Foto: Divulgação
Fábrica de vacinas da Novartis: um dos focos da farmacêutica é encontrar
doses para doenças negligenciadas, como Salmonella |
Caso as previsões dos cientistas se tornem realidade, até a vida adulta desta
mesma criança, uma série de outras novas doses ira cruzar seu caminho, mas de
forma bem menos dolorida e mais versátil.
Os pesquisadores estão empenhados em trazer para as “vacinas do futuro” duas
importantes características. A primeira, já com alguns sucessos alcançados, é
fazer com que uma mesma fórmula proteja do maior número possível de doenças.
“Combinar múltiplas vacinas em uma só aplicação não é só conforto, é
necessidade. Garante menor custo e maior adesão do público”, afirma a médica
pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Associação Brasileira de
Imunizações.
O segundo foco dos cientistas é alcançar mecanismos de dispensação mais
fáceis – que vão além das atuais seringas e gotinhas – como sprays, microagulhas
e gel. O objetivo, neste caso, é ampliar a segurança das vacinas, consideradas
pelos especialistas as grandes responsáveis por interferir no curso de doenças
mundiais, ao bloquear mortalidade em massa assistidas nos séculos passados e
ampliar a expectativa de vida da população.
Segundo explica o professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro da
Comissão de Imunização do Estado de São Paulo, Gabriel Oselka, a erradicação e
controle de doenças, conquistados com os imunizantes nos últimos anos, fizeram
com que os possíveis efeitos colaterais das doses ganhassem destaque no cenário
da proteção.
Se na época de Oswaldo Cruz (médico que coordenou a primeira vacinação em
massa em 1904 contra varíola e febre amarela), reações adversas como febre ou
inchaço no local após a aplicação das doses nem eram considerados diante das
avassaladoras epidemias, hoje estes efeitos incomodam mais e a ciência quer
eliminá-los. “Agora ninguém quer nem fazer careta ao receber a injeção”, brinca
Oselka.
Este novo figurino – versatilidade e dispensação indolor – dos fármacos do
futuro é almejado sem abrir mão dos estudos para produzir vacinas contra doenças
ainda não contempladas.
“Eu ainda espero poder trabalhar com vacinas contra malária, HIV,
hepatite
C e câncer, dengue,
todas já com estudos promissores iniciados”, afirmou Maurizio de Martino,
diretor do Departamento de Saúde da Mulher e da Criança da Universidade de
Florença, durante a reunião realizada no final de março na Itália para discutir
os avanços das vacinas mundiais.
Espalhadas pelo mundo, são em média 300 pesquisas de novas vacinas em
andamento, entre elas para o Alzheimer
e até tabagismo.
“Existe uma linha de pesquisas não só de vacinas preventivas, mas também de
tratamento”, completa Ballalai.
História e evolução
“Para projetar as vacinas dos próximos anos, é preciso olhar para o passado”,
afirmou o diretor do setor de vacinas da Agência de Proteção à Saúde do Reino
Unido, Jamie Findlow, durante o congresso italiano. Foi desta forma com que os
cientistas conseguiram encontrar um novo foco de mudança para os imunizantes que
vão chegar ao público no futuro.
A maior parte das vacinas hoje oferecida na rede mundial é feita com o vírus
ou bactéria atenuados, os próprios causadores das doenças. Quando injetados no
corpo, ainda que mais “fraquinhos”, eles têm proteínas que criam anticorpos nos
humanos às enfermidades. Em alguns casos, a proteção contra a doença dura a vida
toda (como a catapora), em outros há prazo de validade (como a febre amarela,
com duração de 10 anos).
É este molde de ação que pode provocar em uma pequena parcela dos imunizados
reações como febre ou sintomas em menor proporção da doença a ser evitada pela
vacina. O infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo
Olzon, diz que agora a proposta dos laboratórios é, em vez de atenuar os agentes
infecciosos, conseguir isolar as proteínas dos vírus e bactérias que “acordam”
os anticorpos protetores e, então, colocá-las em contato com as pessoas.
“Isso despertaria uma memória imunológica de uma forma bem mais segura”,
explica Olzon ao citar que, durante a sua infância, ele foi protegido contra
catapora, sarampo e caxumba de uma maneira arcaica, mas muito comum no
passado.
“Sempre que a minha mãe sabia que um primo estava doente, falava para eu
ficar perto dele. Assim eu pegaria a doença na infância, em um momento mais
seguro, e nunca mais teria contato com ela na vida adulta”, lembrou.
A farmacêutica Novartis, uma das principais fabricantes de vacinas mundiais,
foca seus estudos em vacinas de DNA e no isolamento de proteínas para encontrar
as doses perfeitas para doenças como meningite – a
rede acaba de lançar uma vacina “4 em 1” contra as bactérias causadoras da
doença meningocócica.
Mas esta tecnologia de ponta também é utilizada pelo laboratório em pesquisas
para produzir doses contra as chamadas doenças negligenciadas. Na cidade de
Siena (Itália), uma das fábricas tem um centro só voltado para elas e mais de 30
patologias são pesquisadas. Potenciais vacinas contra salmonella, tifo e
diarreia são as que têm resultados mais avançados.
Pés no chão
Indolores, versáteis, feitas de proteínas ou de DNA, as vacinas do futuro
ainda fazem parte dos projetos e anos de pesquisas são necessários para que
virem realidade.
“Na boca do forno, por exemplo, não há nenhuma vacina de DNA para sair e
também nenhuma projeção a curto prazo para doses contra doenças crônicas (como
diabetes e hipertensão, doenças cogitadas)”, afirmou o expert Gabriel
Oselka.
Para justificar a cautela com que trata o assunto, o especialista cita o
exemplo do HIV. “Lá nos anos 80, já falávamos que em dez anos, em previsões
pessimista, teríamos uma vacina contra aids. E até agora não há. Evoluímos
muito, temos conhecimentos importantes, mas também os pés nos chão”, diz
Oselka.
Ainda que na forma de promessa a vacina contra aids já promete revolucionar o
mundo. Os pesquisadores da FioCruz fizeram as contas e, caso fosse implantada em
2015, a dose contra o HIV precisaria de 25 anos para reduzir em 80% as infecções
na população adulta.
Fonte iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário