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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quando a busca pela saúde se torna uma doença

 / Ligadas a dois comportamentos desejáveis, a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos, ortorexia e vigorexia causam sofrimento psíquico e podem ter efeitos físicos
 
A busca por uma vida saudável pode se transformar em dois problemas psiquiátricos sérios e de difícil diagnóstico: a vigorexia e a ortorexia. O primeiro é mais conhecido e se trata da obsessão pelo corpo perfeito, com músculos bem definidos, o que gera uma prática intensa de exercícios físicos. O segundo ainda não foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, mas é investigado há mais de uma década e se trata da busca por uma alimentação livre de elementos considerados nocivos, como corantes, aromatizantes, conservantes, pesticidas, açúcares e gorduras.
 

Ambos geram sofrimento psíquico para a pessoa e podem ter efeitos físicos, como queda de imunidade e perda de alguns nutrientes importantes, por causa da dieta extremamente restrita, do excesso de exercícios e do uso de anabolizantes. O primeiro alerta é quando o que parecia ser um comportamento normal começa a afetar a vida social da pessoa e causa um forte estresse por se tornar a principal preocupação do indivíduo.
 
“No momento em que há perdas em outras áreas importantíssimas, como na vida social e no trabalho, é preciso ficar atento”, comenta o psicoterapeuta Tônio Luna.
 
O psiquiatra Alexandre Karam Mousfi, do Hospital de Clínicas de Curitiba, dá exemplos do que podem ser sinais da ortorexia e da vigorexia. “Perder muito tempo controlando a alimentação ou em academias, causando interferência nas atividades laborais, de lazer ou nos relacionamentos interpessoais. Ou adotar práticas que trazem consequências negativas para a saúde, como o uso de esteróides e anabolizantes.”
 
Obcecados por uma dieta 100% pura
A ortorexia é caracterizada por uma preocupação exagerada com a qualidade dos alimentos que serão consumidos. O indivíduo quer manter uma dieta com alimentos completamente livres de herbicidas, pesticidas e substâncias artificiais, como corantes e conservantes. Alimentos com gordura, açúcar e sal também são riscados do cardápio. Além disso, quem tem esse comportamento se preocupa excessivamente em planejar suas refeições.
 
Tanta preocupação acaba acarretando em um estresse psicológico e na restrição do consumo de muitos alimentos. Dessa forma, a pessoa chega a ter perdas nutricionais. Muitas vezes, o quadro é confundido com o de anorexia. Mas diferente do anoréxico, a pessoa com ortorexia não busca ficar cada vez mais magra.
 
“Não se trata de uma questão de peso, mas é uma fobia que a pessoa desenvolve só de pensar no problema que algum alimento pode causar”, diz a nutricionista e consultora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbram), Daniela Caetano.
 
Ela observa que esse comportamento, além de causar um isolamento social, pode acabar levando a pessoa a ter perdas nutricionais importantes. “Se a pessoa acha que algum alimento não é saudável, ela o exclui completamente, sem a preocupação de fazer algum tipo de substituição. Isso acarreta em perdas de nutrientes, o que pode levar a uma anemia ou a uma osteoporose, por exemplo”, diz.
 
A Síndrome de Adônis
A vigorexia, também conhecida como Síndrome de Adônis, está vinculada ao transtorno dismórfico corporal, que é uma obsessão por alguma parte do corpo. Quando essa fixação é relacionada aos músculos e combinada com a prática excessiva de exercícios físicos, então tem-se caracterizado um quadro de vigorexia, que também é chamada de anorexia reversa.
 
“Nesse caso, a pessoa está super musculosa, mas se olha no espelho e se acha magra. Por isso o nome anorexia reversa”, explica o psiquiatra Glauber Higa Kaio, do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
 
Kaio explica que pessoas que vivem esse tipo de problema passam a deixar atividades sociais em segundo plano e abrir mão do convívio familiar para ficarem na academia se exercitando. “Até o sono a pessoa deixa de lado algumas vezes”, afirma.
 
Ele ainda aponta como características de quem tem esse problema ficar se comparando com o outro, medindo seus músculos e se olhando no espelho todo o tempo. O consumo de anabolizantes e esteroides entre pessoas com vigorexia também é muito comum. Os efeitos colaterais dessas substâncias é a principal causa dos problemas que levam quem tem vigorexia a buscar o tratamento médico.
 
Tratamento
Integrante do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata) da Uni­­versidade Federal de São Paulo (Unifesp), o psiquiatra Glauber Higa Kaio afirma que quem possui um quadro de ortorexia ou vigorexia não costuma buscar tratamento por causa desses comportamentos especificamente. “A queixa normalmente é outra. No caso da vigorexia, por exemplo, o indivíduo ou familiares vêm em busca de tratamento para um quadro de bipolaridade ou de irritabilidade muito grave. Aos poucos é que vamos descobrindo qual o real problema”, diz Kaio, que também faz parte da equipe de Cirurgia Bariátrica do Hospital de Clínicas da UFPR.
 
De acordo com Luna, é essencial a participação das pessoas próximas ao doente para que o tratamento do transtorno avance. “Trabalhamos muito com a família ou grupo de amigos para que o tratamento funcione”, diz. Além do trabalho em consultório, normalmente o tratamento desses comportamentos envolve medicamentos e exige um acompanhamento multidisciplinar.
 
Prevalência
Por ainda não ser considerada um transtorno alimentar oficialmente, não existem estatísticas sobre a ortorexia. Segundo o psiquiatra Glauber Higa Kaio, do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo, existe um estudo que indica a prevalência desse comportamento entre homens de 20 a 45 anos. No caso da vigorexia, estudos indicam que a prevalência é entre os homens mais jovens, entre 15 a 30 anos.

Gazeta do Povo

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