Alexandre Carvalho/ Fotoarena
O engenheiro Aron Andrade foi idealizador do coração
artificial 'made in brasil'
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Na fila por um transplante de coração, 211 doentes brasileiros aguardam por um doador compatível, única chance de sobrevivência para quem convive com graves problemas cardíacos.
Dentro do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, de São Paulo, uma das referências nacionais no atendimento, um coração artificial desenvolvido com técnicas genuinamente brasileiras também está em compasso de espera.
A prótese – elaborada pelo engenheiro Aron Andrade – é movida a bateria, substitui os batimentos cardíacos feitos pelo coração doente e bombeia o sangue para o organismo de maneira artificial. Por meio de dois tubos com entradas de titânio, a máquina é ligada ao órgão de verdade e também à artéria aorta, ficando alojada logo acima do diafragma.
A invenção pode ser uma esperança na briga contra o tempo que marca o transplante cardíaco. O problema é que, para ser produzido em larga escala e fornecido aos pacientes, o coração artificial precisa ser testado em 10 pacientes, conforme a exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) feita no início do ano.
“Este doente ideal, que precisa estar mal o suficiente para ser enquadrado na fila de transplante, mas não tão doente a ponto da cirurgia para a colocação do coração artificial representar um risco adicional. Esse candidato, infelizmente, ainda não apareceu”, afirma Aron Andrade.
“Estamos, 24 horas por dia, esperando por ele”, conta o engenheiro que começou o projeto de pesquisa há 15 anos.
Made in Brazil
Corações artificiais já são realidades para a medicina desde o os anos 1990. Até hoje, os principais produtores são a Alemanha e os Estados Unidos. Os dos países já exportam os protótipos ao Brasil.
Alexandre Carvalho/ Fotoarena
Coração artificial desenvolvido no Brasil espera paciente ideal para testes
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A primeira operação do tipo foi realizada pela equipe do Instituto do Coração de São Paulo (Incor).
Em fevereiro de 1993, o mecânico Dorvílio Alves Madeira, na época com 30 anos e em fase terminal de doença de Chagas, foi o primeiro paciente da América Latina a receber um ventrículo artificial. Ele foi usado por 20 dias, até o doador compatível surgir.
Vinte anos após o paciente Dorvílio – que está muito bem de saúde e participou das comemorações de duas décadas do feito – outros pacientes foram beneficiados pela técnica, ganhando sopros de esperança até a realização do transplante.
No próprio Incor, outros quatro pacientes foram contemplados, estima o diretor da cardiologia da unidade, Roberto Kalil. No Hospital Sírio Libanês, também dirigido por Kalil, o primeiro paciente recebeu ajuda mecânica para sobreviver no início de fevereiro deste ano.
“É muito louco você ver o principal órgão do seu corpo ser substituído por uma máquina. Ainda estou assimilando”, disse o paciente, de 41 anos, que pediu para ter a identidade preservada.
“No Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, foram cerca de 20 pessoas beneficiadas no período”, informou o cirurgião cardíaco da instituição, Alexandre Sciliano.
Em todos os casos, ou o coração artificial é importado ou, quando são utilizadas técnicas desenvolvida no Brasil, a prótese mecânica apenas faz às vezes de um ventrículo (câmara cuja função é bombear sangue para a circulação sanguínea).
Estão concentrados nestes pontos os diferenciais do coração artificial ‘made in Brazil’. O engenheiro Aron afirma que é a prótese do Dante que é "a primeira do mundo capaz de substituir os dois ventrículos". Além disso, a produção brasileira projeta custos mais baratos (R$ 90 mil reais é o valor médio do protótipo nacional contra R$ 300 mil da prótese internacional), mesmo tendo função dupla.
60% não resistem
Independentemente da origem do coração artificial, a principal função do mecanismo é reverter a estatística mapeada pelo Instituto Internacional de Cardiologia. De dez pacientes que chegam à fila de espera para o transplante cardíaco, seis não sobrevivem.
A ponte segura até a cirurgia de substituição de órgão é provisória. Os médicos estimam que os pacientes fiquem entre 30 e 60 dias com a prótese artificial até o coração compatível, de um doador humano, aparecer.
É por ele que espera o paciente do Sírio. Ele não vê a hora de voltar a ter sístole e diástole natural e estar liberado para saborear a comida preferida.
“Sonho com um bife a parmegiana”, diz, sorrindo, meio sem fôlego.
Fonte iG
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