Evento reúne porta-vozes de 43 países. Câncer está no grupo responsável por 63% das mortes mundiais e investimento não chega a 3%
Conte sua história, mobilize as pessoas ao seu redor e cobre dos legisladores ações concretas, factíveis e mensuráveis. A mensagem, repetida como um mantra ao longo dos três dias que concentraram um encontro com sobreviventes da doença vindos de 43 países, em Nova York (EUA), tem um objetivo preciso: colocar o câncer na agenda mundial de discussões antes da reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre doenças não-comunicáveis (DNCs), em setembro, na mesma cidade.
Além do câncer, as doenças não-comunicáveis (DNCs) englobam o diabetes, as enfermidades cardiovasculares e as doenças respiratórias crônicas como asma e bronquite.
Promovido pela Sociedade Americana do Câncer (ACS) - num esforço ímpar para informar e qualificar ONGs e formadores de opinião em todo o planeta sobre como atrair a atenção de quem decide sobre investimentos em saúde - o evento “We Can, We Should, We Will Conquer Cancer” (Nós podemos, devemos e iremos derrotar o câncer, em livre tradução) ocorre justamente no momento em que estão em elaboração as propostas a serem apresentadas na reunião da ONU.
A meta é garantir que cada país membro se comprometa a fazer a sua parte para reduzir os índices de morte e incapacitação causadas pelas DNCs.
“Vamos nos esforçar para que a presidenta Dilma compareça à reunião e se comprometa a agir” diz a socióloga Leoni Margarida Simm, presidente da Associação Brasileira de Portadores de Câncer, uma das participantes brasileiras no evento.
Matemática desigual
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças não comunicáveis são responsáveis por nada menos do que 63% das mortes em todo o mundo. O câncer, sozinho, causa mais mortes no planeta do que aids, tuberculose e malária juntas. Do total de óbitos por câncer, 80% estão em países em desenvolvimento, como o Brasil e a China.
Embora sejam responsáveis por milhões de mortes todos os anos, as DNCs, juntas, recebem menos de 3% do total de investimentos em saúde feitos no planeta. Para o diretor do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, Harold Varmus, o montante já era pequeno em um mundo em que a maior parte da população pobre morria de doenças infecciosas.
“Hoje, com os índices crescentes de obesidade, tabagismo e sedentarismo observados especialmente nas nações em desenvolvimento, esse investimento é considerado muito menos do que insuficiente”
avalia Varmus.
Uma das principais razões pelas quais as DNCs recebem pouca atenção governamental em escala global é o fato de os principais fatores de risco para essas doenças serem consequências do desenvolvimento e da adoção de hábitos de vida pouco saudáveis. Assim, difundiu-se a ideia de que a obesidade, o tabagismo e o sedentarismo são decisões unicamente individuais e por isso não devem ser tratadas como epidemias que exigem atenção e enfrentamento imediato.
“Não entendo por que é politicamente aceitável que uma criança seja obesa enquanto é politicamente incorreto que outra passe fome”questiona John Seffrin CEO da Sociedade Americana do Câncer.
Para o economista David Bloom, professor de Economia e Demografia da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, os responsáveis pelas políticas econômicas precisam parar de encarar as DNCs apenas como um problema de saúde.
“São doenças que geram perdas financeiras consideráveis porque tiram da força de trabalho pessoas em idade ativa, que poderiam estar produzindo riquezas para seus países” diz Bloom, lembrando que, em países pobres do globo, a capacidade de trabalho é o principal bem individual da população.
“ Se essas pessoas em idade ativa morrem ou fica impedidas de trabalhar, isso certamente vai atrasar o desenvolvimento do país. Os governos precisam agir agora ou logo as perdas significarão um forte golpe na economia mundial”.
Se nada for feito para reduzir o impacto causado pelas DNCs, as estimativas da OMS para os próximos anos são preocupantes, em especial para os países em desenvolvimento. Um exemplo? O crescimento na incidência de câncer projetado pela entidade deve dobrar até 2030.
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