Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS Cassiane Alves, 29 anos, acompanha cada passo de Luísa Vitória |
Entre papais noeis e bolas coloridas, fotos do primeiro ano de Luísa Vitória Alves Xavier na casa dos pais se destacam na decoração da árvore de Natal.
Um ano atrás, a família comemorava a alta da menina, que nasceu com apenas 23 semanas de gestação e ficou quatro meses na UTI neonatal do Hospital Presidente Vargas.
De lá para cá, os momentos difíceis ficaram na lembrança de familiares e vizinhos do bairro Camaquã, na zona sul da Capital, apenas como lição de que vale a pena acreditar. Caso raro, já que com 23 semanas os sistemas do feto ainda não estão maduros o suficiente. A saúde de Luísa não deixa dúvidas para a mãe, Cassiane de Oliveira Alves, 29 anos, de que a medicina fez sua parte, mas a fé fez a diferença. Tanto que virou tradição na família, no dia 21 de cada mês, ir até a Igreja Santa Rita de Cássia, no bairro Guarujá, para acender uma vela em agradecimento à padroeira das causas impossíveis.
— Quando entrei em trabalho de parto, me disseram para já me preparar porque as crianças não iriam sobreviver, mas eu não deixei de acreditar — relembra Cassiane, que perdeu Lívia, gêmea de Luísa, três dias após o nascimento.
Luísa foi mais forte. Contou com ajuda de medicamentos, vacinas, aparelhos e uma equipe dedicada que a acompanha até hoje de perto. O Hospital Presidente Vargas oferece acompanhamento pediátrico a prematuros até os 10 anos de idade, serviço essencial para garantir que o período na incubadora não deixe sequelas no desenvolvimento da criança.
Com um ano e quatro meses, agora Luísa ensaia as primeiras palavras. Precisou incluir os óculos no visual desde cedo para corrigir o estrabismo decorrente da cirurgia de retinoplastia, alteração nos vasos sanguíneos da retina comum em prematuros. Deve começar a fazer terapia fisiomotora em breve para corrigir algumas limitações nos movimentos das mãos e dos joelhos.
— A Luísa Vitória é, com certeza, uma exceção. Em 15 anos de UTI neonatal, nunca tinha visto um caso de uma prematura com 23 semanas. Ficamos muito contentes de ver que ela está se desenvolvendo muito bem — diz a pediatra Aline Weiss, médica da UTI neonatal do Hospital Presidente Vargas, que acompanha Luísa no ambulatório de egressos.
Cassiane quer ajudar outras mães de prematuros
Nos mais de cem dias que passou ao lado da filha na UTI neonatal, Cassiane viu outras mães em situações tão complicadas quanto a dela. Depois que a alta da menina foi retratada em reportagem de Zero Hora, no ano passado, a jovem foi convidada a participar de ações de conscientização para a prematuridade e tem se engajado em campanhas. Até concordou que a foto da filha fosse usada em um material de divulgação do banco de leite, indispensável para o tratamento de Luísa, que não pôde mamar no peito.
— Estou pensando em entrar para uma ONG para ajudar outras mães de prematuros, porque eu sei o que elas estão passando. Só com muito amor para superar — diz Cassiane, que deixou o emprego de vendedora após a gravidez para se dedicar à filha e agora pensa até em fazer um curso técnico de enfermagem para trabalhar em UTI neonatal.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros (antes de 37 semanas) no mundo. O Brasil aparece na 10ª posição em números absolutos, com 279,3 mil partos de prematuros por ano, ou 9,2% do total de partos.
Relembre o caso:
- Cassiane chegou ao hospital com um sangramento no dia 17 de julho de 2012, com 23 semanas de gestação.
- Cassiane chegou ao hospital com um sangramento no dia 17 de julho de 2012, com 23 semanas de gestação.
- No dia 21 de julho de 2012, nasceram Lívia e Luísa. Lívia morreu no hospital três dias depois.
- Luísa recebeu alta no dia 4 de dezembro de 2012, quando foi recebida com festa por familiares e vizinhos no bairro Camaquã.
- Com 23 semanas, os sistemas do feto ainda não estão maduros. Intestinos e glândulas como pâncreas e tireoide ainda não se formaram. A pele ainda é gelatinosa e muito sensível. O sistema nervoso central só estará maduro com 28 semanas. E a capacidade pulmonar só estará estabelecida por volta da 35ª semana.
Zero Hora
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