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sexta-feira, 17 de maio de 2013

USP testa droga usada contra hipertensão para controlar sintomas de esquizofrenia

A esquizofrenia, segundo estimativas da OMS
(Organização Mundial da Saúde), acomete 1% da população
Uma nova droga contra a esquizofrenia se mostrou mais eficaz ante os tratamentos atuais, em pesquisa conjunta da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP, e da Universidade de Alberta, no Canadá.
 
Os testes com a substância, o nitroprussiato de sódio, resultaram em ação mais rápida, sem efeitos colaterais e maior controle dos sintomas do transtorno mental. Os resultados foram publicados on-line no periódico médico "JAMA Psychiatry" .
 
A esquizofrenia, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde), acomete 1% da população. Os principais sintomas são desorganizações psíquicas, como delírios e alucinações, mas também cognitivas --falta de atenção e redução no contato social, por exemplo.
 
De acordo com o professor da FMRP Jaime Hallak, que coordenou os estudos, os medicamentos usados atualmente contra a esquizofrenia mostram eficácia só em parte dos sintomas, como delírios e alucinações.
 
Nos demais sintomas, chamados de "negativos", como os que atingem a cognição, os remédios atuais deixam a desejar. "Por isso, boa parte dos pacientes não consegue retomar a vida normal."
 
Com o uso do nitroprussiato de sódio, segundo Hallak, houve "melhora global e muito rápida". As pesquisas começaram em 2000, primeiro com animais, e evoluíram para testes com humanos nos últimos cinco anos.
 
O estudo dividiu os pacientes em dois grupos de dez pessoas --um recebeu o medicamento e o outro, placebo.
 
No grupo que recebeu o nitroprussiato, houve controle mais rápido dos sintomas da doença. Com uma única administração do medicamento, o efeito positivo durou por cerca de quatro semanas.
 
Descobertas
As drogas atuais contra a esquizofrenia agem bloqueando um receptor cerebral da dopamina, um tipo de neurotransmissor --substância química que é produzida pelos neurônios.
 
Como esses medicamentos não são eficazes contra todos os sintomas, surgiram pesquisas em busca de outras substâncias, diz Hallak.
 
Vários estudos, segundo ele, conseguiram identificar que, em pessoas com esquizofrenia, existe diminuição na função de um receptor cerebral chamado de NMDA (N-Metil D-Aspartato).
 
Uma das funções desse receptor no cérebro é produzir óxido nítrico. "Se você tem uma diminuição na função dele [NMDA], é lógico imaginar que há uma diminuição na produção de óxido nítrico", afirma o professor.
 
Estudos já vinham tentando, com o uso de diferentes drogas, melhorar a função do NMDA, mas sem eficácia.
 
Foi aí que entrou o nitroprussiato de sódio, um medicamento que já é utilizado em ambiente hospitalar para controlar casos agudos de hipertensão. O nitroprussiato produz o óxido nítrico, componente que dá mais "elasticidade" aos vasos sanguíneos.
 
"Em vez de o receptor [NMDA] oferecer o óxido nítrico, nós fomos atrás de um medicamento que faz isso."
 
Próximos passos 
"A pesquisa abre uma avenida inteira de investigação para o tratamento da esquizofrenia. Antes, os trabalhos estavam muito focados em mais do mesmo, principalmente na dopamina", diz Hallak.
 
O professor Helio Elkis, do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, não envolvido com o novo estudo, afirma que o controle dos sintomas negativos da doença é um dos principais méritos da pesquisa.
 
Elkis, que coordena o Projesq (Projeto Esquizofrenia) do Instituto de Psiquiatria do HC, no entanto, chama a atenção para o tempo curto de acompanhamento dos pacientes na pesquisa. "A única questão é que foi uma melhora [avaliada] em quatro semanas, a gente tem que ver sintomas negativos em anos."
 
A sequência do estudo, já em andamento, envolve testes em aplicações repetidas e com diferentes doses, além do uso da droga em outros quadros psiquiátricos, como depressão psicótica.
 
"Nosso grupo de pesquisa acredita fortemente que, em algum momento, vamos falar em cura para a esquizofrenia, ou pelo menos em restituição integral do sujeito à normalidade", afirma Hallak.

Fonte Folhaonline

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