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terça-feira, 10 de julho de 2012

“O problema é mão de obra”

Por Maria Cristina Amorim e Eduardo Perillo*

A cultura secular de casa grande e senzala ainda impera no ambiente da saúde, transformando-a em indústria de segunda classe

Em recente reunião, o chefe da UTI foi categórico: “não é o custo do equipamento que encarece, é o da mão de obra. Se não pagar R$ 1.000 por plantão de 12 horas, não aparece médico para trabalhar”.

Uma conta rápida mostra que a remuneração por hora sairia por R$ 83,33. Então, se você estiver na UTI e sofrer uma parada cardíaca, procedimento que leva aí de 30 a 40 minutos em média para ser resolvido — para um lado ou para outro — o médico de plantão irá receber entre R$ 41,66 e R$ 55,55 para tentar salvar sua vida.

Parafraseando aquele apresentador de TV, “tá bom pra você?”

Mas não para por aí. O autor da medida provisória 568/2012 acha que os médicos dos serviços públicos federais ganham demais. Para aqueles do chão de fábrica, que atendem nos ambulatórios e hospitais do SUS, a partir de 1º de julho de 2012, o piso de remuneração mensal será reduzido à metade — não, você não leu errado — para R$ 1.242,41 por 40 horas semanais, e para R$ 621,21 para 20 horas semanais.

Por esse valor, nem mesmo os médicos que se pretende “importar” aceitarão trabalhar, quanto mais nos rincões distantes dos grandes centros.

A população tem direito ao atendimento de saúde de qualidade, mas é importante que saiba quanto recebem os profissionais responsáveis por esse atendimento. No serviço público, muitos vivem atualmente em situação de pré-indigência, que tende a piorar, isso sem falar nas precaríssimas condições de trabalho.

Só nos serviços públicos?
A cultura secular de casa grande e senzala ainda impera no ambiente da saúde, transformando-a em indústria de segunda classe. Em sua cadeia produtiva, dá-se maior importância a instalações e equipamentos, pondo de lado a importância do capital humano. Sim, capital humano, fator de produção e gerador de valor econômico, de riqueza.

Lemos na mídia que vultosos investimentos serão feitos por hospitais privados em ampliação de instalações e modernização de equipamentos, que os planos de saúde conseguiram expressivo aumento de faturamento sobre o exercício anterior, que o governo planeja gastos elevados na melhoria do acesso e do atendimento, mas não se mencionam gastos com pessoas.

São as pessoas que fazem a diferença — e só salários não bastam, como mostram os estudos de Abraham Maslow sobre a hierarquia das necessidades humanas. Vejam também como os formandos dos melhores cursos de economia, engenharia de produção e administração não procuram colocação na indústria da saúde, buscam outras áreas que oferecem melhores perspectivas de carreiras, de realização pessoal, satisfação profissional e remuneração.

Mas a indústria da saúde ainda não se deu conta disso. Pesquisa realizada para revelar as melhores empresas para se trabalhar no Brasil tem apenas um nome relacionado à cadeia produtiva da saúde, na área de diagnósticos.

Se o Brasil alçou à condição de 6ª maior economia mundial, também foi pela contribuição do complexo industrial da saúde, de mais de 8% do PIB. Mas é preciso partilhar essa riqueza criada entre os seus protagonistas, aqueles que, de fato, contribuíram para a sua expansão. E isso envolve a iniciativa privada e também o governo, que tem no enorme crescimento de sua arrecadação tributária razão mais do que suficiente para partilhar essa riqueza com seus servidores da área da saúde, tão esquecidos.

*Maria Cristina: Economista, professora titular da PUC-SP
Amorim e Eduardo Perillo: Médico, mestre em administração e doutor em história econômica

Fonte SaudeWeb

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