Diagnóstico independe da percepção do paciente sobre doença; terapia é oferecida em clínicas de psicologia
“O estresse é invisível aos olhos, o que a gente vê são as consequências dele”, afirma o psicólogo Armando Ribeiro, coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Para quebrar esse manto de invisibilidade, Ribeiro implementou no Brasil um método que já era popular nos Estados Unidos e que começa a se popularizar em clínicas de psicologia.
Trate-se de um teste que mensura o nível do estresse a partir do intervalo entre as frequências cardíacas. Muitas vezes, alguém que se julga no controle da situação pode estar quase no limite da exaustão. Após o procedimento, com um sensor conectado à orelha, o diagnóstico é preciso e independe da percepção do paciente. É como colesterol, que a pessoa não sente, mas os exames detectam.
A maioria dos pacientes de Ribeiro é gente que chega passando mal no pronto socorro sem saber que a causa poderia ter sido a secreção crônica do cortisol, hormônio do estresse. Uma vez encaminhada ao seu consultório, o primeiro passo é preencher uma folha com a chamada roda da vida, em que a pessoa assinala em um circulo notas para todos os âmbitos da sua vida, como recursos financeiros, equilíbrio emocional, família, desenvolvimento amoroso, saúde e disposição, além de outros.
Ao unir essas notas, como em uma brincadeira de ligar os pontos, o ideal é que o desenho se transforme em uma roda aberta, grande, que significaria notas mais altas e satisfatórias em cada fase da vida. O que acontece, no caso de quem está estressado, é que o círculo vira uma estrela de muitas pontas. Ou um círculo pequeno, que é ainda pior. O teste oferece ao psicólogo uma vislumbre de como o paciente enxerga a própria vida. “Consigo ver se a situação financeira não anda bem, se o relacionamento familiar está prejudicado, assim por diante”, comenta Ribeiro.
As perguntas seguintes já são para entender em qual dos quatro níveis de estresse a pessoa está. O primeiro é a fase de alerta, seguida pela resistência, quase exaustão (a fase do burn out) e a fatídica exaustão, período em que podem acontecer os infartos e AVCs. Para isso, o profissional pergunta como a pessoa se sentiu nas últimas 24 horas: as mãos ficaram frias? Sentiu o coração acelerado? Chorou? Teve tristezas? O apetite aumentou? Sentiu sensação de empachamento, de que a digestão não estava sendo feita direito? As perguntas depois se referem às mesmas sensações durante a semana e o mês.
Todas essas informações precisam de uma confirmação, afinal, o paciente poderia mentir sobre sua vida. O diagnóstico certeiro vem com o aparelho de biofeedback, o tal do aparato tecnológico que é ligado no paciente e cujo resultado independe de que o paciente tenha dito que a vida é uma tragédia ou um mar de rosas.
O sensor pendurado na orelha é como um pregador de roupas com pressão suave, que não fura e não machuca. Com o eletrodo de superfície preso ao corpo, a pessoa senta e relaxa durante quatro minutos. Em absoluto silêncio. Durante esse tempo, o sensor, que está ligado a um software especial, vai detectar o quanto de estresse ela está e o quanto de relaxamento ela conseguiu durante os minutos imóveis.
Normalmente, o resultado vem em um gráfico que demonstra altas taxas de estresse e zero de relaxamento. A situação, em um caso desses, é preocupante e pode até surpreender o paciente, que não imaginava que estava em uma situação de estresse crônico.
Numa sessão seguinte, é hora de ajudar o paciente a aprender a respirar – a respiração é uma das chaves para controlar o estresse. O ideal é que a pessoa respire pelo diafragma, a ‘respiração do bebê’, aquela em que a barriga estufa quando é feita a inspiração e murcha até o fim no momento em que se solta o ar. Peito e ombro não devem mudar de posição. Ainda conectado ao sensor, o paciente tem um game para jogar. E só ganha quando estiver relaxado.
Um deles é assim: no computador aparece uma paisagem em preto e branco. O intuito é deixá-la colorida. Conforme o paciente for respirando corretamente e conseguindo relaxar de verdade, a imagem vai aos poucos ganhando cores. Dá para ver a grama ficando verde, o céu se tornando azul, as flores aparecendo e um arco-íris dando o ar da graça. Quando, por fim, a respiração fica correta, o desenho se colore inteiro. Isso significa que a respiração conseguiu enviar um pedido para o cérebro parar de estimular a produção de cortisol.
Agora, um novo resultado é emitido. Via de regra, o nível do relaxamento aumenta e o de estresse diminui. O tratamento completo demora cerca de três meses, em que além das técnicas de relaxamento e respiração, a pessoa faz sessões de terapia cognitivo comportamental.
“Para que os efeitos continuem, é necessário que a pessoa leve as técnicas de relaxamento para a vida, o que implica em diminuir o ritmo e aprender a lidar com as situações que não têm solução.”
iG
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