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segunda-feira, 19 de março de 2012

Desafios para equilibrar gestão hospitalar e saúde do paciente

Para o blogueiro, na medida em que a medicina segue o caminho inevitável da socialização, médicos gradativamente perdem seu poder decisório

Dizem que médicos não são bons administradores. Sabem tratar de pacientes e doenças, mas quando precisam negociar honorários, tabelas, vencimentos, pacotes hospitalares deixam muito a desejar. Existem exceções, mas em regra, médicos preocupam-se muito mais com a saúde dos pacientes do que com os custos para mantê-la. O risco deste comportamento é que a gestão da saúde, se não for muito bem controlada, pode ser deficitária. A profissionalização da administração, com o intuito de viabilizar o sistema, foi uma exigência quase que formal, porém esbarrou em um problema de sensibilidade.

Produtos podem ser gerenciados de maneira fria e matemática, pacientes não. Médicos não conseguem e não podem trabalhar sem envolvimento emocional, compaixão pelo sofrimento e obstinação pela cura. Imagine como seria se algumas manobras comerciais realizadas por empresários e absorvidas passivamente pelos consumidores, fossem utilizadas também a nível médico-paciente.

Precisei comprar um refrigerador novo. Fui a uma loja, escolhi o modelo e no momento de efetivar a compra, o vendedor ofereceu uma extensão da garantia do produto contra defeitos de fabricação. Por um pequeno valor a ser adicionado, ao invés de um ano de garantia, a loja me ofereceria mais 12 meses de tranqüilidade e segurança.

Reflexão
Se o fabricante oferece apenas um ano de garantia para um aparelho que fica encostado em um canto com função exclusiva de resfriar alimentos e bebidas, quanto tempo um cirurgião pode oferecer de garantia pelo seu serviço a um paciente que tem pensamento e atitudes próprias? O fato da cirurgia (serviço realizado pelo cirurgião) ter sido um sucesso, não é garantia de ótimo resultado.

Morbidades podem surgir se o paciente fumar, realizar esforços físicos exagerados, não obedecer instruções médicas ou até mesmo devido a reações inesperadas do organismo. Ainda assim o cirurgião sente-se responsável pelo resultado e mantêm seus cuidados até solucionar o problema. Eletrodomésticos têm garantia somente para defeitos de fabricação, mau uso não está coberto pelo seguro. Descuidar da saúde também pode ser considerado mau uso do organismo?

Comprei um automóvel novo. Dentre as muitas recomendações ao proprietário, uma destacava-se, frisada em negrito. A revisão dos 10, 20 e 30 mil kilometros deve ser realizada nas concessionárias sob pena de perda da garantia do veículo.

Reflexão
Se o fabricante de automóveis oferece garantia de seu produto condicionada a revisões periódicas por empresas credenciadas, por que o plano de saúde não pode oferecer cobertura apenas se o contribuinte realizar exames preventivos de rotina, solicitados de acordo com o sexo, idade, profissão, patologias prévias?

Antes de sair da loja, o vendedor ofereceu um seguro contra roubo e acidentes. Por um valor equivalente a dez por cento do valor do automóvel, tanto meu carro como o de terceiros teriam ressarcimento em caso de alguma eventualidade. Danos pessoais também teriam coberturas específicas. Haveria um desconto progressivo no valor a ser cobrado, de acordo com os cuidados anti-roubo instalados no veículo e também a não ocorrência de acidentes durante o período segurado – bom motorista.

Reflexão
Planos de saúde, à semelhança de seguradoras de automóveis, oferecem cobertura para eventualidades médicas. Por que acidentes automobilísticos onde o segurado comprovadamente conduzir o veículo alcoolizado (mau motorista), não podem cancelar automaticamente os seguros do carro e médico-hospitalar, sem direito à indenização?

Pacientes não podem ser confundidos com objetos ou números. Uma visão empresarial, focada no lucro e em metas admite propostas isentas de envolvimento humano, porém médicos não foram treinados e não conseguem trabalhar desta maneira. Algo vai mal.

Na medida em que a medicina segue o caminho inevitável da socialização, médicos gradativamente perdem seu poder decisório e auditores passam a determinar número e intervalo de consultas mensais, período de internação, material a ser utilizado nos procedimentos, exames complementares necessários ou supérfluos e até mesmo indicação de cirurgias.

A gestão das contas encontra-se em situação estável e em saúde perfeita. Médicos disputam empregos, executam protocolos e retiram seus salários no final do mês. Enquanto isto, a saúde dos pacientes…Parece ficção científica, mas não é. Infelizmente.

Fonte SaudeWeb

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