Pela primeira vez, foi testado em humanos o transplante de células-tronco, retiradas do próprio coração, para combater a insuficiência cardíaca. E a estratégia teve bastante sucesso.
O uso de células-tronco aumentou a capacidade de o coração bombear sangue e fez com que o tecido afetado pelo infarto, considerado morto, conseguisse se regenerar.
Como os tratamentos atuais não resolvem esse problema, conseguir a reparação é "a busca pelo Santo Graal", segundo Luís Henrique Gow-dak, médico-assistente do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular e coordenador clínico dos estudos de terapia celular em cardiopatias do InCor (Instituto do Coração da USP).
"Nosso entendimento era de que o miocárdio morto tinha capacidade de regeneração inexistente. O trabalho desafia esse conceito, é um marco. Provou que essa recuperação é possível e não traz efeitos adversos", afirma.
O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Louisville e de Harvard, nos EUA, foi publicado na revista médica "Lancet".
Existem vários tipos de células-tronco, todas conhecidas por causa da capacidade de assumir a função de diversos tecidos. As do coração ajudam a formar as várias partes do órgão.
Em 14 pacientes (entre 16 que fizeram o autotransplante de células-tronco), foi observada, depois de quatro meses, uma redução de 25% do tamanho da área de músculo morto, medida por ressonância magnética.
Todos os voluntários já tinham sofrido infarto do miocárdio e feito ponte de safena -foi na cirurgia, inclusive, que as células-tronco foram retiradas do átrio.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
BOMBA
O transplante parece ter levado a um aumento expressivo na capacidade de o coração bombear sangue.
Em pacientes que receberam a infusão de células-tronco, o índice que mede essa capacidade, chamado de fração de ejeção do ventrículo esquerdo, aumentou de 30% para 38,5% em quatro meses.
O valor normal é de 55%, e todos os voluntários do estudo tinham esse índice abaixo de 40%, o que representa insuficiência cardíaca.
Surpreendentemente, esse índice aumentou ainda mais (de 39,2% para 42,5%) após um ano em oito pacientes.
De acordo com Gowdak, essa melhora pode significar, a longo prazo, menor mortalidade e menor taxa de admissão em hospitais.
O mesmo grupo de pesquisadores já havia tido sucesso em estudos com animais. Agora, testaram a técnica em humanos, em um estudo pequeno, para atestar a segurança do transplante.
Os próprios autores, porém, são cautelosos ao comentar os resultados do trabalho, afirmando que estudos maiores são necessários para ver se a técnica é eficaz.
"O trabalho é louvável e registra seu nome na história, mas não é conclusivo nem definitivo. Mais de uma vez já vimos histórias como essa, que começam bem, mas, em grupos maiores, não se mostraram replicáveis", afirma Gowdak. "O grupo estudado é um grão de areia perto do universo de pessoas com doenças do coração."
Ele lembra também que são pacientes na casa dos 50 anos. Não é possível saber se doentes de idade mais avançada teriam uma resposta tão boa, ressalta Gowdak.
Fonte Folhaonline
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