Estudo sugere que há mais probabilidade de que uma adolescente fique grávida se sua irmã mais velha tiver tido um bebê na adolescência
A gravidez na adolescência é "contagiosa" entre irmãs com idades próximas, segundo um estudo feito por pesquisadores britânicos e noruegueses.
A pesquisa, envolvendo mais de 42 mil adolescentes norueguesas, sugere que há mais probabilidade de que uma adolescente fique grávida se sua irmã mais velha tiver tido um bebê na adolescência.
O efeito é ainda maior quando as irmãs têm idades próximas e são de nível econômico mais baixo, os pesquisadores concluíram.
Segundo eles, o trabalho é relevante porque demonstra quão poderosa é a influência da família sobre o comportamento adolescente em comparação à escola e às instituições sociais.
Estudo
Os pesquisadores, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, da Universidade de Bergen e da Norwegian School of Economics, na Noruega, analisaram dados de crianças norueguesas nascidas entre 1947 e 1958 para comparar famílias de nível sócio-econômico semelhante vivendo em diferentes regiões do país.
Já foi constatado que fatores como nível sócio-econômico e educação influenciam índices de gravidez na adolescência. O novo estudo observou o efeito específico que irmãs exercem umas sobre as outras.
"Irmãs normalmente passam mais tempo juntas do que colegas de escola ou amigas, portanto há maior probabilidade de que uma irmã seja influenciada pelo comportamento da outra", diz o estudo.
O estudo concluiu que, entre adolescentes de nível sócio-econômico baixo na Noruega, a probabilidade de uma irmã menor ficar grávida na adolescência aumenta de 20% para 40% se a irmã mais velha tiver tido um bebê quando adolescente.
A probabilidade de uma gravidez na adolescência foi reduzida entre crianças com maior escolaridade, mas o efeito foi menor do que a influência exercida pela gravidez da irmã mais velha.
Uma das pesquisadoras envolvidas, a britânica Carol Propper, da Universidade de Bristol, descreveu o fenômeno como o "efeito contagioso da maternidade na adolescência".
"Dois grupos foram particularmente vulneráveis - o das famílias de baixa renda e o das irmãs com idades próximas", disse a pesquisadora.
'Efeito irmã' e a diferença de idade
Segundo Propper, o "efeito irmã" diminui à medida que aumenta a diferença de idade, já que irmãs com idades muito diferentes estariam em "trajetórias de vida diferentes". Irmãs com idades próximas, por outro lado, tendem a frequentar o mesmo círculo social.
O estudo foi baseado em nascimentos em vez de concepções. Propper disse que uma irmã mais velha que tem um bebê pode influenciar a decisão da irmã menor de ficar com o bebê.
"O estudo diz quão importante é a família em comparação às instituições ou à obrigatoriedade de que uma criança permaneça na escola por dois anos adicionais", afirma a especialista. "Mais políticas voltadas para a diminuição da gravidez na adolescência podem ser necessárias de forma a reduzir os partos de adolescentes."
Rebecca Findlay, representante da entidade britânica Family Planning Association, que oferece aconselhamento sobre sexualidade e contracepção, disse que "a gravidez na adolescência é complicada".
"Baixos níveis sociais, econômicos e de educação têm grande impacto sobre ela, e já sabemos que ser filha de uma mãe que ficou grávida na adolescência é um dos fatores de risco que contribuem para uma gravidez na juventude."
Findlay pondera que, "embora seja difícil fazer comparações diretas entre países nesse momento, o estudo é interessante".
Jules Hillier, vice-diretor-executivo da entidade britânica Brooks, que oferece orientação sexual a jovens britânicos, disse que várias medidas precisam ser adotadas para reduzir índices de gravidez na adolescência - entre eles, educação sexual e acesso fácil a serviços de saúde voltados à sexualidade.
Fonte Estadão
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