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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quando a informática vai de encontro à cultura médica

Qual o sentido de ter sistemas que ajudam a cortar gastos, se os médicos ignoram os preços estipulados do cuidado que estão fornecendo?

Já questionou seu médico a respeito do valor de um exame pedido? Há grandes chances de ele não ter ideia. Médicos são treinados para fornecerem o melhor cuidado possível e pedir qualquer procedimento que achem necessário para diagnosticar e tratar uma doença, independentemente do custo.

Essa filosofia está de acordo com o juramento de Hipócrates, mas conforme a nação (vale lembrar que esse texto foi escrito para o público dos Estados Unidos, N. da T.) tenta se acostumar com a nova guia, essa filosofia exige um exame mais minucioso. E isso é especialmente importante devido a todos os sistemas de TI que podem ajudar a conter os custos médicos.

Há ferramentas disponíveis que podem ajudar a reduzir o número de exames e diagnósticos desnecessários ou duplicados. E apesar da função principal não ser a contenção de custos, estes sistemas podem ter um efeito profundo. Registros eletrônicos de saúde (EHRs), por exemplo, quando devidamente aplicados, podem manter o médico informado sobre exames laboratoriais e de imagem, por meio da magia do HL7.

HL7, que é a sigla da Health Level Seven, é o conjunto de padrões que permite um fornecedor de saúde formatar informações eletrônicas para que possam ser trocadas entre duas ou mais base de dados que falem línguas diferentes. Os dados de informações de um sistema de hospital de radiologia, por exemplo, pode ser compartilhado com o sistema de informação do laboratório. E ambos os sistemas podem compartilhar os resultados com os EHRs de um hospital, mantendo os médicos informados sobre os exames pedidos por outros profissionais.

Troca de informações de saúde, tanto privada quanto pública, leva esse compartilhamento ainda além, possibilitando a ciência de procedimentos executados em outros hospitais e clínicas médicas. Mesmo o Direct Project, o protocolo nacional para mensagem clínica segura, pode ajudar os médicos a manterem-se informados sobre os resultados e tratamentos de outros locais. O protocolo leva tecnologia, que permite a médicos, hospitais, laboratórios, farmácias e outras entidades, trocarem resultados, relatórios e outros dados clínicos em uma rede segura. Fornecedores podem visualizar mensagens por meio do recurso em um site ou usar suas EHRs para enviar e receber mensagens, caso tenham a habilidade Direct.

Contra o que se aprendeu
Essas ferramentas são valiosas, mas vão contra a cultura médica enraizada que não presta muito atenção aos custos. Essa cultura começa a se aprofundar durante a faculdade de medicina. Logo que começam seus estudos, são encorajados a pensar em todos os possíveis diagnósticos, afirmaram as médicas e colaboradoras da New England Journal of Medicine, Lisa Rosenbaum e Daniela Lamas.

Então, o que provavelmente é apenas um caso de pneumonia, durante a ronda médica se transforma em uma possível embolia pulmonar ou insuficiência cardíaca, “necessitando” de uma tomografia de tórax e procedimentos cardíacos sofisticados que levam a conta médica do paciente às alturas.

Muitos médicos argumentarão que ignorar esses possíveis diagnósticos significa colocar o custo à frente do bem-estar do paciente, e que isso não é ético. Mas Rosenbaum e Lamas observam que em seu editorial NEJM, Cents and Sensitivity–Teaching Physicians to Think about Costs (Centavos e sensibilidade – ensinando os médicos a pensarem em seus custos), “Considerem os custos dos serviços não apenas como a distribuição finita de serviços, mas também o real interesse do paciente. Os custos médicos, afinal de contras, estão entre as maiores causas de falência”.

Essas contas seriam significativamente menores se os médicos parassem de pedir procedimentos desnecessários. E há agora evidências palpáveis que apontam que alguns exames e diagnósticos são uma real perda de dinheiro.

Entre os maiores infratores, estão os eletrocardiogramas, raio-x de tórax antes de cirurgia e tomografias computadorizadas ou ressonância magnética após desmaios. Exames desnecessários são tão corriqueiros, que nove organizações médicas de grande porte lançaram a campanha “Choosing Wisely” (Escolhendo com parcimônia), para educar médicos e o público sobre essa prática.

Claro que há o outro lado da história: muitos processos de má prática foram registrados contra médicos por terem falhado em diagnósticos, e uma maneira de lutar contra isso, é pedir exames a mais para abordar as doenças improváveis.

Ainda assim, o juramento “não causar mal”, exige que os médicos não apenas se preocupem com o bem-estar físico de seus pacientes, mas também com suas limitações financeiras. E isso significa tirar vantagem de todas as ferramentas de TI disponíveis. Como Rosenbaum e Lamas observaram: “Ajudar um paciente a ficar bem o suficiente para subir as escadas até seu apartamento não tem sentido, se o cuidado o levou à falência”.

Fonte: Paul Cerrato, da InformationWeek EUA; replicada pela InformationWeek Brasil

Por SaudeWeb

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