Alessandro Shinoda/Folhapress Marcelo Loeb foi o primeiro paciente a sobreviver a um implante de coração artificial definitivo no Brasil |
Um segundo caso bem-sucedido ocorreu em fevereiro. Os feitos representam um
avanço, mas o país ainda reúne pouquíssima experiência na área em comparação com
Estados Unidos e Europa.
Só os Estados Unidos registraram 7.254 implantes desse mesmo modelo até o ano
passado. Levando em conta todos os tipos de coração artificial, entre
temporários e definitivos, existem cerca de 20 mil casos no mundo.
Os três modelos mais avançados são o dispositivo de assistência ventricular
esquerda (definitivo), o dispositivo de assistência circulatória biventricular
(com validade de um mês), e o coração artificial total (definitivo, mas ainda
não aprovado no Brasil).
A cirurgia pioneira ocorreu no InCor (Instituto do Coração). Nesse caso, o
dispositivo não deve ficar definitivamente com o paciente. A médica Sílvia Ayub
conta que, com o implante, ele se recuperou do quadro de hipertensão pulmonar,
fator que o impossibilitava de receber transplante. Agora, voltou para a fila e
aguarda pelo órgão.
"A experiência com o transplante é mais antiga e proporciona uma qualidade de
vida melhor", diz Ayub.
Enquanto a sobrevida média dos transplantados é de 10 a 15 anos, ela varia de
1 a 7 anos no caso dos pacientes com coração artificial.
O caso brasileiro mais recente de implante definitivo ocorreu no Hospital
Samaritano, em São Paulo. O paciente Duck Hyun Chung, 52, sofria de uma
insuficiência cardíaca grave.
"Ele foi para a cirurgia em condição gravíssima. Por isso, primeiro recebeu
um coração artificial temporário, extracorpóreo; 15 dias depois, optamos por
colocar o definitivo", relata o cirurgião Eduardo Gregório Chamlian. O paciente
foi retirado da fila de transplante e deve ficar com o aparelho por toda a vida,
de acordo com o médico.
A mulher do paciente, Jin Sup Song, conta que o marido (que é coreano e não
fala português) começou a ter problemas cardíacos com 38 anos. Aos 52, já tinha
três pontes de safena. "Agora, ele não é mais só ele: tem a bateria que fica do
lado de fora e é levada a todos os lugares."
Neste ano, o Brasil também alcançou o segundo caso de sucesso com o coração
artificial temporário biventricular, na Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Nos EUA, já foram 500 implantes do tipo.
O que faz o Brasil estar atrasado nessa área, para o cirurgião Noedir Stolf,
da Beneficência Portuguesa, é a falta de financiamento e de equipes
especializadas.
"Hoje, nem a saúde pública nem a suplementar pagam pelo dispositivo. Além
disso, o cuidado do doente é muito específico e essa experiência com certeza é
menor no nosso meio." Um aparelho permanente custa R$ 600 mil.
Segundo o cirurgião Fabio Jatene, diretor da divisão de cirurgia cardíaca do
InCor, as sociedades médicas estão em diálogo com o Ministério da Saúde para
definir o melhor modelo para introduzir a tecnologia no país. Ele diz que o mais
provável é que centros selecionados comecem a aplicar as técnicas e,
posteriormente, promovam o treinamento de outras unidades.
Equipamentos nacionais estão atualmente em desenvolvimento. O InCor deve
começar nos próximos meses um estudo multicêntrico para testar seu dispositivo
de assistência ventricular. O Instituto Dante Pazzanese também está pronto para
iniciar os testes clínicos do equipamento desenvolvido pela unidade. Há ainda um
dispositivo em desenvolvimento pela iniciativa privada.
Fonte Folhaonline
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