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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Menina de dois anos recebe traqueia artificial

Hannah Warren, 2, com seu pai, Darryl, após cirurgia no Children's Hospital de Illinois, nos EUA, onde ela recebeu uma traqueia feita por cientistas
Jim Carlson/Associated Press
Hannah Warren, 2, com seu pai, Darryl, após cirurgia no
Children's Hospital de Illinois, nos EUA, onde ela
recebeu uma traqueia feita por cientistas
Usando fibras plásticas e células humanas, médicos construíram e implantaram uma traqueia em uma menina de dois anos e meio --a mais jovem até hoje a receber um órgão desenvolvido por bioengenharia.
 
A cirurgia, que aconteceu no dia 9 de abril no Children's Hospital de Illinois, nos EUA, e foi anunciada oficialmente nesta terça (30), é a sexta do tipo no mundo e a primeira a ser feita nos Estados Unidos.
 
Paolo Macchiarini, especialista em medicina regenerativa que desenvolveu a traqueia usada na operação de nove horas, afirmou que o tratamento da menina coreano-canadense Hannah Warren o fez perceber que sua abordagem para construir órgãos pode funcionar melhor em crianças do que em adultos, aproveitando sua habilidade natural de regeneração.
 
"O transplante de Hannah mudou minha forma de pensar a medicina regenerativa", disse Macchiarini, cirurgião do Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).
 
Luciano Veronezi/Editoria de arte/Folhapress
Órgão foi construído com fibras plásticas e células da pacienteA menina nasceu sem a traqueia --uma condição rara e fatal em 99% dos casos-- e vivia desde o nascimento em uma UTI de um hospital na Coreia do Sul, respirando por um tubo inserido na boca. Por outros problemas de desenvolvimento, ela não come nem fala normalmente.
Órgão foi construído com fibras plásticas e células da paciente
 
Três semanas após a cirurgia, a menina está serelepe com médicos e enfermeiros, sorrindo e acenando.
 
Mark Holterman, cirurgião pediátrico do hospital, afirmou que Hannah está respirando sozinha, apesar de ainda por uma abertura no pescoço e não pela boca. "Ela teve complicações da cirurgia, mas a traqueia está ótima."
 
Outros casos
Até agora, a medicina regenerativa só conseguiu criar poucos órgãos simples, e coisas como corações artificiais ainda estão distantes.
 
Antes de Hannah, a pessoa mais jovem a ter um órgão de bioengenheria tinha sido um menino de quatro anos com espinha bífida (condição na qual o tubo neural do feto não se fecha totalmente), que ganhou uma bexiga.
 
Macchiarini já fez outros cinco implantes de traqueia similares ao de Hannah. Um paciente, um americano operado em Estocolmo, morreu. Um homem da Eritreia é o que viveu por mais tempo até agora, sobrevivendo há dois anos e meio desde a operação.
 
Para fazer a traqueia de Hannah, a equipe de Macchiarini montou um tubo de fibras de plástico, com menos de um centímetro, que foi banhado em uma solução contendo células-tronco tiradas da medula óssea da criança.
 
Os médicos não sabem ao certo o que acontece após a implantação, mas acreditam que as células-tronco sinalizem ao corpo para enviar outras células para a traqueia, dando origem ao tecido de dentro e fora do tubo.
 
Como a traqueia só tem células de Hannah, não há necessidade de remédios contra a rejeição.
 
David Warburton, diretor do programa de medicina regenerativa no Instituto de Pesquisa Saban, em Los Angeles, que não participou da cirurgia, afirmou que é preciso ter "otimismo com uma grande pitada de ceticismo" quanto a essas abordagens experimentais.
 
Especialistas cobram testes clínicos que avaliem esse tipo de procedimento.
A menina agora deve encarar um longo processo de reabilitação para aprender a respirar normalmente e depois a comer e a falar.
 
À medida que ela crescer, também vai precisar de uma traqueia maior. Segundo Macchiarini, a troca deverá ser feita a cada quatro anos, mas a equipe tentou adiar essa substituição pelo maior tempo possível fazendo um implante um pouco maior do que o necessário e incluindo plástico biodegradável, material com certa elasticidade.
 
Os pais da menina, Darryl e Young-Mi Warren, contaram que, logo após Hannah nascer, eles ouviram que a chance de ela sobreviver após os seis anos de idade era baixa. "Não queríamos Hannah só por mais uns dois anos. Queríamos pelo resto de nossas vidas", afirmou Darryl, que soube do trabalho de Macchiarini pela internet. "É inacreditável estarem fazendo isso agora, justo quando Hannah precisava."
 
Fonte Folhaonline

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