Boa parte das dores lombares crônicas em pessoas com hérnia de disco pode
ser causada por infecções "ocultas" e tratada com antibióticos, de acordo com
duas pesquisas realizadas por médicos dinamarqueses.
Os trabalhos, publicados no "European Spine Journal", contemplam duas etapas.
Primeiro, a equipe liderada por Hanne Albert, da Universidade do Sul da
Dinamarca, procurou saber se havia infecção nos discos intervertebrais.
Eles analisaram, em 61 pacientes, o material do núcleo do disco que fica
entre as vértebras e amortece o impacto entre elas. Quando há hérnia, esse
material sai do disco e pressiona os nervos próximos, causando dor.
No grupo estudado pelos dinamarqueses, a hérnia tinha levado também a uma
lesão óssea, presente em 40% da população com dor lombar crônica, cuja causa é
atribuída, em geral, à falta do amortecimento, já que os discos estão
degenerados.
No estudo, 46% dos pacientes apresentavam uma infecção bacteriana no núcleo
do disco.
De acordo com a pesquisa, um ácido produzido pela bactéria, a P. acnes,
comumente encontrada na pele e que foi achada na maioria dos discos infectados,
é responsável pelas lesões ósseas.
A segunda pesquisa do grupo avaliou um tratamento de cem dias com antibiótico
em 144 pacientes. Metade recebeu o remédio e metade, placebo. No grupo do
antibiótico, 75% das pessoas diziam, no início do estudo, sentir dores
constantes nas costas. Ao fim de um ano, só 20% continuavam nessa situação.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
De acordo com o fisiatra João Amadera, do Spine Center do HCor (Hospital do
Coração) de São Paulo, apesar de promissor, o resultado não significa que esse
tratamento possa ser generalizado para qualquer pessoa com dor nas costas.
Isso porque é difícil saber em quais pessoas existe a infecção, que é de
baixa virulência e não causa sintomas como febre e mal-estar.
"O diagnóstico preciso de uma infecção é dado com a cultura [da bactéria] e,
para isso, teríamos que fazer uma biópsia do disco suspeito por agulha, o que
pode acelerar a degeneração dos discos."
Outro problema é a longa duração do tratamento, necessária porque os discos
são de difícil acesso para os remédios, pela baixa vascularização da região.
Para completar, 27% das pessoas que se trataram com antibióticos tiveram
diarreia.
Os próprios autores do estudo destacam também o perigo do uso indiscriminado
de antibióticos, que pode selecionar micro-organismos resistentes aos remédios.
Ainda assim, o trabalho chama a atenção ao abrir a possibilidade de um novo
tratamento para um problema tão comum, diz Amadera, que vai iniciar um estudo
com 20 pessoas para ver se as conclusões dos dinamarqueses se repetem por aqui.
Por enquanto, o tratamento deve continuar à base de fisioterapia e remédios
para os casos menos graves e cirurgia quando não houver outra opção, diz o
ortopedista Luís Eduardo Munhoz da Rocha, especialista em coluna.
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário