Foto: Ricardo Abdalla / Arquivo pessoal Abdalla foi um dos médicos brasileiros a participar da primeira cirurgica robótica no país |
Cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, Ricardo Zugaib Abdalla participou da primeira cirurgia robótica realizada no Brasil. Ele conversou por telefone com Zero Hora e enfatizou que a robótica não irá substituir procedimentos tradicionais, mas facilitará situações em que não se pode usar as mãos.
Zero Hora _ Quando começou a operar por cirurgia robótica, qual foi o impacto no hospital?
Ricardo Zugaib Abdalla _ Começamos a nos preparar em 2007. Em março de 2008, fizemos a primeira cirurgia. Até conhecer bem a tecnologia, dominar os movimentos e saber como funcionava a parte elétrica e mecânica da máquina, demorou cerca de um ano. Treinamos oito especialidade diferentes, começando pela urologia, que era a que tinha mais benefícios, pela costura dos tecidos em áreas pequenas e por facilitar a técnica. Nós precisamos de tempo até ter segurança nas operações. Ao longo de 2008, ficamos mais seguros e começamos a mudar as especialidades. Fomos para aparelho digestivo, depois ginecologia e também alguns casos de cabeça e pescoço, onde a vantagem principal foi não ter que desarticular a mandíbula e rasgar tecidos sadios para operar.
ZH _ Quais foram as vantagens apresentadas em relação ao procedimento de videolaparoscopia?
Abdalla _ O robô torna fácil um momento difícil da cirurgia. Por causa da grande precisão, consegue-se fazer sempre da mesma maneira a costura. Em uma costura de 10 nós, por exemplo, fazemos os 10 iguais. A robótica tem como fatores positivos a precisão, a estabilidade e qualidade da imagem. Ver em terceira dimensão dá maior entendimento da imagem para quem está operando. Quem é treinado em vídeo-cirurgia percebe a praticidade da robótica. É como ver um filme em alta definição.
ZH _ Quantos hospitais trabalham com a cirurgia robótica?
Abdalla _ Em São Paulo, tem o Hospital Oswaldo Cruz, o Albert Einsten, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), que é do governo federal. Apenas o Inca fez com recursos públicos. Os demais foram todos com recursos próprios. Existe um cálculo canadense que mostra que o investimento se paga com duas cirurgias por dia, por causa da economia nos sangramentos e nas internações.
ZH _ Pode-se dizer que a era dos médicos com aventais sujos de sangue está com os dias contados?
Abdalla _ Na realidade, a tecnologia robótica tem de trazer novos procedimentos. Ela facilita aquela situação em que não se consegue fazer com as mãos. Mas não vai substituir procedimentos consagrados. O corpo não mudou, mudou a tecnologia para fazer o que a mão não faz. A mão robótica vai sempre obedecer a do cirurgião.
Fonte Zero Hora
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