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sábado, 13 de outubro de 2012

Excesso de flexibilidade atinge até 30% das pessoas, mas pode ser doença

Quem tem hipermobilidade consegue alongar algumas
partes do corpo com mais facilidade
Hipermobilidade tem efeitos que vão da malformação do coração a dores musculares. Saiba se você precisa de aconselhamento médico
 
Os movimentos elásticos dos contorcionistas de circo, impossíveis de serem imitados por outras pessoas, são os exemplos mais conhecidos da hipermobilidade. Essa condição é resultado de um defeito genético nos tecidos conjuntivos, como tendões, músculos e cápsulas (membranas que envolvem as articulações).
 
Ainda hoje, é vista como virtude a capacidade de realizar movimentos com flexibilidade acima da esperada. Mas não deveria ser assim. “Esse defeito genético é responsável por muitas queixas de dor nos joelhos, nos ombros e até na coluna”, afirma Neuseli Lamari, fisioterapeuta da Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto).
 
O problema é que a associação entre hipermobilidade e suas consequências ainda é pouco conhecida. “Mesmo os médico fazem diagnósticos equivocados e, muitas vezes, desconhecem a hipermobilidade”, alerta a fisioterapeuta.

Estima-se que 30% da população tenha hipermobilidade, sendo que o problema é mais comum em mulheres. Para saber se você faz parte deste grupo, basta realizar um teste simples, com apenas cinco movimentos (veja no final da reportagem).
 
Tropeços constantes
Não há cura para hipermobilidade. Mas há como se prevenir de dores e acidentes. “Quem tem flexibilidade exagerada no tornozelo, por exemplo, tem mais chances de sofrer lesões na região”, alerta Vera Regina Fernandes, coordenadora do curso de fisioterapia da UnB (Universidade de Brasília).
 
Ela explica que o excesso de mobilidade permite ao tornozelo se estender além do que deveria, causando lesões frequentes nos ligamentos e na musculatura. “Essas pessoas precisam dar mais atenção aos seus movimentos e à sua postura”, recomenda a fisioterapeuta.
 
A reeducação da postura é um trabalho gradual, realizado por fisioterapeutas que conheçam o tratamento contra hipermobilidade, para que o trabalho seja focado nas áreas mais vulneráveis de cada paciente. Além disso, esportes de contato e de impacto, como judô ou futebol, devem ser evitados ou realizados com cuidado redobrado.
 
A musculatura precisa ser fortalecida nos pontos mais frágeis do paciente, para dar suporte e limitar o movimento das articulações. Isso pode ser obtido com musculação ou outras atividades. Mas essa recomendação pode não ser suficiente.
 
“A resposta muscular não é tão rápida quando a resposta dos ligamentos”, explica Alexandre Lopes, fisioterapeuta da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo). Isso significa que ter a musculatura fortalecida nem sempre irá evitar lesões.
 
O uso de calçados especiais também é uma recomendação para quem sofre lesões de repetição no tornozelo. “É importante a avaliação de um ortopedista para medir a intensidade da frouxidão no ligamento”, recomenda William Dias Belangero, reumatologista do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Nos casos mais leves, basta um calçado reforçado no calcanhar para dar um suporte extra à região.
 
A pessoa hipermóvel também pode apresentar repetidas lesões em outras partes do corpo, como nas mãos e punhos (tendinite) ou nos ombros. Os traumas que acontecem muitas vezes no mesmo local, algo mais frequente em pessoas com hipermobilidade, têm implicações no processo degenerativo do corpo. “Ele é acelerado”, explica Belangero.
 
Casos graves
Torções não são as únicas consequências da hipermobilidade. Ela pode gerar prejuízos mais graves ao corpo, como frouxidão da musculatura que sustenta a bexiga. Resultado: incontinência urinária, mais comum em mulheres.
 
“Essas pessoas devem procurar um médico e um fisioterapeuta que atue na reeducação vesical”, comenta Neuseli.
 
Hipermobilidade também pode causar fibromialgia, que se manifesta como dor muscular, cansaço ou dor em pontos específicos do corpo. Em estudo recente com trabalhadores da indústria têxtil, Neuseli descobriu que 27,7% dos casos de dores na coluna, no ombro, no joelho, entre outras, eram resultado de hipermobilidade não diagnosticada.
 
Pessoas hipermóveis também devem procurar um cardiologista, de forma preventiva, para investigar se têm prolapso de valva mitral, recomenda Neuseli. Esse problema cardíaco, assim como a hipermobilidade, pode ser originado por um defeito genético do tecido conjuntivo. A doença se caracteriza por anomalias na anatomia do coração, que prejudicam o fluxo sanguíneo, podendo causar desde arritmia até morte súbita.
 
Cinco desvios comuns
A investigação da hipermobilidade articular pode ser feita em casa, com cinco movimentos simples. Eles evidenciam o excesso de flexibilidade. Tente fazê-los. Se ao menos três dos movimentos forem realizados sem dificuldades, você tem hipermobilidade.
 
1) Entenda os joelhos para frente e veja se eles formam um ângulo superior a 10 graus

2) Faça o mesmo movimento com os cotovelos e veja se eles chegam a 10 graus também

3) Sem forçar com a outra mão, avance o dedo polegar até encostá-lo no antebraço

4) Fique em pé e encoste as palmas das mãos no chão, flexionando as costas, sem dobrar os joelhos

5) Com ajuda da outra mão, leve os dedos (exceto o polegar) em direção ao dorso do antebraço, formando um ângulo de 90 graus (quase paralelo ao antebraço)
 
Fonte iG

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