Por Dr. Artur Malzyner
Com aproximadamente 530 mil casos novos por ano no mundo, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais comum entre pessoas do sexo feminino, sendo responsável pela morte de 275 mil mulheres por ano. No Brasil, em 2013, são esperados 18.000 casos novos, com um risco estimado de 17 casos a cada 100 mil mulheres.
O câncer do colo do útero é raro em mulheres com menos de 30 anos e o número de casos aumenta progressivamente, até ter seu pico na faixa de 45 a 50 anos. Esse tumor é caracterizado pelo crescimento desordenado de células do tecido do colo do útero, podendo invadir estruturas e órgãos próximos ou à distância. Há dois principais tipos de câncer do colo do útero: o carcinoma epidermoide, tipo mais comum e que representa cerca de 80% dos casos, e o adenocarcinoma, tipo mais raro.
A principal alteração que pode levar a esse tipo de câncer é a infecção pelo papilomavírus humano, o HPV, com alguns subtipos de alto risco e apontados como causa de tumores malignos. Os vírus são o HPV16 e 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.
A infecção pelo HPV é muito comum. Estima-se que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas irão adquiri-la ao longo de suas vidas. Importante lembrar, no entanto, que a infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não único, para o desenvolvimento do câncer uterino.
Além da infecção pelo HPV, outros fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar no desenvolvimento do câncer. Desta forma, o tabagismo, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais, a multiparidade e o uso de contraceptivos orais são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero.
A transmissão do vírus HPV ocorre principalmente por contato direto, ou seja, através do contato da pele ou mucosa com tecido infectado, incluindo contato genital direto e contato pele-pele. Na maioria das vezes a infecção cervical pelo HPV é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição ao vírus. Nos casos nos quais a infecção persiste, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões pré-cancerosas, cuja identificação e tratamento adequado possibilitam a prevenção do câncer.
O câncer do colo do útero necessita de muitos anos para se desenvolver. É uma doença de desenvolvimento lento, que pode cursar sem sintomas em fase inicial e evoluir para quadros de sangramento vaginal intermitente ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada com queixas urinárias ou intestinais nos casos mais avançados.
As alterações das células do câncer são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolaou), por isso é importante a sua realização periódica. Outras formas de detectar o câncer de colo uterino são:
- Exame ginecológico
- Citologia oncótica: é o principal método de rastreamento do câncer, no qual pesquisa-se células cancerosas.
- Colposcopia e biópsia dirigida: são etapas fundamentais , tendo a primeira a finalidade de delimitar a extensão da doença no colo e na vagina e a segunda, a confirmação do diagnóstico.
A prevenção do câncer do colo do útero está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo papilomavírus humano (HPV). A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual.
Consequentemente, o uso de preservativos (camisinha) durante a relação sexual protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal. A imunidade natural (defesa que o corpo cria após exposição ao vírus) não é muito eficaz, permitindo reinfecções com o mesmo tipo de vírus em outros momentos da vida.
Atualmente, há duas vacinas aprovadas e comercialmente disponíveis no Brasil que protegem contra os subtipos 16 e 18 do HPV. Ambas são eficazes contra as lesões precursoras do câncer, principalmente se utilizadas antes do contato com o vírus. Ou seja: tem os benefícios mais significativos se dados antes do inicio da vida sexual.
A adoção das vacinas anti-HPV não substitui o rastreamento pelo exame preventivo (Papanicolaou), pois elas não oferecem proteção para 30% dos casos de câncer de colo do útero causados por outros subtipos de HPV. A redução da incidência do câncer de colo uterino depende de uma educação pública que visa reduzir a exposição do vírus, combinado com política de vacinação eficiente.
* Texto escrito em coautoria com o oncologista Emerson Neves dos Santos
Minha Vida
Nenhum comentário:
Postar um comentário