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quarta-feira, 7 de março de 2012

Inca, Icesp e IBCC: juntos em prol do Brasil referência em oncologia

Instituições investem em pesquisa clínica e parcerias com a indústria para posicionar o Brasil entre os líderes no combate ao câncer. Paulo Hoff conta detalhes sobre o novo centro de pesquisa clínica do Icesp

Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que, nos próximos dois anos, o Brasil terá 520 mil novos casos de câncer. No levantamento realizado no ano de 2010, o número de diagnósticos previstos era de 489.270. Entre muitos fatores que levam ao crescimento no número de pacientes que necessitam de cuidados oncológicos, o envelhecimento populacional é um dos motivos que mais chama atenção.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o governo investiu cerca de R$ 2,2 bilhões na área de atenção oncológica em 2011. Por trás dos investimentos estão instituições públicas como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Otávio Frias de Oliveira (Icesp) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

”O número de pacientes com câncer é muito grande, imaginar que 40% ou 50% destas pessoas vão morrer pela doença explica a urgência em relação a novos tratamentos”, analisa o diretor geral do Icesp, Paulo Hoff.

Pensando em se aprofundar nesse objetivo, a instituição aprimorou um trabalho que já era realizado anteriormente e, junto com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, inaugurou, em janeiro deste ano, o Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia. Segundo Hoff, os estudos oncológicos são divididos em fases que vão de um a três e o Brasil possui uma grande participação em análises relacionadas à última etapa.

“O que estamos tentando, com o desenvolvimento deste novo centro, é ajudar a melhorar a infraestrutura para possibilitar que estudos de fase dois sejam feitos em maior número e que sejamos reconhecidos como um local com capacidade de realizar estudos de fase um. Além disso, nossa expectativa é alcançarmos o desenvolvimento de fármacos em fase inicial, junto com as universidades e empresas”, afirma Hoff.

Aliada à pesquisa clínica, o empreendimento trabalha também com estudos ligados à pesquisa transnacional. O oncologista conta que estão sendo testados novos tratamentos em pacientes, por meio de amostras de tumor e sangue, que passarão por análises no laboratório e os pesquisadores poderão ver que tipo de impacto essas terapias tiveram no tumor e no paciente. Em seguida, esses resultados serão levados de volta à pesquisa clínica para que o tratamento seja aprimorado. Para Hoff, estes ciclos começam a formar e impactar no desenvolvimento de novas drogas.

Em curto prazo, Hoff conta que o novo centro visa permitir que pacientes que não contam com alternativas de tratamentos eficientes tenham a chance de receber uma terapia nova. Em médio e longo prazo, o projeto almeja melhorar o tratamento como um todo aos pacientes.

“Mais para frente, esperamos que o aumento da pesquisa leve ao desenvolvimento de novos remédios no Brasil e estimule a indústria a ser mais criativa, produzindo novos fármacos que possam ser utilizados na nossa população e também sejam exportados”.

Com investimento de R$ 2,1 milhões, o laboratório montado no 12º andar do prédio do Icesp tem capacidade para até 80 profissionais, centrífugas, geladeiras e poltronas especiais destinadas à quimioterapia. Esse é o mais novo projeto do hospital. Inaugurada em 2008, a instituição paulista é a primeira a adotar a técnica de radiocirurgia para tratar tumores intracranianos e de pulmão. Além disso, conta com PET-CT e ultrassom para destruir tumores. A entidade também é a primeira a receber certificado para fazer com que o prontuário seja totalmente eletrônico.

O que vem por aí
Este ano, o hospital vai atender mais de 16 mil casos de câncer. Diante do número, a meta é colocar em pesquisa clínica mais ou menos 500 ou 600 pacientes. “Eventualmente, gostaríamos que esse número chegasse a 10% dos pacientes. O benchmarking internacional de uma instituição de ensino é colocar mais ou menos 5% dos pacientes em pesquisa clínica. Nós queremos passar esse número”.

Entre os trabalhos em andamento, destaca-se uma pesquisa patrocinada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), com verba do governo federal, que consiste no desenvolvimento de um novo anticorpo para tratar câncer de mama. “Esse medicamento está sendo produzido por uma empresa brasileira e os estudos acontecerão em seis centros de pesquisa ao redor do Brasil”.

Além dos objetivos citados, em consonância com essa realidade o Icesp já está desenvolvendo 102 projetos de pesquisa para descobrir novas possibilidades de tratamento. Hoff chama atenção para as parcerias com as indústrias, ao citar que mais de 40 desses estudos são realizados em conjunto com empresas. “Desenvolver um remédio para tratar da doença é muito caro e parte desta criação vem do pipeline das indústrias. Estamos abertos para estabelecer novas alianças”.

