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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

'Efeito Angelina' eleva procura por cirurgia

Cirurgiões plásticos têm registrado um aumento do número de mulheres saudáveis querendo retirar as mamas como prevenção do câncer.
 
Para eles, a motivação tem nome: "efeito Angelina Jolie". Em maio, a atriz revelou, em artigo publicado no jornal "New York Times", ter se submetido ao procedimento, após descobrir uma mutação genética que a torna propensa a desenvolver tumores nas mamas e nos ovários.
 
Não há números sobre esse aumento da demanda, mas a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que seus afiliados têm relatado o dobro da procura que tinham antes da revelação de Jolie.
 
Editoria de Arte/Folhapress

"É uma coisa assustadora, mas compreensível. A maioria dos casos não tem indicação cirúrgica. São aquelas mulheres que ouviram o galo cantar e querem cantar junto. Há muita desinformação", diz o presidente da SBCP, José Horácio Aboudib.
 
O assunto será discutido amanhã pelos cirurgiões em um encontro no Rio.
 
A cirurgia é indicada para mulheres com forte histórico familiar (mãe, irmã ou avó com câncer de mama ou de ovário antes da menopausa) ou com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que as tornam mais predispostas a desenvolver a doença.
"Foi uma cancerofobia. Começaram a aparecer muitos casos sem pertinência nenhuma para a cirurgia, como de mulheres cujas avós tiveram câncer aos 70, 80 anos", afirma o cirurgião plástico Alexandre Munhoz, coordenador da câmara de reconstrução mamária da SBCP.
 
A advogada Cristiane Barbosa de Lima, 38, se encaixa nisso. Como a avó e a tia morreram de câncer (de mama e de pulmão), ela pensou que pudesse ter mais riscos e cogitou retirar as mamas.
 
"Já estava pensando em colocar silicone e eu achei que fossem cirurgias parecidas. Mas meu médico não recomendou porque não existia risco genético", conta.
 
Aspectos éticos
Segundo Aboudib, o encontro será importante para discutir os aspectos técnicos e éticos do procedimento. "É ético retirar duas mamas saudáveis?" Ele acha que sim.
 
"Meu pai teve câncer de próstata. Com isso, tenho duas vezes mais risco de ter. Se pudesse fazer uma prostatectomia [retirada da próstata] sem sequelas, eu faria."
 
Para ele, a decisão pela mastectomia bilateral profilática não é muito diferente de quando se opta por uma cirurgia plástica estética. "Você não opera para colocar prótese ou fazer lipo? Se, após receber informações adequadas, a paciente decide por isso, temos que atender."
 
Só 10% dos tumores têm origem genética; 0,2% da população carrega mutações nos genes BRCA 1 e 2.
 
Para José Luiz Bevilacqua, presidente do departamento de cirurgia da mama da Sociedade Brasileira de Mastologia, pode estar havendo exagero nas indicações de mastectomia profilática.
 
Mas não é só isso. Segundo ele, em nome da estética, alguns cirurgiões plásticos têm descuidado do rigor oncológico. "Não é cirurgia estética. Se a técnica não for realizada com o enfoque oncológico, pode ser uma tragédia a longo prazo porque permanece o risco do câncer."
 
Esse rigor, explica o cirurgião plástico Gustavo Duarte, implica na retirada de bastante tecido mamário, deixando a pele da mama fina.
 
"O resultado estético tende a não ficar bonito." Isso sem contar os riscos como perda da sensibilidade, necrose da pele e infecção.
 
Folhaonline

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