Depois que a Herbalife, empresa que fabrica suplementos nutricionais, começou a
produzir na Califórnia o pó para preparo de sua bebida mais vendida, no início
de 2011, seus executivos foram obrigados a duplicar seus esforços para combater
a causa de uma grave ameaça à segurança do produto.
A companhia havia detectado minúsculos fragmentos de metal no shake Formula 1
que havia acabado de sair da linha de produção. Ao fim de cinco semanas de
investigação, a empresa informou ter resolvido essa questão e um segundo
problema relacionado à contaminação com metais . A Herbalife também insiste que
não existe nenhuma evidência de que quaisquer produtos contaminados tenham saído
da fábrica e, por consequência, chegado à casa dos consumidores.
No entanto, depois que a fábrica voltou a produzir em ritmo normal, ficaram
dúvidas quanto ao cumprimento das normas gerais e dos padrões de segurança
industrial.
"Estou enojado", disse Gary Gary Swanson, vice-presidente global de qualidade
da Herbalife, em uma conversa privada uma semana depois que a empresa reiniciou
sua produção, em fevereiro de 2011, de acordo com documentos aos quais o New
York Times teve acesso.
Referindo-se às leis da indústria de suplementos dietéticos para as práticas
de boa fabricação, implementadas pela Administração Federal de Alimentação e
Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), Swanson disse ainda nos documentos: "Se
esse lugar (fábrica) fosse auditado no mês que vem, estaríamos em sérios
problemas".
As circunstâncias que cercam estes problemas - e a solução dada pela
Herbalife - agora estão sendo verificadas. E o novo escrutínio está ligado a uma
batalha feroz que se desenrola em Wall Street.
Perdas e ganhos
A Herbalife está no centro de uma briga
entre bilionários. William A. Ackman, gerente do fundo Pershing Square Capital
Management, apostou US$ 1 bilhão que as ações iriam cair e declarou que a
companhia funcionava como um esquema de pirâmide financeira, afirmação que a
Herbalife desmentiu energicamente. Ackman teve prejuízos de cerca de US$ 400
milhões à medida que outros grandes investidores, incluindo Carl C. Icahn e o
fundo de George Soros, investiram pesadamente na ação, favorecendo sua alta.
Ackman, como parte de sua campanha contra a Herbalife, recorreu ao
procurador-geral do Estado de Nova York e à SEC (Securities and Exchange
Commission, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil) na
esperança de convencer as autoridades a processar a companhia.
Agora, o procurador geral ordenou a um ex-funcionário da Herbalife que
compareça em juízo para apresentar documentos referentes ao problema do produto,
afirma uma fonte da empresa. Os documentos incluem e-mails, apresentações e
relatórios de operações. O ex-funcionário obteve os documentos antes de deixar a
companhia, em 2011.
Com a finalidade de beneficiar-se com a delação premiada da SEC, ele entrou
em contato com a FDA no ano passado antes de recorrer a Ackman, que se ofereceu
para pagar as custas com advogados.
Dúvidas
Quando surgiram as preocupações com a contaminação
por metal, a Herbalife procurou sanar o problema, dizem os documentos. Mas,
segundo consta, grande parte do produto da linha suspeita de contaminação não
foi destruída, conforme recomendam alguns especialistas em segurança de
produtos.
O problema teria sido causado por uma tela de aço inoxidável defeituosa, que
soltava pequenos fios. Embora um ímã devesse atrair todo fragmento de metal no
produto, o aço da tela "não era magnético".
A companhia determinou a quarentena do produto e tentou salvar o pó fazendo
novas inspeções para garantir que não ele continha nenhum fragmento de metal.
Segundo a empresa, só foi liberado para a venda o produto aprovado na
inspeção.
"Se ela tinha motivos para crer que o produto estava contaminado, deveria
tê-lo destruído", disse Bill Marler, advogado especialista em segurança de
alimentos que moveu uma série de importantes ações relacionadas à segurança dos
alimentos. "Eu trabalhei em vários casos deste tipo e esse comportamento não faz
o menor sentido para mim."
Por outro lado, não há nenhuma exigência para que se destrua um produto
potencialmente contaminado, disse Christopher S. D'Angelo, presidente do grupo
de responsabilidade decorrente de produtos, do escritório de advocacia americano
Montgomery McCracken Walker & Rhoads. "Se o produto atende a todas as
especificações e normas, não há nenhuma razão para que ele não possa ser
vendido", explica.
Estadão
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