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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Dor pode até sumir em situações extremas

Foto: Divulgação
O verdadeiro Aron Ralston
Filme "127 horas" mostra a história de jovem que amputou o próprio braço para sobreviver. Veja como isso é possível

Antes mesmo do filme “127 horas” estrear nos cinemas brasileiros, ele já estava sendo bastante comentado por trazer uma cena forte.

O protagonista Aron Ralston amputa seu próprio braço com um canivete para se soltar de uma rocha, depois de passar quase cinco dias preso.

A cena é tão forte que fez pessoas desmaiarem em salas nos Estados Unidos e Austrália. O mais impressionante é que o incidente realmente aconteceu. O jovem interpretado pelo ator James Franco realmente precisou enfrentar a difícil decisão de cortar fora seu antebraço direito ou morrer preso no fundo de um cânion, em Utah (EUA).

O jovem montanhista sobreviveu. Mas afinal, que mecanismos do corpo e da mente entram em funcionamento para ele assumir o controle de uma situação extrema? “O cérebro muda seu modo de funcionamento quando há evidência de risco extremo”, explica o psicólogo Christian Kristensen, especialista em transtorno de estresse pós-traumático e professor da PUC-RS.

Algumas estruturas cerebrais são mais ativadas para que a pessoa consiga agir. Na prática, o indivíduo consegue aumentar sua atenção e seus reflexos, reduzir a percepção de dor e eventuais sangramentos.

São respostas automáticas do organismo, adaptadas em homens e animais com o passar do tempo para que pudéssemos sobreviver em situações extremas. “No processo de evolução do ser humano, ele precisou disso para situações de luta e enfrentamento ou de fuga”, explica o psicólogo.

Mais cortisol
O especialista conta que acontece uma ativação maior do eixo formado pelo hipotálamo e pelas glândulas suprarrenal e hipófise. A principal ação do eixo está na liberação do hormônio cortisol.

Ele aumenta a pressão arterial, a frequência cardiorrespiratória, a quantidade de açúcar no sangue e fortalece o sistema imunológico. Assim, a pessoa terá aumentada sua possibilidade de sucesso na situação extrema.

Na ação específica do sistema imunológico, o organismo recebe reforços contra possíveis infecções e já fica mais atento à possibilidade do corpo se ferir. A percepção de dor reduz bastante por alguns poucos minutos, graças também à liberação de dois importantes neurotransmissores: adrenalina e noradrenalina.

“É como se o organismo se reprogramasse para intensificar processos de curto prazo e reduzir o metabolismo de processos de longo prazo, como os sistemas digestivo e reprodutivo”, explica o psicólogo. “São ativados os processos mais ligados à sobrevivência”, afirma.

A dor, por exemplo, é um alerta natural do organismo para apontar a existência de algum problema. Contudo, em situações de risco extremo, ela é suprimida pela ação do cortisol e dos neurotransmissores para que a pessoa não perca o foco na luta pela sobrevivência.

Os neurotransmissores também agem provocando a constrição dos vasos periféricos. "O sangue fica concentrado na região central do corpo", explica a psiquiatra Miriam Gorender, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), regional Bahia.

Congelamento
Existe uma terceira resposta à situações extremas, que pode ser confundida com pânico. É o congelamento, quando a pessoa fica sem ação diante do perigo extremo. “Mas não se trata de uma resposta inferior ou menos qualificada. Em alguns casos, ela pode ser a resposta mais adaptada à sobrevivência”, afirma Kristensen.

Ele exemplifica com o caso de predadores que deixam de atacar suas vítimas quando elas param de se mexer ou se fingem de mortas. “Não dá para saber ao certo de que forma a pessoa vai responder, em caso de risco extremo”, conta o psicólogo. O processo de resposta é muito rápido, quase automático.

No caso do pânico, o congelamento acontece sem que haja uma evidência concreta de ameaça extrema. “A ameaça não é identificável”, explica. É diferente da resposta condicionada pela memória do organismo, acionada em situações de risco como um acidente de trânsito, uma queda nas escadas, um assalto, uma briga, entre outras.

Não é difícil perceber o funcionamento do mecanismo. Diante de um susto, o coração dispara. Às vezes só percebemos que estamos feridos minutos após o ferimento acontecer, como se a dor só voltasse a ser percebida quando nos acalmamos. "Temos inúmeros relatosde soldados, de pessoas feridas em situações de combate", afirma Miriam. "É como se houvesse um bloqueio da dor."

Outro fato importante destacado pelo médica é o preparo mental para situações de risco. "Um marinheiro sabe que pode se tornar um náufrago, assim como um montanhista sabe que pode sofrer um acidente", afirma. "Se fôssemos comparar a maneira como um soldado na guerra e uma pessoa num acidente de carro enfrentam a mesma dor, provavelmente o soldado conseguiria lidar melhor com a situação, por estar preparado para ela", diz.

O mecanismo de defesa com cortisol, apesar de eficiente em situações de risco, também tem seus efeitos colaterais. Quando acionado constantemente, pode caracterizar um quadro de estresse crônico e favorecer o surgimento da depressão. É realmente uma questão de tempo. Alguns indivíduos são mais resistentes outros menos, mas todos podem entrar em depressão após exposição excessiva ao efeito do cortisol.

Fonte iG

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