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Se sancionado pela presidente Dilma Rousseff da forma como aprovado pelo
Congresso, o projeto de lei apelidado de Ato Médico deverá ter impacto na rede
pública de saúde. E ele pode ser negativo, teme o Cofen (Conselho Federal de
Enfermagem).
O texto foi aprovado no final da noite de terça-feira (18) pelo Senado e
prevê a regulamentação da profissão do médico, estabelecendo atos que são
privativos da categoria e outros que podem ser realizados por outros
profissionais.
Para o Cofen, atos praticados cotidianamente pela enfermagem na rede pública
de saúde passarão a ser proibidos. Por exemplo, o diagnóstico de doenças como
hanseníase, malária, DSTs, tuberculose e a prescrição de medicamentos para
tratá-las --sempre seguindo protocolos de atendimento do Ministério da Saúde.
"Pedir exames para gestante, por exemplo. A maior parte quem faz é o
enfermeiro. Como vai ser isso? E o acompanhamento dos pacientes com hanseníase,
tuberculose, Aids? O próprio Ministério da Saúde dá curso para os enfermeiros
fazerem o diagnóstico onde não há médico", protesta Amaury Gonzaga, do Cofen.
Gonzaga acredita, ainda, que o Ato Médico impedirá que a acupuntura seja
praticada por não médicos, ao definir que é ato privativo do médico a invasão da
pele para punção, entre outros procedimentos.
"O que o projeto quer dizer? Só quem pode mexer da pele para baixo é o
médico. Faço acupuntura há 26 anos no SUS", diz o enfermeiro. Gonzaga diz que
buscará a Justiça, de forma preventiva, para garantir a continuidade do seu
trabalho, caso o texto seja sancionado por Dilma.
Para o Cofen, haverá muita judicialização, que pode abarcar inclusive os
direitos de enfermeiras realizarem o parto normal.
O CFP (Conselho Federal de Psicologia) também vê prejuízos para a categoria.
Humberto Verona, presidente da entidade, entende que o Ato Médico impede que
psicólogos identifiquem sintomas de doenças como depressão e transtornos.
"Por exemplo, num quadro depressivo há uma série de alterações no
funcionamento da pessoa. No diagnóstico psicológico, o psicólogo não vai poder
falar dessas alterações, porque seria fazer um diagnóstico. Como um profissional
não vai poder fazer o nexo com o transtorno?", diz.
Para respaldar a categoria, o CFP pretende editar uma resolução definindo os
termos do diagnóstico psicológico --como feito hoje, antes da sanção do Ato
Médico.
Questionado sobre os impactos do projeto nos programas públicos de saúde, o
ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou que sua pasta inda precisa analisar o
texto final aprovado pelo Congresso --ainda não disponibilizado.
"O governo vai analisar o texto final aprovado de forma que se valorize a
profissão médica. Mas é muito importante manter o conceito de equipes
multiprofissionais. Todos nós aprendemos, ao longo dos anos, a importância de
uma equipe multiprofissional. Áreas como nutrição, psicologia, fisioterapia,
terapia ocupacional, enfermeiros têm um papel muito grande no cuidado com o
paciente", disse o ministro nesta quarta-feira (19).
Segundo a Folha apurou, ainda não há clareza no governo sobre os
impactos do projeto e a eventual necessidade de vetos pela presidente Dilma
Rousseff.
Médicos
O próprio CFM (Conselho Federal de Medicina), que respalda o Ato Médico,
entende que haverá mudanças da rede pública de saúde, com a necessidade da
presença de médicos nas equipes, para que façam o primeiro diagnóstico e a
prescrição dos medicamentos.
"Hanseníase, tuberculose, hipertensão são todos programas que devem ser
cuidados por uma equipe. Defendemos o que a lei agora prevê: que o diagnóstico e
a prescrição sejam feitos inicialmente pelo médico. Mas o enfermeiro pode
repetir os remédios prescritos e pedir exames", defendeu Roberto D'Ávila,
presidente do CFM.
O conselho garante que o texto não abarca a realização de acupuntura ou
tatuagem e diz que, em casos de emergência, outros profissionais devem oferecer
os cuidados ao paciente --o que não retiraria do gestor uma eventual
responsabilização, aponta a entidade.
"Não vai haver uma caça às bruxas", diz D'Ávila. "Mas vamos exigir que toda
equipe tenha um médico."
O conselho afirma que pretende reunir os demais conselhos profissionais para
discutir o cenário da saúde.
Fonte Folhaonline
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