Uma espécie de marca-passo cerebral, desenvolvido para tratar casos de epilepsia resistentes a remédios, acaba de ser aprovado pela FDA (agência que regulamenta o mercado de alimentos e medicamentos nos EUA).
O RNS System, produzido pela empresa americana Neuropace, faz parte de uma nova geração de neuroestimuladores inteligentes.
Implantado no crânio, o aparelho analisa a atividade elétrica do cérebro, identificando padrões anormais ligados a crises epiléticas e impedindo as convulsões.
A estimulação elétrica cerebral não é novidade no controle de doenças --um aparelho similar já é usado para tratar mal de Parkinson.
"A diferença é que o novo aparelho grava a atividade cerebral e só ativa a estimulação para inibir a descarga que vai gerar uma crise convulsiva no cérebro quando ele antevê a mudança de padrão de atividade", afirma Alessandra Gorgulho, neurocirurgiã e chefe clínico-científico do Hcor Neuro (núcleo de neurocirurgia do Hospital do Coração, em São Paulo).
Nos aparelho disponíveis atualmente, a estimulação é contínua. Um marca-passo desse tipo, implantado no peito e com um fio sob a pele, já é usado no Brasil para tratar a epilepsia.
Ainda não há previsão de uso desse novo neuroestimulador no país.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que cerca de 50 milhões de pessoas sofram de epilepsia no mundo; destas, entre 20% e 30% possuem epilepsia crônica resistente a medicamentos.
Pessoas com epilepsia intratável frequentemente encontram dificuldades para se manter em empregos. Elas podem sofrer crises frequentes e, devido às quedas resultantes, lesões. A taxa de mortalidade desse grupo é de duas a três vezes mais altas do que a da população geral.
"Há muitas pessoas desesperadas pelo próximo tratamento", diz Janice Buelow, vicê-presidente de pesquisa da Epilepsy Foundation.
O aparelho, que requer uma troca de bateria a cada dois ou três anos, funciona apenas em pessoas nas quais as crises convulsivas iniciam-se em uma ou duas regiões no cérebro. Isso porque a estimulação elétrica atua precisamente nesses locais, impedindo que a crise se espalhe pelo cérebro.
Antes da instalação do aparelho, é necessário identificar os padrões específicos de convulsão de cada paciente. Inicia-se então um período de tentativa e erro, em que a intensidade da estimulação e o número de pulsos elétricos são alterados, tudo isso para analisar em quais condições o paciente experimenta menos convulsões.
"Ensinamos o aparelho a detectar padrões que representam as convulsões para cada pessoa", diz Christianne Heck, diretor médico do programa de epilepsia da Universidade do Sul da Califórnia.
A cirurgia para a implantação do aparelho requer dois dias no hospital
Gorgulho explica que o procedimento cirúrgico para o implante é considerado simples e não produz nenhuma modificação estrutural no cérebro. "O aparelho modifica apenas funções cerebrais por meio da estimulação elétrica".
Folhaonline / The New York Times
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