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quarta-feira, 4 de junho de 2014

“Éramos vigiados por um representante do governo de Cuba”, diz cubano que deixou o Mais Médicos

Fabiana Grillo / R7
Cubanos Raul e Okanis abandonam Mais Médicos nesta terça
Com menos de R$ 1.000, Raul Vargas conta que salário só dava para comer
 
A baixa remuneração foi o principal motivo que levou os cubanos Raul Vargas, 51 anos, e Okanis Borrego, 29 anos, a abandonarem o programa Mais Médicos nesta terça-feira (3). Além disso, Vargas revelou que ele e todos os colegas precisavam pedir permissão para ir e vir.
 
— Éramos vigiados por um representante do governo e precisávamos pedir permissão para qualquer deslocamento, mesmo que fosse um passeio em alguma cidade próxima e fora do horário de trabalho. Além disso, tínhamos que comunicar ao chefe se iria receber visita de amigos ou familiares.
 
Desde novembro de 2013 no Brasil, Vargas e Okanis começaram a exercer a profissão um mês depois de sua chegada. Eles foram trabalhar em Senador José Porfírio [município de 13 mil habitantes], no Pará, e ganhavam US$ 400 (R$ 933), conta Vargas.
 
— O dinheiro só dava praticamente para a alimentação. Se a gente quisesse comprar alguma roupa, por exemplo, tinha que comer menos.
 
Os dois médicos dividiam a mesma casa com outros dois cubanos e as despesas de aluguel e luz eram bancadas pela prefeitura da cidade. Eles também recebiam uma ajuda de alimentação no valor de R$ 500, mas, segundo eles, não era suficiente.
 
Vargas conta que quando chegou ao Brasil não sabia que iria ganhar menos do que os outros profissionais do Mais Médicos.
 
— Para nós, US$ 1.000 é muito dinheiro, por isso resolvemos nos inscrever para a missão no Brasil. Foi Ramona [cubana que largou o Mais Médicos em fevereiro] que abriu nossos olhos e mostrou a realidade: que os médicos do programa ganhavam R$ 10 mil. Até então, não sabíamos.
 
Para o médico, eles são tratados como mercadoria em Cuba, já que o país forma muitos profissionais e exporta para outros países.
 
— Penso que Cuba forma muitos médicos com o objetivo mercantilista, para ganhar dinheiro. 
 
Okanis, que deixou pai, mãe e irmão no país, conta que se engravidasse de um brasileiro teria que voltar para Cuba.
 
— Outra situação é que se eu casasse com brasileiro deveria cumprir as leis cubanas, mesmo morando aqui.
 
Ambos admitem ter muito medo do que possa acontecer com suas famílias. Vargas, que é casado e tem dois filhos, teme que o mais velho seja impedido de estudar.
 
— Minha filha tem 17 anos e está prestes a entrar para a faculdade. O problema é que todas são públicas e o governo pode impedi-la de estudar.
 
Segundo os cubanos, as famílias ainda não sabem que eles abandonaram o programa. Por meio do departamento jurídico da AMB (Associação Médica Brasileira), os médicos entraram com o pedido de refúgio no Brasil, o que garante que eles não sejam deportados até serem julgados.
 
— Já queria deixar Cuba há muito tempo. Meu objetivo é exercer a profissão no Brasil e ser remunerado como os colegas brasileiros, não importa em qual cidade. 
 
Segundo Florentino Cardoso, presidente da AMB, enquanto os profissionais não fazem o exame Revalida, devem trabalhar na área administrativa.
 
— Qualquer médico estrangeiro é bem-vindo em nosso País, desde que faça o Revalida. É o que qualquer país sério faz.
 
De acordo com Cardoso, cerca de 30 médicos procuraram a AMB para saber mais informações sobre o Programa de Apoio ao Médico Estrangeiro.
 
O R7 procurou o Ministério da Saúde, mas até a publicação desta matéria não havia recebido retorno.
 
R7

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