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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Guia para mães revela antigas regras de especialistas para bebês

No começo do século 20, quando a mortalidade infantil atingia 0,16% dos nascidos vivos (cerca de quatro vezes a taxa atual), a relação das mamães com os bebês ganhou mais atenção.

Isso porque melhorar os cuidados com a criança, especialmente na higiene e na amamentação, poderia reduzir o número de mortes por infecções e outras doenças.

Editoria de Arte/Folhapress

Assim tiveram início os "guias maternos" com discurso higienista na primeira metade do século 20, época em que o mercado editorial brasileiro se expandia.

Onze guias dessa época, pinçados em sebos paulistas, foram revistos pela educadora Maria das Graças Magalhães em sua tese de doutorado defendida recentemente na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Nos livretos, os médicos pregavam que as mães impusessem em casa um ambiente "hospitalar", livre de micro-organismos. A ideia difundida era que uma vida regrada garantiria a saúde e a docilidade das crianças. "Dizia-se, por exemplo, que a mãe não deveria beijar o bebê", conta Magalhães.

CRENDICES
Além disso, boa parte dos pediatras lutava contra crendices populares. Por exemplo, ensinava-se que amuletos não curam e que dar a água do primeiro banho para o bebê tomar não deixaria a criança mais bonita.

"O Brasil é um país multiétnico, com grande quantidade de imigrantes. Há crendices vindas de todas as partes", analisa a educadora. A especialista, no entanto, não acredita que os guias substituíram as "conversas de comadre".

O que ela observou foi que as mães se apropriaram das informações para fazer recomendações a outras mulheres, suprimindo ou acrescentando dados. A tradição feminina de trocar conselhos é, inclusive, destacada no "Guia das Mãezinhas", de 1937.

O autor, o médico Wladimir Toledo Piza, recomenda que as mães sigam os conselhos médicos no lugar de ouvir as amigas e vizinhas "que ensinam o que não sabem porque não estudaram".

Além dessa imagem das leitoras como "tricoteiras", os guias também consideravam a mulher como dispersiva, romântica e com dificuldade de concentração para leituras contínuas --algo parecido com algumas revistas femininas da atualidade.

MAMANDO NO PEITO
Outro trabalho dos guias maternos era incentivar a amamentação no peito pela mãe --campanha que ganhou forma já no final do século 19.

Nessa época, as mulheres ricas mantinham amas de leite, ou seja, mulheres que tinham dado à luz e que ganhavam uns trocados para amamentar os bebês da elite.

"A preocupação dos médicos era com a transmissão de doenças pela amamentação e com a saúde dos bebês das amas, que ficariam com menos leite", explica Magalhães.

Esse discurso vai mudando conforme o leite industrializado ganha força no Brasil --época em que a indústria de alimentos também passa a produzir guias maternos para divulgar os seus produtos.

A ideia de levar a higiene para casa ensinando as mulheres não foi uma novidade dos guias para as mamães.

De acordo com Magalhães, as professoras da escola normal (para meninas) já educavam as garotas sabendo que elas levariam conceitos de higiene para toda a família.

Mas, no caso dos guias, havia uma proposta de responsabilizar a mulher pelas práticas de higiene. "A figura do homem quase não aparece nos livretos", diz Magalhães.

Isso só muda na década de 1950, quando a mulher ingressa com mais força no mercado de trabalho. Mesmo assim, o homem só aparece nos livretos como a figura que dá a palavra final.

Fonte Folhaonline

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