piorando a qualidade da assistência médica e com um aumento considerável no risco de sobrevida do paciente. Esses sistemas, mesmo contando com a participação do médico, tendem ao fracasso, uma vez que não consideram os processos ambíguos e divergentes na eliminação das variáveis pertinentes a representação do conhecimento médico. A simples tentativa de mimetizar este conhecimento, precisa oferecer um mínimo de qualidade nos mesmos moldes de precisão e de velocidade na aquisição do conhecimento por um médico.
O artigo de Eric Topol, que advoga um slogan retórico que contrasta com o modelo “centrado no médico”, resvala nesta questão do diagnóstico clínico, enfocando o uso de dispositivos auxiliares na avaliação funcional dos órgãos com inferências decorrentes de algoritmos bem elaborados, mas isentos de uma visão “humana” do quadro clínico e da visão holística do paciente com um “ser” e não como uma “doença” ou “morbidade” a ser descoberta.
*Dr. Marivan Santiago Abrahão:
-Médico – Clinica Geral e Nefrologia.
- Membro do Corpo Clínico do Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês, Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
- Graduação em Medicina pela UFF – Universidade Federal Fluminense, RJ
- Especialista em Nefrologia e Clínica Médica pela PUC-RJ e Santa Casa de Misericórdia – RJ
- Especialista em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
- Consultor em Gestão de Sistemas de Informação e de Informática em Saúde
- Membro Titular da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
- Diretor Presidente do Instituto HL7 Brasil de Padrões em Informática em Saúde.
- Representante do Brasil no Comitê Internacional do HL7
- Professor de Pós-Graduação em Informática em Saúde do NIEn – UNIFESP
- Diretor Presidente da Avesta – Consultoria em Informação e Informática em Saúde
-Médico – Clinica Geral e Nefrologia.
- Membro do Corpo Clínico do Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês, Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
- Graduação em Medicina pela UFF – Universidade Federal Fluminense, RJ
- Especialista em Nefrologia e Clínica Médica pela PUC-RJ e Santa Casa de Misericórdia – RJ
- Especialista em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
- Consultor em Gestão de Sistemas de Informação e de Informática em Saúde
- Membro Titular da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
- Diretor Presidente do Instituto HL7 Brasil de Padrões em Informática em Saúde.
- Representante do Brasil no Comitê Internacional do HL7
- Professor de Pós-Graduação em Informática em Saúde do NIEn – UNIFESP
- Diretor Presidente da Avesta – Consultoria em Informação e Informática em Saúde
Fonte Saudeweb
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