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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Brasil desconhece total de contaminados por meningite do caramujo

Thinkstock: Caramujo gigante africano, espécie invasora que se alastrou pelo País,
é um dos hospedeiros de verme de novo tipo de meningite
Embora parasita esteja em todo o País, falha em diagnóstico faz com que doença emergente tenha poucos casos registrados 

Especialistas alertam sobre a propagação de um novo tipo de meningite, transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo gigante africano. A meningite eosinofílica já foi diagnosticada em seis Estados – Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. São 34 casos confirmados e uma morte desde 2007, mas especialistas afirmam que o número de casos deve ser muito maior, visto que o verme e seus hospedeiros (ratazanas, moluscos e, inclusive o caramujo gigante africano) já foram encontrados, inclusive, em zonas urbanas do País.

“Não constitui uma epidemia, mas a expansão deste verme está em quase todo o País”, diz o Carlos Graeff-Teixeira, um dos autores da pesquisa publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, que tem o objetivo de chamar a atenção de profissionais de saúde para a doença.

Os médicos consideram que a doença é emergente no Brasil e tem uma relação direta com a propagação de caramujos africanos (Achatina fulica) no território nacional. A espécie invasora chegou ao país provavelmente em embarcações e, sem predadores, rapidamente se alastrou. “O caracol está presente de Manaus até o sul de Santa Catarina. Só em alguns pontos do País não há e não se sabe por que ele não está presente no Rio Grande do Sul”, diz Teixeira.

Está por toda a parte
A ocorrência de meningite eosinofílica pode ser em número muito maior que o registrada visto que apenas 8% dos casos conseguem comprovação do parasita. “Temos só a ponta do iceberg. Não temos a real dimensão dos contaminados por este tipo de meningite no Brasil. Mas é importante destacar que temos agentes e hospedeiros circulando, inclusive, nas zonas urbanas”, diz o epidemiologista Pedro Luiz Silva Pinto do Instituto Adolfo Lutz em São Paulo.

Os especialistas aconselham que, embora a doença também seja conhecida como meningite benigna, por ter taxa de letalidade de apenas 2%, é necessária a conscientização da população, além de medidas de prevenção, como desratização e a eliminação dos caramujos.

Apesar da baixa letalidade, a doença traz problemas consideráveis. Na maioria dos casos, os contaminados são crianças e estudos realizados na Ásia, onde a incidência é maior, comprovaram a tendência das vítimas desenvolverem déficit cognitivo.

A meningite eosinofílica é uma doença causada pelos vermes Angiostrongylus cantonensis e Angiostrongylus costaricensis. A ratazana abriga o verme adulto, que se reproduzem dentro dela, e os moluscos são os hospedeiros intermediários. Eliminadas nas fezes dos roedores, as larvas do parasita são ingeridas pelos caramujos. Dentro dos moluscos as larvas vão crescer, atingindo a fase em que se tornam capazes de infectar animais vertebrados.

Clinicamente, a meningite eosinofílica apresenta os mesmos sintomas da meningite viral, que é mais comum e tem cura espontânea, e a meningite bacteriana, muito mais grave e letal e com tratamento à base de antibióticos. Os sinais mais comuns são dor de cabeça, rigidez na nuca e febre.

Silva Pinto explica que normalmente quando o paciente chega ao hospital apresentando os sintomas de meningite a primeira coisa que se faz é verificar se se trata de meningite bacteriana, a mais grave. “O diagnóstico é dirigido para isto. Se não for bacteriana, pode ser viral ou catalogada como meningite atípica e deixa-se de investigar”, diz. Normalmente, nos casos de meningite eosinofílica, quando a evolução da doença não é grave, em 20 dias os sintomas desaparecem e a investigação é cessada.

Diferente de países da Ásia e do Pacífico – onde também são registrados casos da doença –, no Brasil não existe a cultura de comer moluscos crus, mas o parasita existe. A infecção costuma, então, ocorrer por meio da ingestão acidental destes animais ou do muco liberado por eles em verduras, legumes e frutas cruas ou sem a higienização adequada.

Aposta letal
O primeiro caso registrado no Brasil foi em 2006, quando um tio e um sobrinho de Cariacica (ES) foram hospitalizados após disputarem quem comia mais caramujos crus na noite de ano novo. O vencedor da disputa morreu dias depois. “A taxa de letalidade deste tipo de meningite é de 2%, mas tudo vai depender da quantidade de larva ingerida pelo paciente”, explica Silva Pinto.

Ele relembra que, em 2010, quatro pessoas de uma mesma família apresentaram sintomas de meningite em Monguaguá (SP), mas não se conseguiu provar a existência do verme. “Outras duas crianças tiveram a doença em 2012 e em 2013, na zona norte da cidade de São Paulo. Foi comprovado a existência do anticorpo, mas a vigilância sanitária não fechou o caso”, diz.

Em humanos infectados, as larvas penetram nas paredes do intestino, têm acesso à corrente sanguínea e imigram para o sistema nervoso central. A presença das larvas nas meninges resulta em inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal, fazendo com que a vítima tenha rigidez na nuca, dor de cabeça e febre.

iG

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