Lonomia obliqua |
Um dos estudos, coordenado pelo virologista
Ronaldo Zucatelli Mendonça, descobriu uma alta potência antiviral em lagartas da
família Megalopygidae. Apesar de a pesquisa ainda estar em curso, já se
comprovou que a substância encontrada conseguiu neutralizar o vírus
Influenza H1N1, além de tornar 2 mil vezes menor a replicação do
picornavírus (parente do vírus da poliomielite) e 750 vezes menor a do vírus do
sarampo.
Zucatelli destaca que esses resultados surpreenderam os pesquisadores. “Com
essa potência sim [foi uma surpresa]”, declarou. Ele explica que já se imaginava
que esses organismos, mesmo com sistema imunológico pouco desenvolvido, poderiam
ser utilizadas no controle de infecções humanas ou animais. “Os insetos são um
dos seres mais primitivos existentes. Para sobreviverem tanto tempo em ambientes
tão hostis, tiveram que desenvolver substâncias para se defender de agressões
externas”, informou.
Os estudiosos estão interessados em conhecer os elementos que compõe a
hemolinfa, fluido que exerce, nos insetos, a função similar à do sangue em
humanos. Nas lagartas, eles têm a capacidade de combater vírus, bactérias e
fungos. De acordo com os pesquisadores, desvendar essas substâncias e o
mecanismo de ação deles é um passo importante para o desenvolvimento de novos
medicamentos. “Existem poucos trabalhos na literatura que buscam estas
substâncias em insetos. Os principais estudos estão relacionados ao própolis de
abelhas”, acrescentou o virologista.
A pesquisa com a família Megalopygidae dá sequência a um estudo
anterior com a lagarta Lonomia obliqua, da família
Saturniidae. A proteína encontrada nesse caso tornou a replicação do
vírus da herpes 1 milhão de vezes menor e a do vírus da rubéola, dez mil vezes
menor. Os dois trabalhos têm como foco substâncias que apresentem ações
antivirais e apoptóticas, que é um processo importante para controle do
câncer.
Neste momento, a equipe estuda a viabilidade de produção dessas substâncias,
encontradas na Lonomia, em maior escala, além de verificar a estabilidade do
produto, a determinação das doses efetivas e a atividade em seres vivos. As
substâncias da família Megalopygidae, por outro lado, ainda estão sendo
caracterizadas.
As lagartas estudadas liberam veneno capaz de levar à morte. A escolha delas
para a pesquisa se deveu ao acúmulo de centenas de carcaças no instituto após a
retirada do veneno para a produção de soros contra queimaduras. Zucatelli aposta
que esses trabalhos abrem uma porta importante de novas pesquisas, tendo em
vista que o Brasil tem uma megabiodiversidade em insetos. A família
Megalopygidae, por exemplo, engloba mais de 200 espécies, entre elas a
Megalopyge lanata e a Megalopyge albicollis.
Agência Brasil
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