Orientações vagas dadas pelos médicos prejudicam o uso correto dos remédios
Novo estudo mostra que as prescrições de medicamentos costumam ser tão vagas que os pacientes idosos, muitas vezes em uma rotina de até de 7 comprimidos diários, podem acabar tomando a medicação de forma incorreta.
Além disso, muitos pacientes não se dão conta de que podem tomar diversos medicamentos de uma única vez. A equipe de pesquisa observou que instruções simples e padronizadas, que facilitem a compreensão sobre frequência e dosagem, são de extrema necessidade.
“Ao receber prescrições de vários medicamentos diferentes, os participantes do estudo complicaram a rotina de forma desnecessária”, disse Michael Wolf, professor assistente de medicina da Northwestern University’s Feinberg School of Medicine, de Chicago, que liderou a pesquisa.
Wolf ressaltou que atualmente muitos idosos chegam a tomar até sete medicamentos diferentes todo dia. “Observamos que a medicação estava sendo tomada com maior frequência diária do que o necessário”, disse ele.
O relatório foi publicado na edição de 28 de fevereiro do periódico Archives of Internal Medicine.
Para o estudo, Wolf e sua equipe conversaram com 464 pacientes, entre os 55 e os 74 anos.
Os pesquisadores observaram que, embora a maioria deles tivesse bom nível acadêmico, praticamente a metade não dispunha de “conhecimentos sobre práticas de saúde” – ou seja, a habilidade do paciente de compreender as informações recebidas sobre sua saúde, os remédios que devem ser tomados e a habilidade de desempenhar tarefas relacionadas à sua saúde.
“Estudos realizados nas últimas duas décadas já haviam relacionado o conhecimento insatisfatório sobre a saúde a resultados mais baixos e a piores índices de mortalidade”, disse Wolf.
O pesquisador-chefe conta que, depois de designar aos pacientes uma rotina de sete medicamentos diários, a equipe constatou que os mesmos chegavam a tomar remédios até 14 vezes ao dia. “Eles não deveriam estar tomando a medicação mais do que 4 vezes ao dia”, argumentou Wolf.
Ele explicou que cada paciente precisa encontrar a forma mais eficiente de tomar a medicação, estabelecendo uma rotina. “Constatamos que, quando os pacientes receberam a prescrição de dois medicamentos com exatamente as mesmas instruções, um terço deles não combinou os dois remédios no mesmo horário. Quando eram instruídos a tomar o medicamento com água ou durante as refeições, metade dos pacientes também não combinava a medicação”, ele explicou.
Para solucionar o problema, Wolf sugere aos médicos que mudem a forma de prescrever os medicamentos. “Em vez de dizer ao paciente para tomar determinado remédio duas vezes ao dia ou a cada 12 horas, a prescrição deveria ser para tomar determinada medicação pela manhã, ao meio-dia, à noite ou na hora de dormir – como em um horário universal de medicações”, ele explica.
Ele complementa que os médicos precisam informar melhor a seus pacientes sobre os medicamentos prescritos, quando e como tomá-los, e quais deles podem ser combinados em um único horário. Laurence Gardner, um dos diretores da University of Miami Miller School of Medicine, concordou que “não é fácil para os idosos simplificar o horário dos medicamentos para tomá-los, ao máximo, quatro vezes ao dia”.
Entretanto, Gardner disse que o estudo não mostrou que os pacientes sofreram danos por não simplificarem a rotina da medicação. Porém, ele complementou que erros podem acontecer com maior freqüência neste tipo de cenário.
Gardner sugere que uma das formas de simplificar a prescrição de medicamentos é o uso de registros médicos eletrônicos. “Apesar de não haver uma economia de custos, é mais seguro para os pacientes. Não seria complicado desenvolver uma linguagem comum sobre a frequência da medicação”, ele argumenta.
Outra especialista, Terri Ann Parnell, diretora corporativa da North Shore-Long Island Jewish Health System, de Nova York, ficou surpresa com a quantidade de pacientes de bom nível acadêmico sem conhecimentos sobre saúde.
“Foi ressaltado no estudo, de forma persuasiva, que a maioria dos participantes era de nível acadêmico alto e, mesmo assim, tinha pouquíssimo conhecimento sobre saúde. Acredita-se que esta falta de informação seja um problema exclusivo dos grupos de baixo nível socioeconômico e acadêmico. Este estudo mostra que este não é o caso”, disse a especialista.
Na opinião de Parnell, os médicos devem usar uma linguagem simples para dar instruções aos pacientes. Além disso, eles podem checar a compreensão pedindo aos pacientes para repetir as instruções recebidas. “A idéia não é testar os pacientes, mas pedir a eles que repitam, com suas próprias palavras, as instruções que acabaram de receber”, ele explica.
Fonte IG
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