A Associação de Enfermeiros diz que a decisão do Ministério da Saúde que decretou a prática da reutilização de dispositivos médicos como forma de poupar nos custos é um “atentado à saúde dos doentes”
A Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP) contesta o reaproveitamento de Dispositivos Médicos de Uso Único, aprovada pelo ministério da Saúde.
Para a AESOP, o reprocessamento dos dispositivos médicos é um "verdadeiro atentado à saúde pública". A associação exige a divulgação dos estudos de custo/benefício que fundamentam a decisão do Ministério da Saúde.
"Não existiu qualquer divulgação de estudos de custo/benefício que fundamentem esta decisão", critica, em comunicado, a AESOP.
A associação considera que "esta atividade continua envolta numa informação contraditória, sem transparência, não sendo conhecida evidência científica que assuma a segurança dos doentes".
Reaproveitamento consoante avaliação de custos e impacto ambiental
O Ministério da Saúde fez publicar em Diário da República, a 30 de maio, o despacho sobre os dispositivos médicos de uso único reprocessados, "com o objetivo de estabelecer as condições de adequada segurança que permitam alcançar poupanças indispensáveis para continuar a disponibilizar terapias e tecnologias inovadoras".
O despacho só exclui o reaproveitamento de dispositivos implantáveis, permitindo desta forma a recuperação de material cirúrgico que, até agora, tinha o caixote do lixo como destino após ser usado em operação.
Segundo pode ler-se no documento, assinado pelo secretário de Estado da Saúde, "a decisão sobre a utilização de dispositivos médicos de uso único reprocessados deve avaliar o custo-efetividade dessa prática, quando realizada em condições adequadas de qualidade e segurança, bem como ter em conta os custos diretos e indiretos e o seu impacto ambiental".
Para Manuel Valente, o "reprocessamento dos Dispositivos Médicos de Uso Único representa um verdadeiro atentado à saúde dos doentes". E alerta que "os dispositivos médicos invasivos, pelas suas características de desenho, fabrico e utilização no procedimento cirúrgico – são introduzidos no interior do corpo – são os que determinam riscos incontroláveis para os doentes".
O vice-presidente da AESOP teme ainda que as consequências desta prática possam ser "desastrosas" para os doentes e "com total prejuízo para o processo de cuidados", pelo que "os enfermeiros de sala de operações reservam-se o direito de preservar a segurança e de não colaborar em processos que visem o reprocessamento" dos dispositivos.
Fonte Correio da Manhã
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