Mais do que implantar um programa para aprimorar a forma de tratar um paciente oncológico, Hoff quer ir além. “Nós temos uma das maiores diversidades do mundo em termos de biologia na Amazônia, oceanos e biomas diferentes. Grande parte desses componentes não foi avaliada por seu potencial de uso na saúde. Se tivermos investigadores capacitados e infraestrutura escalada, isso fará com que esse material seja explorado no termo mais positivo”.

Em busca do DNA da qualidade
As iniciativas em torno de descobrir e produzir novos fármacos para o tratamento oncológico não se restringem apenas ao estado de São Paulo e, sim, fazem parte de uma iniciativa de âmbito nacional. No final de 2011, o Ministério da Saúde instituiu a Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (Redefac), que tem o objetivo de estimular a produção nacional de tecnologias terapêuticas inovadoras na área, diminuir a dependência do mercado externo em relação a essa produção, elevando também a competitividade da indústria brasileira.

A Rede será administrada pelo Inca e vai contar com investimentos iniciais de R$ 7,5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Ministério da Saúde. O projeto será composto por grupos de pesquisa e desenvolvimento ligados às instituições públicas brasileiras, como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), BNDES, Laboratório Nacional de Biociências e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A gestão da rede também contará com o apoio da Fundação Ary Frauzino para a Pesquisa e Controle do Câncer.

De acordo com o vice-diretor e coordenador de educação e pesquisa do Inca, Luiz Augusto Maltoni, o objetivo do projeto é mapear no País centros que já tenham desenvolvimento de moléculas e assim unificar esses estudos com outras instituições. “Atualmente, vivemos uma desarticulação do trabalho. Muitos núcleos têm a capacidade de desenvolver uma molécula, mas não têm estrutura translacional. Sendo assim, é preciso aliá-los a outra estrutura. A ideia da rede é agregar todos esses centros em uma coisa só”.

Maltoni diz que, por enquanto, não há possibilidade de mensurar o valor que será investido para a realização deste projeto. “Não é um recurso tátil, vamos publicar editais para desenvolver trabalhos nessa linha de oncologia, mas estimamos que os recursos aplicados sejam na ordem dos milhões”.

O Inca também fechou, no ano passado, uma parceria com o laboratório farmacêutico GlaxoSmithKline (GSK) para a realização de cursos pesquisas e, potencialmente, para o desenvolvimento de novos tratamentos e medicamentos na área de oncologia. O acordo prevê que médicos e pesquisadores do Inca e da GSK compartilhem conhecimento.

“É um conjunto de atividades que vão desde o desenvolvimento de pesquisa clínica até a fase três do estudo. Vale lembrar que o treinamento de pessoal não se restringe à GSK, temos contato com outras empresas e outras instituições também”, explica Maltoni. E ressalta que, cada vez mais, o instituto está participando dos protocolos clínicos. “Queremos estreitar a relação com a indústria não apenas por ser uma demanda das empresas, mas porque muitas querem aliar seu esforço à premissa de orientar questões políticas relacionadas ao câncer”.

Maltoni diz que diante da dificuldade de encontrar instituições brasileiras que façam estudos de desenvolvimento de pesquisa e a englobem, na fase um da análise é necessário capacitar pessoas e multiplicar esses centros. “É impossível trabalhar em um assunto sem pesquisa. Só conseguiremos avançar em um controle do câncer sob o ponto de vista dos estudos. Essas questões são de interesse público”.

Em relação ao tempo estimado para que seja possível obter resultados destes projetos, Maltoni explica que não dá para trabalhar pesquisa em um tempo imediato. “São de dois a cinco anos para obtermos resultados em uma tese de orientação que tem obrigatoriamente um compromisso de reverter aquilo que já conhecemos. O Inca tem por obrigação cumprir essa missão”.

Entre os casos que são considerados prioridade pelo Ministério da Saúde, Maltoni destaca colón, mama, pulmão e próstata. E diz estar otimista, pois acredita que é possível ter resultados em um período de 5 a 15 anos. “A tendência é que com o passar do tempo e com o surgimento de novas drogas e mais conhecimento sobre as doenças seja possível controlar os casos, fazendo com que o paciente tenha uma boa qualidade de vida ou não morra de câncer”.

O diretor geral do Icesp, Paulo Hoff, completa ao dizer que hoje os casos de câncer se estabilizaram em países como Estados Unidos e Europa Ocidental e a tendência é que o Brasil também passe por esse processo. Melhor do que encontrar respostas para possíveis tratamentos contra o câncer é ver que profissionais do Brasil enxergam esperança pelas lentes de seus microscópios.

Fonte SaudeWeb

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