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terça-feira, 20 de maio de 2014

Brasileiros criam software que diagnostica doenças mentais traduzindo sonhos

Reprodução
As diferenças gráficas de sonhos de esquizofrênicos e bipolares
Criação promete reduzir a subjetividade e tempo do diagnóstico, possibilitando tratamento mais rápido e preciso para quem sofre de esquizofrenia e bipolaridade, por exemplo
 
Defendida por Sigmund Freud (1856-1939) como alternativa para estudar as neuroses e principal atalho para conhecer as atividades inconscientes da mente, a interpretação dos sonhos acaba de ganhar um aliado no mundo da psiquiatria graças a uma invenção de um grupo de pesquisadores brasileiros.
 
Liderados pela psiquiatra Natália Berrea Mota, estudiosos do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criaram – e publicaram os detalhes na revista científica Nature – um software capaz de traduzir os sonhos e diagnosticar com objetividade doenças mentais como esquizofrenia e bipolaridade.
 
A criação saiu quase por acaso. A ideia inicial era estudar a fala de pessoas já diagnosticadas com algum sintoma psicótico. Ao coletar os primeiros relatos e submetê-los a contas matemáticas, foi possível representar alguns comportamentos por meio de grafos, um ramo da matemática que faz associações usando vértices e arestas.
 
A percepção de que era possível adaptar o experimento para fazer diagnósticos não demorou muito. Com o comportamento gráfico de algumas doenças mentais já mapeados, o grupo se concentrou no desenvolvimento de um software que fizesse esse trabalho. “Levamos um ano para automatizar o processo e torná-lo mais rápido e preciso com o desenvolvimento do SpeechGraphs”, afirmou Natália ao iG.
 
A psiquiatra explica que o funcionamento do software é simples. Basta gravar, transcrever e carregar o relato que o paciente fez do sonho que teve na noite anterior. “O programa representa as palavras em grafo e calcula 14 medidas. Cada palavra é representada por nós, enquanto as sequências de palavras viram setas.”
 
A invenção promete aumentar a objetividade do diagnóstico, atualmente sujeito às interpretações do profissional. Hoje, o psiquiatra anota os sintomas e preenche critérios de acordo com alguns manuais. “Sintomas psiquiátricos são relatados e percebidos subjetivamente pelo médico, que não tem como medir de maneira precisa. Com o software, essas análises não dependem de qualquer interpretação.”
 
Natália espera que a invenção ajude outros psiquiatras a concluírem o diagnóstico de maneira precisa e precoce, evitando erros de interpretação e tratamentos equivocados. “Às vezes são necessários meses para diagnosticar um paciente que tenha relatado seu primeiro episódio psicótico”, diz a médica. “Tratamentos de esquizofrenia e bipolaridade possuem particularidades tanto farmacológicas quanto no manejo do paciente, e a confusão pode retardar a remissão dos sintomas desses pacientes em meses, sem falar no risco do estigma desnecessário.”
 
Em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o grupo está fazendo mais testes para chegar a números cada vez maiores de psicoses diagnosticadas utilizando o programa. Gratuito, o download do software foi disponibilizado na página do Instituto do Cérebro. “Pretendemos que o programa seja usado livremente por um número cada vez maior de sujeitos, gerando mais e mais resultados que nos levem a entender fenômenos tão misteriosos como a forma com a qual nos referimos aos nossos próprios estados mentais.”
 
iG

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