Rio de Janeiro – De cada 100 fraturas de face em crianças no país, 95 ocorrem
na faixa etária entre 6 anos e 13 anos de idade, disse ontem (20) à
Agência Brasil o cirurgião buco-maxilo-facial Sylvio de Moraes,
chefe do Serviço de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial do Hospital de São Francisco
da Penitência. A unidade foi visitada pelo papa Francisco durante a Jornada
Mundial da Juventude, em julho passado, no Rio de Janeiro.
O dado faz parte de um levantamento sobre trauma facial em crianças
brasileiras que será apresentado e discutido por especialistas durante o
Congresso Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, iniciado
hoje e que se estenderá até o próximo dia 24, na capital fluminense.
Moraes informou que um percentual menor de traumas é registrado entre
crianças até 5 anos de idade, porque, em geral, nessa fase, as crianças estão
muito próximas dos pais. “Elas são muito mais vigiadas, normalmente ainda não
estão em escolas. Por isso, são, naturalmente, mais cercadas de zelo”. Isso não
significa, entretanto, advertiu o médico, que as crianças acima dessa idade não
sejam cuidadas com o mesmo zelo. “Mas estão na escola, na rua, e são mais
passíveis de traumas, de maneira geral”.
Segundo relatou Sylvio de Moraes, 35% dos traumas de face decorrem de
acidentes domésticos, que acontecem dentro de casa, como quedas de pequenas
alturas (da cama, do beliche, do sofá, do velocípede ou da bicicleta). “São as
causas mais frequentes nas crianças, em geral”. Violência externa, a maioria
resultado de atropelamentos, representa 20%.
A estatística mostra ainda que 15% das fraturas de face provêm de colisões de
veículos. O percentual melhorou, disse Moraes, com o uso da cadeirinha e do
cinto de segurança nos carros para as crianças. Já 10% dos traumas são quedas
atípicas que acometem mais as crianças de famílias pobres, envolvendo quedas de
laje, de tanque ou de muro, mostra o estudo. Os 20% restantes englobam fraturas
causadas por agressão, acidentes com armas de fogo, quedas de varandas e
escadas, acidentes em elevadores, acidentes de motocicleta nos quais a criança é
transportada sem a proteção adequada.
Sylvio de Moraes esclareceu que embora 65% da totalidade das fraturas de face
ocorram fora de casa e 35% dentro das residências, “na distribuição percentual,
a causa isolada de maior expressão dos traumas em crianças é o acidente
doméstico”. Enfatizou que isso torna o acidente dentro de casa “percentualmente
mais expressivo”.
Os especialistas mostram preocupação com o aumento de traumas de face em
crianças verificado nos últimos anos. A época de férias, quando os pais estão
mais relaxados com os filhos, cria uma atmosfera de risco, definiu o
especialista. Outro fato que contribui para o crescimento dos casos de fraturas
é a vida cotidiana que tem imposto às mulheres um peso grande na sociedade. “A
mulher é multitarefa. É mãe, é esposa, é funcionária, chefe, dona de casa. O que
ocorre é que as mulheres têm saído mais cedo para trabalhar e as crianças têm
ficado mais com cuidadores”.
O levantamento indica ainda que as crianças que ficam mais tempo sem a
presença dos cuidadores maternos estão mais expostas a acidentes. O que poderá
melhorar isso é a conscientização da sociedade como um todo, indicou. “É uma
questão de educação e apelar para que as pessoas tenham um cuidado maior”.
Para eventuais casos de traumas de face, a recomendação de Sylvio de Moraes é
que os pais, ao chegarem com os filhos em um hospital, solicitem o atendimento
de um especialista buco-maxilo-facial, porque isso pode contribuir para a
recuperação das crianças sem sequelas. Na maioria das vezes, crianças nessa
situação são encaminhadas para pediatras que não têm formação cirúrgica ou não
detêm conhecimento nessa área, que é especializada, disse. “A avaliação de um
cirurgião buco-maxilo-facial é fundamental e, sempre que for possível, a
estratificação do trauma deve ser acompanhada por exames de imagem específicos,
como tomografia”, sugeriu.
Moraes ressaltou que o trauma de face de uma criança requer uma força muito
maior do que as fraturas que ocorrem em um adulto, porque os ossos da criança
são mais resilientes, ou seja, mais macios. Por isso, declarou que “não é
frequente que traumas de baixa energia causem fraturas em crianças”. Durante o
congresso, os médicos pretendem aperfeiçoar o diagnóstico e o tratamento para
traumas faciais, além de “discutir opções terapêuticas mais modernas, menos
sofridas e menos onerosas” para os pacientes.
Agência Brasil
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