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terça-feira, 2 de abril de 2013

Nasa convida brasileiro para apresentar medicina do futuro

Leonardo foi o Brasileiro selecionado pela Nasa e
levou na bagagem o bom "olho no olho"
Simpósio internacional reuniu tecnologias que vão revolucionar a saúde. Leonardo Aguiar foi premiado por apostar no bom e velho "olho no olho”

Uma máquina que devolve o movimento aos tetraplégicos, um aparelho de ginástica que eleva a temperatura do corpo e a pressão para facilitar o emagrecimento ao toque de um botão, médicos-robôs...e uma boa conversa.
 
Em meio ao aparato hi-tech reunido no Simpósio Internacional sobre o futuro da medicina – organizado pela Nasa, a agência espacial americana – o médico brasileiro Leonardo Aguiar, 37 anos, foi convidado para apresentar sua técnica premiada para revolucionar o tratamento médico.
 
“Meu método não tem nenhuma tecnologia. Aposto no bom e velho olho no olho”, disse .
 
Cirurgião plástico, discípulo de Ivo Pitanguy (o papa da plástica brasileira e internacional), professor da Universidade de Medicina de Blumenau (Santa Catarina), Aguiar inscreveu seu projeto de pesquisa para tentar ocupar uma das 80 vagas oferecidas pela Nasa no curso de capacitação chamado FutureMed, realizado há dois anos, na Singularity University, instalada no Vale do Silício (EUA).

“Não acreditava que seria escolhido, porque imaginava que a Nasa só queria lasers, botões, robôs e telemedicina. Mas já havia recebido um prêmio em 2012 por causa do método desenvolvido e arrisquei”, lembra.

“Foram seis meses de entrevistas virtuais até que me escolheram para estar entre um dos médicos do futuro. Disseram que o meu trabalho é um contraponto importante no uso tecnológico em favor da saúde.”

Durante o mês de fevereiro, Aguiar participou dos cursos e realizou palestras para os principais nomes da tecnologia em saúde. Convidou os profissionais da medicina, de todos os cantos do planeta, a “descerem do pedestal e a ouvirem mais o paciente”.

Leia a entrevista:

Qual o objetivo da capacitação e como ela pode mudar a vida dos pacientes?
Leonardo Aguiar: A Singularity University criada pela Nasa reúne uma série de companhias do Vale do Silício (nos EUA) que não querem ganhar dinheiro. O objetivo deles é mudar o mundo. Com este conceito, eles fundaram um braço na área da saúde, chamado FutureMed. São selecionados 30 nomes para participar da capacitação e cada um leva um projeto e uma experiência na área da saúde para divulgar. O objetivo é formar um caldeirão de inovações em saúde, que chegue à população de maneira rápida, eficiente e barata.

Você foi um dos selecionados apesar de ter um projeto nada nada tecnológico, é isso?
Aguiar: Desenvolvi um método chamado co-criação que basicamente serve para mostrar que o médico não é dono nem da saúde nem da doença do paciente. Todos nós médicos precisamos descer do pedestal. Primeiro porque hoje ninguém mais trabalha sozinho. A equipe que funciona é formada por especialistas de várias áreas, enfermagem, nutrição, terapia ocupacional. Os profissionais precisam entender que o paciente faz parte deste time e tem sim poder de voto nas decisões. Mais do que isso, o paciente está no centro das decisões. Eu sou cirurgião plástico e, diariamente, discuto com os pacientes qual é o tamanho da prótese de silicone que ela deseja, o tipo de cicatriz e uma série de outras possibilidades da cirurgia. Existem pessoas que querem escolher a melhor fase da lua para operar e, se isso for importante para ela, eu tenho de respeitar.

O conceito de medicina foi criado em um período de guerra e a cura era o único propósito por não existir outra forma de conduta. Eram muitos feridos e era preciso decidir, por exemplo, quem amputar, quem operar, quando valia tentar a sutura. Agora vivemos outro período, mas a cura a qualquer preço continua sendo a meta exclusiva dos médicos. A medicina do futuro que eu defendo prega qualidade do serviço e menos sofrimento no processo. A decisão por qual procedimento escolher deve envolver diminuir dor, angústia, melhorar o tempo de atendimento e, principalmente, acabar com o sofrimento, seja ele uma orelha de abano, uma deformação no rosto ou um coração que não funciona bem.
 
Além de ouvir o paciente, em que mais consiste o seu método?
Aguiar: A proposta é traçar um planejamento, junto com o paciente, desde a primeira consulta até o objetivo final. E está é uma pergunta que os médicos não fazem para os pacientes: 'qual é o seu objetivo?' Claro que entre a primeira consulta e a meta do paciente existem exames e consultas de protocolo, mas todas as decisões precisam levar em conta o meio em que este doente está e qual a relação dele com o problema. Por exemplo: se a pessoa tem cachorro em casa e vai fazer uma cirurgia isso implica em orientar como deve ser a relação com o cão no pós-cirurgico. É basicamente uma conversa, que é sempre terapêutica, e a humildade de saber que o paciente sabe. Ele tem informação. Não é marionete. A função do médico é orientar e não decidir
 
E um conceito de saúde tão primordial, e ao mesmo tempo tão antigo, como o “olho no olho” na medicina causou surpresa na Nasa?
Aguiar: Eu tinha dúvidas na hora de inscrever o projeto na pré-seleção, porque imaginei que a Nasa estava focada em laser, máquinas e robôs. Foram seis meses de conversas virtuais, eles questionando o método até me escolherem. Mas o projeto é embasado em muita pesquisa e acredito que os organizadores queriam este contraponto. Hoje existem duas situações: os médicos mais novos, criados em relações apoiadas em rede sociais, têm mais dificuldade no relacionamento pessoal, em conversar cara a cara, lidar com medos, angústias e frustrações. Qualquer um sabe que é mais fácil terminar um namoro por email do que pessoalmente. Porém, em medicina, nenhum exame ou tecnologia substitui o contato físico.
 
Ao mesmo tempo, os médicos mais velhos têm dificuldades em usar as tecnologias, fundamentais para o exercício da medicina, na hora de agendar consultas, preencher fichas, etc. Também é verdade que o mundo virtual pode ser usado para melhorar o tempo e a relação entre médico e paciente. É preciso o equilíbrio entre estes dois lados da moeda. Além disso, a internet exige que o médico desça do pedestal porque o doente não busca mais o saber do médico. Ele chega ao consultório para confrontar o que o médico sabe ou não, porque tem uma rede de contatos: o google, sites especializados, amigos em rede que já passaram pelo problema, etc.
 
E você já esteve no pedestal? Se sim, o que te fez descer dele?
Aguiar: Eu já. Sou cirurgião plástico, trabalhei na equipe do Ivo Pitanguy, foi escolhido por ele para ingressar no time. Uma hora ou outra, você acha que é o dono da verdade só porque sabe como fazer. Mas foi o próprio Pitanguy que me trouxe para o solo. Enquanto todo mundo se preocupava com a lipoaspiração de última geração, ele conversava com a paciente e preocupava-se em ver se o quarto tinha duas camas para o acompanhante. Ele me ensinou que o cirurgião plástico usa o bisturi para afagar a alma das pessoas. Eu entendi que todos os médicos, não importa o instrumento e a especialidade, também devem ter o foco na alma. E na Nasa atestei que os astronautas mais importantes, os desenvolvedores de tecnologias mais avançadas, também têm esta filosofia. Quanto mais conhecimento, mais humildade.
 
Fonte iG

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