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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Violência familiar triplica chances de bebê ter atendimento tardio após nascer

Receio de detecção da violência pelo profissional da área leva mães nessa situação a relutar em levar o filho à unidade de saúde

A violência física entre casais aumenta em cerca de três vezes a possibilidade de a primeira visita do recém-nascido ao médico ocorrer somente após 60 dias do nascimento. Segundo estudo, o receio de detecção da violência pelo profissional da área leva mães nessa situação a relutar em levar o filho à unidade de saúde.

O levantamento foi realizado por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Estácio de Sá, que avaliaram se a violência entre parceiros é um fator de risco para o início tardio do acompanhamento do bebê em unidades básicas de saúde (UBS). Os resultados, publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, mostraram associação significativa entre violência física e menor utilização dos serviços de atenção básica ao cuidado à criança.

Os pesquisadores atribuem o achado ao impacto provocado pela violência na energia física e emocional da mulher e no tempo disponível para o cuidado da criança. " Esse comprometimento da energia da mãe pode decorrer das próprias lesões físicas, dos agravos à saúde mental e emocional, ou ainda, de uma demanda aumentada de energia para lidar com conflitos e incidentes violentos, para atender às necessidades do companheiro, bem como para promover a própria segurança" , explicam.

A pesquisa
O estudo, do qual participaram 927 crianças nos primeiros seis meses de vida cujas mães buscaram consulta médica em 27 UBS do SUS na cidade do Rio de Janeiro, revelou que, entre as mulheres sem trabalho ou com emprego informal, a violência física entre parceiros íntimos aumenta em cerca de três vezes a possibilidade de a primeira visita ocorrer somente após 60 dias do nascimento. Os estudiosos explicam que, ao contrário das mulheres em situação ocupacional instável, as trabalhadoras formais dispõem de maior disponibilidade de tempo para o cuidado da criança, em função da licença-maternidade. " A mulher que depende de um emprego informal para a sua subsistência tem de retornar rapidamente ao trabalho após o nascimento da criança, o que tenderia a dificultar as visitas à UBS, cujo funcionamento se restringe ao horário comercial" , dizem.

Em contrapartida, no grupo de mães em situação ocupacional estável, não foi encontrada relação significativa entre violência e a idade da criança na primeira visita à UBS. " A maior parte das atividades laborais promove uma maior convivência com outras mulheres em idade reprodutiva, facilitando a troca de informações sobre a importância do cuidado com a criança" , explicam.

Pré-natal
Outro determinante encontrado para a busca tardia pelo serviço de saúde voltado à criança foi a qualidade do pré-natal. Entre as mulheres que não haviam feito o acompanhamento ou o fizeram inadequadamente, a violência física entre parceiros íntimos fez crescer em quase cinco vezes a chance de visita tardia à unidade de saúde. Por outro lado, no grupo de mães que realizaram um pré-natal adequado, não foi observado impacto da violência. "É possível que isso decorra da falta de vínculo com o serviço e da consequente falta de informação. Quando o pré-natal é adequado, os profissionais de saúde têm mais oportunidades para orientar as gestantes sobre os cuidados com o recém-nascido" , esclarecem os estudiosos.

Dados
A pesquisa também apontou que 48,9% das crianças foi levada à UBS na primeira semana de vida, 38% entre 8 e 30 dias e 9% entre 31 e 60 dias. A média da primeira visita do bebê à unidade de saúde foi de mais ou menos dois dias de vida. Entre as entrevistadas, cerca de 30% se envolveu em pelo menos um ato de violência física com o parceiro, 4,1% levou seus bebês à UBS pela primeira vez com mais de 60 dias de vida e 64,8% relatou que o bebê já havia apresentado algum problema de saúde desde o nascimento.

Fonte isaude.net

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