Metas inatingíveis e obsessão pela forma física podem trazer problemas. Aprenda a fugir desta cilada
O primeiro maratonista de quem se tem notícia morreu ao cruzar a linha de chegada. Diz a lenda que lá pelos anos 490 a.C, os persas foram vencidos pelos gregos na Primeira Guerra Médica. Encarregado de levar a boa notícia da planície da Marathónas até a cidade de Atenas, Filípedes correu cerca de 42 km. Ao chegar ao seu destino, teve tempo apenas de anunciar a vitória e caiu, morto pelo esforço.
A crença que teria dado origem à maratona como competição olímpica pode ser um dos mais antigos relatos de morte súbita em atleta. A morte repentina e as lesões em competidores foram discutidas no 1° Congresso Brasileiro de Artroscopia e Traumatologia do Esporte em Gramado,no último dia 18. De acordo com pesquisas internacionais, a principal causa de morte relacionada ao exercício em indivíduos com menos de 35 anos é a miocardiopatia hipertrófica (doença que engrossa parte do músculo do coração). Uma em cada 500 pessoas teria alguma variação que potencializa o gene para essa enfermidade,mas apenas um percentual pequeno delas vai estar de fato sob risco. Já no indivíduo com mais de 35 anos, é a aterosclerose (gordura que obstrui as artérias do coração) a principal causa de morte súbita, explica o cardiologista e especialista em Medicina do Exercício Ricardo Stein.
— A morte súbita do atleta é rara,mas tem um imenso impacto social porque a pessoa é famosa e porque eram sinônimo de saúde – destaca Jorge Pinto Ribeiro, chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos deVento e doutor em fisiologia do exercício.
Em tempos de abolição do sedentarismo,é até estranho mostrar fatores contrários à prática de exercícios físicos. Mas os extremos são igualmente perigosos. O cardiologista Jorge Pinto Ribeiro explica, que como regra, uma sociedade mais ativa tem mais saúde e consegue-se reduzir uma série de doenças, como hipertensão e diabetes. Na outra ponta,estão aqueles que abusam do que o corpo pode oferecer.
— Os carros mais caros do mundo são os de fórmula 1, e eles vão para conserto todos os dias. Fazendo uma analogia com alguém que trabalhe no limite do desempenho, mesmo que se faça um investimento alto, tende a quebrar — detalha Ribeiro.
Nessas condições, a velha suspeita de que o jovem estaria mais protegido cairia por terra. Para o cardiologista Nabil Ghorayeb, coordenador do Sport Checkup HCor (Hospital do Coração), fazer atividade física requer cautela,independente da faixa etária:
— Esporte não mata, o que mata são as doenças não diagnosticadas ou não valorizadas. Há mais riscos no cenário do alto desempenho. Quem participa de competições deve fazer três coisas: entrevista médica, exame físico e um eletrocardiograma de repouso.
Incerto sobre até onde a máquina humana pode chegar, o traumatologista do esporte Luis Roberto Marczyk recomenda o inverso da competição: a prática de esportes apenas de forma recreativa.
Já o preparador físico Mario Sergio Andrade Silva, um dos principais treinadores de corrida do país, já colocou seu corpo próximo a limites perigosos. Com o tempo,passou a respeitar os sinais de fadiga.
— Os amadores querem ter uma postura de atleta profissional, levar o corpo ao limite, sem a estrutura que o profissional tem. Não existe uma microcâmera dentro do corpo mostrando como o esforço desgasta a médio prazo.O que sabe é que mais gente chega aos 50 anos totalmente arrebentado — avalia Silva.
Ricardo Stein diz que exigir alta performance o tempo todo do organismo não é salutar.
— Em muitas modalidades, o ser humano já chegou próximo do seu limite. A partir de agora é a tecnologia que vai fazer com que sejam alcançadas marcas mais impressionantes ainda — pontua o médico.
Exageros revelam falta de sentido na vida
O prazer proporcionado pelo exercício físico tende a ser viciante. A psicóloga Roberta Lobato, especialista em psicologia do esporte e hospitalar, explica que pessoas ansiosas ou depressivas tendem a colocar toda a sua disposição no esporte como forma de fuga:
— Geralmente, dão muita importância para o corpo. Para alguns é a única forma de prazer — analisa.
Alessandra Bueno, 36 anos, quase embarcou nessa. Dos 16 aos 18 anos, era atleta de caratê. Em 1994, teve uma séria lesão no joelho e precisou colocar pinos para fortalecer os ligamentos. Depois de um ano de fisioterapia, ao tentar retomar os treinos, se decepcionou.
— Poderia ter tido paciência e voltado aos poucos - lembra Alessandra, que passou a fazer ioga e hoje faz dança flamenca.
Alguns reflexos da alta performance
Alpinismo — possibilidades de queda, ferimentos generalizados, cegueira, congelamento e perda dos dedos das mãos e dos pés. Há riscos também de desenvolver problemas respiratórios e congelamento pulmonar pela respiração do pó de gelo, além de falta de oxigenação do cérebro por causa do ar rarefeito.
Boxe — constantes golpes na cabeça podem ocasionar deslocamentos do cérebro, microtraumas de repetição e deixar o lutador com sequelas. Há, ainda, mais chances de desenvolver o Mal de Parkinson.
Corrida de aventura — envolve trecking, caiaque, escalada e mountain bike, podendo ser individual ou em equipe. As provas duram entre cinco e seis dias, nos quais o atleta não dorme e ainda tem que carregar seu kit de alimentação e primeiros socorros. Causa desorientação e fadiga física extrema, perda de unhas e da pele das solas dos pés, além do aumento do volume do coração.
Endurance — em esportes de longa duração, como triathlon e ultramaratonas, leva-se o corpo a extremos e sua recuperação é demorada. Após o término da prova, fica-se vulnerável a lesões e doenças devido à baixa imunidade do corpo, gerada pelo extremo esforço físico. O que causa o desgaste não são as distâncias da competição, mas os exaustivos e longos treinamentos. Atletas são reanimados com soro na veia. Há ainda envelhecimento precoce da pele, por causa da grande desidratação.
Fisiculturismo — prática esportiva onde a alimentação e a suplementação não são suficientes para o ganho da massa muscular desejada, direcionando os atletas para medicamentos de uso veterinário, causando desde a perda de membros e distúrbios mentais até a morte. O fisiculturista busca o aperfeiçoamento do físico, mas não tem resistência muscular e aeróbica, assim tem a expectativa de vida encurtada. O excesso de substâncias químicas que injeta também podem prejudicar o funcionamento do fígado e dos rins.
Fonte: Ariel de Deus, educador físico
Sinais de alerta
:: Constantes lesões
:: Falta de apetite
:: Cansaço anormal
:: Irritabilidade
:: Falta de ânimo
:: Perda de força
:: Resfriados frequentes
:: Dores de cabeça
:: Insônia
:: Tremor nas mãos
:: Depressão
:: Ansiedade
Fonte Zero Hora
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