Composto usado em plásticos prejudica vida sexual de roedores; impacto em humanos é considerado provável
O bisfenol A (BPA, na sigla em inglês) prejudica o comportamento sexual de roedores, especialmente dos machos. É o que mostra um trabalho publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). A substância, utilizada pela indústria química na produção de diversos tipos de plástico, tem sido combatida por médicos e ambientalistas que defendem seu banimento.
No estudo, fêmeas de rato-veadeiro consumiram BPA na dieta durante a gestação e a amamentação. A proporção da substância não ultrapassava os níveis considerados seguros, estipulados pelo FDA, a autoridade sanitária americana: cerca de 50 miligramas por quilo de alimento.
A prole masculina dessas fêmeas era aparentemente idêntica aos roedores que não foram expostos ao BPA. Manifestavam, no entanto, um comportamento muito diferente. Não conseguiam sair de um labirinto simples que outros machos enfrentavam com facilidade.
Os cientistas viram um sintoma de feminilização na incapacidade do animal em lidar com informações espaciais: na espécie estudada, os machos possuem um senso de orientação muito mais aguçado. Sem ele, não conseguiriam encontrar as fêmeas espalhadas no ambiente e se reproduzir. Além disso, machos expostos ao BPA foram desprezados pelas fêmeas que, de alguma forma, percebiam a diferença com relação aos outros machos.
Os estudos em humanos ainda não são conclusivos. Mas Cheryl Rosenfeld, da Universidade de Missouri, coautora do artigo, aponta que os dados sugerem "que garotos podem ser mais suscetíveis ao produto que garotas".
A médica Ieda Verreschi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo, concorda. "Estudos apontam que o bisfenol A imita o comportamento dos hormônios estrogênicos (grupo de hormônios sexuais que estimulam os caracteres femininos secundários)", diz. A sociedade iniciou uma campanha para o banimento do bisfenol no País: "Diga não ao bisfenol A, a vida não tem plano B".
A importação e a venda de mamadeiras que contêm o BPA está proibida na União Europeia. A China também tem uma lei que proíbe a produção de frascos para alimentação infantil que contenham plásticos feitos com o produto químico.
O BPA já foi banido no Canadá, na Costa Rica, na Malásia e em pelo menos 11 Estados americanos. No Brasil, a proibição do elemento químico está em discussão no Congresso. Em abril, a Justiça determinou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regulamentasse em 40 dias a inclusão de um alerta sobre a presença da substância nas embalagens dos produtos. A agência conseguiu prorrogar o prazo até agosto e está recorrendo da decisão.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110628/not_imp737760,0.php
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