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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Medicamento desenvolvido no Brasil é esperança contra anemia falciforme

Anemia falciforme
Criado por pesquisadores da Unesp, o novo fármaco não apresentou os efeitos tóxicos das drogas usadas atualmente
 
Um fármaco desenvolvido por pesquisadores da Unesp para aliviar os sintomas da anemia falciforme une os benefícios da talidomida e do quimioterápico hidroxiureia já usado no tratamento crônico da doença sem apresentar os efeitos tóxicos das drogas originais.

A molécula, patenteada com o nome Lapdesf1, mostrou bons resultados em ensaios com camundongos feitos na Unicamp. Os cientistas das duas instituições buscam agora parceria com a indústria farmacêutica para a realização dos primeiros testes em humanos.

A pesquisa representa um avanço para o tratamento da anemia falciforme, considerada uma doença extremamente negligenciada, e ajudará a diminuir vários sintomas presentes nos pacientes, como dor e inflamação, disse o pesquisador da Unesp de Araraquara Jean Leandro dos Santos, um dos idealizadores do novo medicamento.

A hidroxiureia é hoje uma das drogas mais usadas no tratamento da anemia falciforme por ser capaz de aumentar a produção de um outro tipo de hemoglobina, conhecida como hemoglobina fetal (mais presente no período de vida uterina). Altos níveis de hemoglobina fetal diminuem a polimerização das hemácias defeituosas e reduzem o risco de vaso-oclusão.

Como qualquer quimioterápico, porém, a hidroxiureia apresenta efeitos adversos. Além de causar náuseas, dores abdominais e de cabeça, tonturas, sonolência e convulsões, pode ainda diminuir a produção de células da medula óssea. Também pode afetar as células reprodutivas e levar à infertilidade.

Já a talidomida, inicialmente usada como sedativo e antiemético (contra náuseas), foi retirada do mercado em todo o mundo nos anos 1960 depois de provocar uma epidemia de recém-nascidos com malformações. Foi posteriormente reintroduzida nos anos 1990 para tratamento de câncer, hanseníase, lúpus e Aids. No Brasil, o uso da talidomida é controlado e a droga é produzida por laboratórios públicos e fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com Santos, no caso da anemia falciforme, a talidomida é interessante por seus efeitos anti-inflamatórios. "Nós aproveitamos da talidomida a subunidade responsável pelos efeitos anti-inflamatórios benéficos e acrescentamos à molécula o mecanismo de ação da hidroxiureia, relacionado à capacidade de doar óxido nítrico mediador responsável pelo aumento da hemoglobina fetal. Nos ensaios de toxicidade feitos até o momento, o Lapdesf1 não apresentou nenhum dos efeitos negativos dos fármacos originais", disse.

Testes pré-clínicos
Depois que experimentos preliminares in vitro comprovaram o potencial terapêutico do Lapdesf1, o grupo da Unesp firmou parceria com os pesquisadores do Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro) da Unicamp para a realização de ensaios em camundongos modificados geneticamente para desenvolver um quadro muito parecido com a anemia falciforme.

Os ensaios, conduzidos pelas pesquisadoras Carolina Lanaro e Carla Penteado, estão sendo realizados no âmbito de um Projeto Temático coordenado na Unicamp pelo professor Fernando Ferreira Costa.

"Os ensaios foram feitos no laboratório da Georgia Regents University, nos Estados Unidos, pois os pesquisadores de lá tinham o modelo animal mais adequado para esse tipo de teste", disse Penteado.

Cerca de 20 ratos, ao completar 3 meses de idade, foram divididos em dois grupos. Metade foi tratada com o Lapdesf1 durante dois meses. A outra metade recebeu apenas placebo.

"No grupo tratado, a quantidade de hemoglobina fetal dobrou após esse período resultado semelhante ao obtido com a hidroxiureia. Já a quantidade de citocinas inflamatórias havia diminuído mais de 70% efeito semelhante ao obtido com a dexametasona (corticoide também usado contra inflamação). Nenhum dos animais apresentou efeitos adversos", disse Penteado.

Enquanto aguarda a possibilidade de iniciar os primeiros ensaios em humanos, o grupo da Unicamp tenta desvendar in vitro e por meio de novos testes com animais o mecanismo exato de atuação do novo medicamento.

Com informações da Unesp
 
Isaude.net

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