Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS Cleuza Siqueira, 51 anos, luta contra o colesterol desde a menopausa |
A partir deste sábado, muitos brasileiros vão acordar com os seus níveis de colesterol no sangue acima do recomendado. Mas isso não significa que as pessoas vão exagerar no consumo de gorduras durante a sexta-feira. É que no dia 28 de setembro a Sociedade Brasileira de Cardiologia apresenta nova diretriz que altera os limites considerados saudáveis de LDL, o colesterol ruim, no sangue.
As novas orientações são mais severas, especialmente com as mulheres. Antes, pessoas com alto risco de doenças cardiovasculares tinham como meta manter os níveis de colesterol LDL em até 100 miligramas por decilitro de sangue. Agora, a luta vai ser ficar abaixo de 70 mg/dl.
As orientações da 5ª Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose para classificar o risco dos pacientes também mudaram, e é neste ponto que as mulheres são as mais atingidas. Até hoje, pessoas do sexo feminino são classificadas como pacientes de alto risco quando têm mais de 20% de possibilidade de infarto, derrame ou insuficiência cardíaca nos próximos 10 anos. Com a nova diretriz, uma chance maior do que 10% já deve acender o sinal amarelo no consultório médico. Esta probabilidade é calculada de acordo com fatores como tabagismo, idade, histórico pessoal e familiar de doenças cardíacas, diabetes, entre outros.
De acordo com Hermes Xavier, presidente do Departamento de Aterosclerose da SBC e editor da nova diretriz, o risco aumentado das mulheres é o que causa mais impacto nas mudanças.
— Nos últimos anos, nós subestimamos o risco cardiovascular da mulher. O estilo de vida feminino mudou e elas têm mais fatores de risco como obesidade, tabagismo e colesterol alto. Há 25 anos, somente uma mulher infartava a cada quatro casos masculinos. Atualmente, nas grandes cidades, esse índice já está quase empatado. Esta situação tem de ser corrigida e a diretriz está olhando para isso — justifica Xavier.
É o caso da técnica em enfermagem Cleuza Siqueira, 51 anos, que há pelo menos sete anos luta contra o colesterol. A chegada da menopausa trouxe também problemas de saúde como a hipertensão e o colesterol alto.
— Tomei medicamento para controlar os índices de LDL por dois anos. Hoje, tento manter os níveis somente com uma alimentação mais regrada e os exercícios físicos, mas estou sempre no limite — conta.
Com as novas diretrizes, os limites de Cleuza se tornam mais severos. E, para atingir as novas metas, há uma consequência: mais pessoas devem receber a indicação de uso de medicamentos para controlar os índices, as estatinas. Segundo Xavier, o aumento na prescrição é visto com bons olhos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
— Não temos dúvidas de que o uso de estatina vai aumentar, mas temos de conscientizar médicos e pacientes que a meta de tratamento precisa ser atingida. Corrigir o estilo de vida é importante, mas a gente precisa tratar com remédio para chegar na meta, sobretudo aqueles pacientes que estão sob risco — justifica Xavier.
A prescrição das estatinas é justamente um dos pontos de discussão. Xavier argumenta que as recomendações foram baseadas em evidências científicas desenvolvidas desde 2007, data de publicação da diretriz anterior. Entre elas, um estudo da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, com dados de 270 mil pacientes tratados com estatina que alcançaram uma redução importante nos níveis de LDL.
O cardiologista e diretor da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs) lembra que o ideal é alcançar uma taxa saudável de colesterol no sangue sem o uso de medicação.
— Quanto mais medicação o paciente toma, mais ele estará sujeito aos efeitos colaterais. É mais fácil a pessoa tomar uma pílula do que mudar os seus hábitos de vida, mas o resultado seria muito melhor — pondera.
A cardiologista Gicela Risso Rocha concorda que a prevenção e os hábitos saudáveis devem ser priorizados:
— Antes de pensar em medicar, temos de alertar para uma mudança no estilo de vida. Os comprimidos são onerosos e ainda causam outros impactos na saúde. Mas, provavelmente, vamos conseguir salvar algumas vidas com esse alerta que chega pela nova diretriz.
As doenças do coração no Brasil e no mundo
— As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, com cerca de 7,3 milhões de óbitos por ano. Este número que deverá superar 23,6 milhões até 2030, especialmente na América Latina.
— No Brasil, cerca de 300 mil pessoas morrem anualmente devido a doenças cardiovasculares como infarto, acidente vascular encefálico (AVC), insuficiências cardíaca e renal ou morte súbita, o que significa 820 mortes por dia, 30 mortes por hora ou uma morte a cada dois minutos
— Estima-se que a redução de 10% da taxa de mortalidade causada por doença isquêmica do coração e acidente vascular encefálico geraria uma economia estimada em US$ 25 bilhões por ano para os países de baixa e média renda
— A Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que 40% da população adulta tenha colesterol elevado.
— Cerca de 30% da população sofre com pressão alta, sendo que apenas uma em cada pessoas quatro faz o tratamento.
Zero Hora
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