Estudo analisou garrafas de meio litro e 1,5 litros em 11 ocasiões durante um ano |
Estudo revela que água de torneira pode conter menos bactérias que o índice encontrado em embalagens de água mineral. A pesquisa avaliou a qualidade de três marcas de água mineral e detectou níveis preocupantes de bactérias em galões de 20 litros antes do vencimento do prazo de validade. Em alguns casos, isso ocorreu já nos primeiros dias após o envase.
Os números são resultado do trabalho da pesquisadora Maria Fernanda Falcone Dias, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara. Ela analisou o conteúdo de garrafas de meio litro e de 1,5 litro em 11 ocasiões ao longo de um ano, prazo recomendado para o consumo. Já os garrafões de 20 litros passaram por cinco testes, realizados ao longo dos 60 dias de validade do produto. Ao todo, foram 324 amostras de seis marcas (não relevadas pelos autores). Além da Contagem de micro-organismos Heteretróficos em Placa (CHP), foram analisados os índices de coliformes fecais e totais e de bactérias como a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa, que podem causar diarreia e infecções, principalmente em crianças, gestantes e idosos.
Os resultados mostraram que, dos três tipos de garrafa d'água, o de 20 litros foi o que apresentou mais problemas de contaminação. Em dois terços dos 60 garrafões analisados foi encontrada contagem superior a 500 UFC/ml - às vezes chegando a 560 mil unidades formadoras de colônia por mililitro de água (UFC/ml), mais de mil vezes acima do padrão aceitável para a água de abastecimento.
Em dois desses galões foram detectadas ainda a bactéria P. aeruginosa e outras do chamado grupo dos enterococos. A primeira é um ser oportunista que pode agravar o estado de saúde de quem tem o sistema imunológico comprometido. As últimas costumam ser usadas como indicadores de contaminação por esgoto.
A portaria de 2011 do DNPM determinou prazo de validade de três anos para os galões retornáveis de 10 e 20 litros. Segundo os integrantes da pesquisa, a contaminação geralmente decorre de falhas de higienização na indústria. " Não adianta reutilizar (o garrafão) por um prazo limitado se ele não for lavado a cada vez que é usado."
Esse tipo de contaminação pode ocorrer ainda na fonte, mas é mais comum durante ou após o envase. O próprio ambiente, as embalagens e as tampas são potenciais moradas dessas bactérias. Os equipamentos usados no processo, bem como os reservatórios de armazenamento podem também abrigar populações de micro-organismos contaminantes.
Contaminação pelo sol
Outra possível fonte de contaminação (ainda que indireta) é a exposição ao sol. A radiação acelera a quebra de moléculas orgânicas presentes na água (em baixíssimas concentrações), que passam a ter o tamanho ideal para virar comida de bactérias. Com alimento disponível, elas se reproduzem e a população cresce. E então, quando morrem, servem de alimento para outras bactérias.
Esse ciclo de vida e morte é uma hipótese de trabalho. Em várias amostras, os pesquisadores observaram baixa concentração de micro-organismos nos primeiros dias após o envase, que por sua vez aumentou alguns dias depois, para em seguida voltar a ser baixa. " Por enquanto é apenas uma possibilidade, mas outros estudos feitos no exterior chegaram a resultados parecidos" , diz Maria Fernanda.
Ela alerta ainda para outro tipo muito comum de contaminação dos garrafões de água mineral (que ficou fora do escopo do estudo). Ocorre no local de consumo, mas pode ser facilmente evitado. "É preciso fazer a higienização correta não só do galão como do suporte" , diz. Tanto um como o outro devem ser lavados com água sanitária, ou, pelo menos, com água clorada e sabão, a cada troca do recipiente.
Padrões legais
Proveniente de fontes naturais, a água mineral não passa por nenhum tipo de tratamento. Deve ser livre de contaminação na origem e preservar suas características originais, o que inclui a presença de diversos sais e de uma fauna microbiana considerada benéfica à saúde humana. Geralmente em posse da iniciativa privada, as fontes de água mineral devem ter sua qualidade certificada pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM).
Já a água de abastecimento público, além de passar por tratamento químico e físico, tem sua qualidade obrigatoriamente verificada por análises microbiológicas antes de ser distribuída nas cidades. A principal é a CHP. Embora esse teste seja feito também na água antes do envase, a legislação só estabelece um valor máximo aceitável de 500 UFC/ml para o líquido que vai para as torneiras. " Esse é o padrão internacional, que é seguido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Mas já existe uma tendência mundial de adotar o mesmo limite máximo também para a água de garrafa," completa Maria Fernanda.
Fonte isaude.net
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