A restrição ao fumo em lugares fechados tem criado um novo perfil de fumante.
A prevalência do chamado fumante leve, ou "social" --que fuma de um a quatro cigarros diários e em dias alternados-- tem aumentado, enquanto a do fumo pesado e frequente diminuiu.
Essa é a conclusão de uma pesquisa que analisou os hábitos relacionados ao fumo de adolescentes americanos por 18 anos. A cada ano, de 10 mil a 16 mil jovens responderam a questionários.
Em 1991, 67% dos adolescentes fumantes se encaixavam no perfil "social". Em 2009, esse percentual subiu para 79%. A proporção de fumantes "pesados" (mais de 11 cigarros por dia) caiu de 18% para 8%.
O estudo do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) foi publicado no periódico "American Journal of Preventive Medicine".
No Brasil, a mesma tendência já tem sido observada por especialistas em tabagismo.
A cardiologista Jaqueline Issa, diretora do programa de tabagismo do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo), afirma que tem visto fumantes com esse perfil em sua prática clínica.
"A restrição social e familiar reduziram o consumo de cigarros, e esse novo fumante se adaptou às mudanças."
DEPENDÊNCIA
Mas Issa afirma que o menor consumo de cigarros não impede que esse fumante seja dependente, com muita dificuldade de parar de vez.
"Hoje só recebo pessoas que fumam pouco, cerca de dez cigarros por dia. Como ficou difícil fumar em casa e no trabalho, elas já eliminaram os cigarros que eram fumados automaticamente. Por isso, esses dez são muito bem fumados, e é muito difícil abandoná-los", conta.
Silvia Cury, psicóloga e coordenadora do programa de tabagismo do HCor (Hospital do Coração), também afirma que a forma de fumar mudou muito com a lei antifumo.
"Hoje, há muitos adultos que procuram tratamento para largar o cigarro, ainda que só fumem à noite ou quando vão para a balada, em geral porque associam o fumo ao álcool. Eles fumam com pouca frequência, mas, às vezes, em maiores quantidades."
Ela afirma que não há dados sobre o fumo entre jovens no Brasil, porque raramente eles procuram tratamento.
"Muitos ainda acham que fumar pouco não faz mal e não têm a percepção do perigo. Mas depois eles se acostumam ao fumo e aumentam as responsabilidades e o número de cigarros diários."
MENOR RISCO
A cardiologista Jaqueline Issa acredita que esse perfil de fumante será cada vez mais comum e, com isso, o impacto e o risco de doenças associadas ao tabagismo devem ser reduzidos.
No entanto, ela afirma que mesmo o baixo consumo faz mal à saúde. "O risco é menor, mas existe.
Diferentemente do álcool, por exemplo, não existe faixa de tolerância ou dose segura."
Cury concorda. "Se a pessoa fuma só um cigarro, o risco de doenças como câncer de pulmão existe."
Editoria de arte/folhapress | ||
Fonte Folhaonline
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