Um terço das mulheres que engravidam após a cirurgia bariátrica tem maior
risco de abortar por deficiências nutricionais. A recomendação é que a gravidez
só ocorra depois de 18 meses da operação.
Os dados são de uma revisão de estudos publicada na revista científica
"Obstetrician and Gynaecologist" e foram corroborados por outra pesquisa da
Santa Casa de São Paulo, com 12 gestantes, divulgada nesta semana.
Nas gestações que ocorreram antes dos 18 meses, 31% terminaram em perdas
espontâneas. Após esse prazo, os casos de aborto ficaram em 18% (dentro do
esperado em primeiras gestações).
Editoria de Arte/Folhapress |
Segundo o cirurgião Carlos Malheiros, chefe do ambulatório de cirurgia da
Santa Casa, no primeiro ano após a cirurgia há um risco grande para o feto por
conta da desnutrição que a operação causa.
"Há uma mutilação no aparelho digestivo. No dia que engravidar, a mulher
precisa ter uma nutricionista como melhor amiga. É preciso encontrar um ponto de
equilíbrio que possibilite que o feto cresça adequadamente e a mãe não ganhe
muito peso."
Segundo o endocrinologista Lucas Moura, do Hospital das Clínicas, a mulher só
deve engravidar quando a perda de peso estiver estabilizada e seu metabolismo,
adaptado à nova rotina.
"Nos dois primeiros anos pós a cirurgia, a mulher ainda está perdendo peso de
forma acelerada."
Cirurgias que desviam o fluxo dos alimentos e excluem partes do estômago e
intestino dificultam a reposição de nutrientes. O duodeno (início do intestino)
é responsável pela absorção de vários deles, como, cálcio, vitamina B12 e ácido
fólico.
Segundo Moura, o corpo leva um tempo para normalizar o suprimento de
vitaminas e outros nutrientes. É comum haver anemia por deficiência de ferro.
Isso causa menos oxigenação sanguínea na gestante, o que prejudica o
desenvolvimento do feto.
A falta de ácido fólico também pode levar a deficiências no tubo neural do
bebê.
Além de abortos, outro risco nessas gestações é a prematuridade do bebê.
Alguns estudos mostram que o risco de prematuridades antes dos 18 meses chega a
50%. Naquelas que engravidaram dois anos após a cirurgia, o risco fica em torno
de 20%.
O período de pós cirurgia também afeta a contracepção porque as pílulas orais
não são adequadamente absorvidas pelo organismo.
"A maioria dos contraceptivos usa uma dose mínima de hormônios para bloquear
a ovulação. Esse mínimo pode não ser absorvido depois da cirurgia." Por isso,
segundo Moura, a recomendação é que as mulheres usem DIU ou anticoncepcional
implantável ou injetável.
"E tem que ficar em cima, fazendo exames regulares."
Fonte Folhaonline
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