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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Aumento do contágio do HIV entre jovens homens gays desafia especialistas

Sem camisinha: segundo pesquisa australiana, 58% dos que estão com idades
 entre 15 e 39 anos não reconhecem o HIV como um risco. A percepção é que
 a vida continua normal com ajuda dos medicamentos
População mais nova tende a enxergar infecção por HIV como uma doença crônica qualquer. Dialogar nos ambientes em que os jovens se sentem mais à vontade é o caminho para uma nova conscientização
 
De acordo com dados do último Boletim Epidemiológico Aids/DST do Ministério da Saúde (2010), o número de casos de infecção por HIV entre gays brasileiros de 15 a 24 anos de idade aumentou 10,1% entre 2000 e 2010. Na Austrália, o crescimento da incidência entre público semelhante foi de 8% de 2010 para 2011. A tendência se repete em países da Europa e nos EUA e indica que homens gays, especialmente os mais jovens, têm se prevenido cada vez menos contra o contágio.
           
Com tanta informação sobre o assunto desde os anos 1980, parece estranho deparar-se com tamanha ampliação. Mas a explicação, segundo o sociólogo Garrett Prestage , da Universidade de New South Wales (Austrália), está justamente na evolução da doença e de seu tratamento.
 
“Desde o começo dos anos 2000, a infecção por HIV é vista mais como uma doença crônica do que como uma sentença de morte. Hoje, os homens gays preocupam-se mais com os efeitos colaterais dos medicamentos do coquetel do que com a doença em si”, disse ele no 21º Congresso da Associação Mundial pela Saúde Sexual, que aconteceu em Porto Alegre de 21 a 24 de setembro.
 
Em depoimentos colhidos por Garrett em 2012, durante uma pesquisa sobre os hábitos sexuais dos homens gays que não sabem se são soropositivos ou não, a diferença de mentalidade em relação ao HIV de acordo com a idade ficou muito clara.
 
Em sua imensa maioria (83%), homens com mais de 40 anos declararam que ficariam “acabados” se soubessem que estavam infectados, pois isso “mudaria todo o estilo de vida”. Já 58% daqueles entre 15 e 39 anos garantiram que “não reconhecem o HIV como um risco”, já que “a vida continua e pode ter qualidade, graças aos medicamentos disponíveis”. “Eles alegam ter consciência do risco que estão dispostos a correr. Não são um grupo de risco, isso nem existe mais, mas assumem um comportamento de risco”, contou o sociólogo.
 
Não é só distribuir camisinha
Para Garrett, uma das maiores dificuldades para dialogar com esse grupo de jovens homens e alertar sobre os riscos reais da doença é compreensível: “Devido às feridas emocionais que a maioria carrega por causa do preconceito social e até familiar, homens gays têm muita resistência a aceitar conselhos sobre como se comportar, especialmente sexualmente”.
 
Simplesmente distribuir camisinhas e panfletos com informações sobre a aids em datas específicas (Parada Gay, por exemplo) está longe de ser a atitude ideal no sentido da conscientização. A socióloga Eleanor Maticka-Tyndale , da Universidade Windsor (Canadá), defendeu, no mesmo painel do Congresso, que o trabalho de prevenção precisa ser o mais íntimo possível.
 
“Quanto mais próximo do grupo estiver o agente, maior a chance de sucesso. Uma organização pelos direitos LGBT tem muito mais chance de alcançar os homens gays ao promover conversas, palestras e debates, do que uma campanha do governo”, afirmou.
 
O papel da indústria pornográfica
O epidemiologista especializado em sexologia Simon Rosser , da Universidade de Minnesota (EUA), enxerga na indústria pornográfica uma chance para advertir sobre os riscos da infecção por HIV e a necessidade do uso de preservativos. Ele falou, durante o Congresso, sobre seu mais recente estudo sobre o assunto – uma pesquisa online, com homens maiores de 18 anos que tivessem feito sexo com homens nos últimos três anos.
 
Segundo os resultados, conteúdo pornográfico (especialmente filmes) é consumido por 98,5% desses homens diariamente, seja pelo computador, em DVDs ou pelo smartphone. “85,7% deles, mesmo preferindo assistir a cenas de sexo em que não há uso de camisinha, não se incomodariam se elas começassem a ser utilizadas para alertar sobre a necessidade de seu uso para evitar o HIV”, relatou. Além disso, eles considerariam interessante haver propagandas rápidas antes dos filmes sobre o tema.
 
“O desafio atual é se integrar ao grupo para poder dialogar. Eles são jovens, eles são descolados. Não adianta tentar se enturmar usando terno e gravata, com planilhas de dados nas mãos. Ouvir, argumentar e aceitar são peças fundamentais para buscar uma nova conscientização”, finalizou.
 
iG

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