Especialista afirma que derrota desencadeia processo de luto parecido com o sentido após a perda de um ente querido
Quem aguenta uma goleada como a que sofremos ontem? Quando a
bola entrou no gol brasileiro aos 11 minutos do primeiro tempo, foi
apenas uma tristezinha passageira. Todos acreditávamos que em instantes
reverteríamos a desvantagem. A ilusão durou pouco. Ao fim do primeiro
tempo, após os alemães marcarem mais quatro em sete minutos, o estrago
estava feito.
Nas arquibancadas, a torcida chorava. Uma parte
decidiu deixar o Mineirão já no intervalo. Em casa ou no boteco, o clima
era o mesmo. No segundo tempo, como se sabe, o vexame ficou pior e a
partida terminou em 7 x 1.
E agora? E agora que não dá para fingir
que já passou e hoje é um outro dia. Não é. Segundo os especialistas,
uma derrota - principalmente como a que sofremos - inaugura um
sentimento de tristeza coletiva, de luto mesmo, parecido com o sentido
após a perda de um ente querido.
E não é exagero,
afirma o professor do curso de psicologia da Unesp de Assis, Claudio
Reis. Para ele a amplitude dada para a perda de um campeonato é
explicada pela dimensão que é dada ao futebol. “Ele serve como uma
autoafirmação do Brasil, como uma identidade nacional.”
A duração do luto vai depender do envolvimento e da
expectativa que cada um tinha em relação à seleção, mas invariavelmente é
um sentimento que deve ser notado em todo o País. A partir de agora, os
brasileiros devem passar por todas as fases do luto.
Pouco a pouco
presenciaremos etapas como negação, raiva, busca de culpados, depressão
e, por fim, a aceitação.
Reis explica que depois da descrença e da
raiva, mesmo que expressada minimamente por um grito pelas janelas, a
população vai buscar os culpados. "Mesmo porque, ao contrário de países
como o Chile e a Colômbia, que receberam os jogadores como heróis após
serem eliminados da Copa, nós não temos a cultura do vice e do terceiro
lugar no futebol. Isso não nos interessa”, diz.
O psicólogo afirma
que o luto com a eliminação na Copa precisa ser assumido, trabalhado e
vivenciado. Somente após esse período a derrota será assimilada. “Com o
tempo, a pessoa passa a pesar questões como treinador, mazelas da
seleção e a própria saída do Neymar. Depois disso começa o processo de
aceitação e da decisão de voltar para a velha e boa rotina”. Uma rotina
com o fantasma da má recordação.
iG
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