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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Rede Social tenta romper isolamento de pessoas com doenças crônicas

Reprodução
Rede social para pacientes de doenças crônicas tem 1,5 mil usuários
Viciada em jogo, Maria de Fátima Silva encontrou nas conversas com outros pacientes do Amizade Positiva forças para se livrar da compulsão por bingo
 
A ajuda para combater a compulsão veio a partir de mensagens de desconhecidos quando, há um ano, Maria de Fátima Silva, de 51 anos, publicou num site de relacionamentos que sua vida já não fazia mais sentido: “Meu nome é Maria de Fátima. Tenho 51 anos e sou compulsiva por jogo. Isso me traz depressão. Sou uma pessoa que não gosta da vida”, escreveu no Amizade Positiva.
 
O site Amizade Positiva tem atualmente 1,5 mil usuários e uma média de 400 mensagens trocadas por dia. São pessoas que buscam namoro, amizade ou alguém para compartilhar suas dúvidas e dificuldades sobre como contar para os pais e o namorado que o teste de HIV deu positivo, como sobreviver às dores do preconceito por ser albino ou informações para melhorar o bem estar do parkinsoniano.
 
No caso de Maria de Fátima, por causa do vício que manteve por 15 anos, todos os dias ela entrava em bingos clandestinos na tentativa de suprir algo que ainda hoje não sabe o que é. Moradora do bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, a dona de casa afirma ter torrado muito mais de R$ 100 mil reais na compra de cartelas. Correu risco, adquiriu dívidas com agiotas, tentou se matar duas vezes e, mesmo assim, não considerava que o que tinha era doença.
 
“Depois de jogar, eu sentia muita culpa. Com tanta dívida, coloquei em risco pessoas que eu amo. Só não me prostitui ou cometi crimes na rua porque conseguia dinheiro roubando do meu filho e do meu marido. Passei a frequentar o JA [jogadores anônimos] por insistência do meu filho, não por vontade própria. Eu precisava fazer uma média com ele”, disse.
 
Mesmo frequentando a reunião de grupo nos Jogadores Anônimos, Maria de Fátima não aceitava o fato de que era compulsiva. Foi preciso, mais uma vez por insistência do filho de 25 anos, se cadastrar em um site para conversar abertamente com outras pessoas sobre suas tristezas - e não sobre quanto tempo tinha ficado sem jogar. Só assim ela conseguiu forças para buscar tratamento.
 
Antes disto, por muito tempo, ela aproveitou a ida ao JA para dar uma passada no bingo depois. “Não é que o apoio do grupo não ajudasse, mas só isso não era suficiente para eu largar do vício. Era muito maçante ouvir os mesmos problemas todo o tempo. Saía da reunião e ia para o bingo e lá encontrava muitos companheiros de JA”, disse.
 
Amizade Positiva
O site surgiu há um ano quando um amigo dos criadores do Amizade Positiva, HIV positivo, reclamou da dificuldade de começar relacionamentos. Ele não sabia se devia dizer imediatamente sua condição, ou esperar mais alguns encontros para contar. “A questão era que se ele contasse no primeiro momento poderia assustar, mas se demorasse a pessoa poderia se sentir enganada. Pensamos que num site de relacionamento, ela pudesse falar abertamente sobre sua condição médica sem medo e criando vínculos sinceros”, diz Bruno Siqueira, um dos criadores do site.
 
Porém, Siqueira afirma que o mais interessante está no fato de pessoas com diferentes condições ajudarem umas as outras. “Acho que as pessoas conseguem dividir angustias e no fim aprendem como lidar com a solidão que o paciente de doenças crônicas sente”, disse.
 
Maria de Fátima afirma que conversando pela internet com pessoas com HIV, depressão, bipolaridade e outras doenças crônicas ela conseguiu enxergar que tinha uma doença e que precisava se tratar. “Tinha tanta gente com doenças muito mais graves, e eu estava lá criando o meu próprio problema. Foi lá, pela primeira vez, que alguém me disse diretamente que eu precisava ir ao médico, a um psiquiatra”, disse.
 
O recado veio de Mariah, que tem depressão. Hoje as duas são amigas, se falam pelo Facebook, e marcaram de se encontrar pessoalmente em Niterói.
 
A dona de casa já está há oito meses longe das casas de bingo. Tem ido ao JA, ao psiquiatra e ao psicólogo e continua teclando pela internet. “Já conversei com um bando de gente, nunca encontrei ninguém com a mesma condição que eu, só uma moça compulsiva, mas era por comida. Mesmo assim, consegui muita informação para conseguir me tratar”, disse.
 
Esta semana, Maria de Fátima ficou feliz em poder ajudar um rapaz com Aids que não estava tomando o medicamento. “Conversando, consegui mostrar para ele que era preciso seguir o tratamento. Fiquei sabendo que ele já se inscreveu para receber o medicamento.”

iG

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